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Por Tatiane Paula – Psicóloga Clínica, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
Ser mãe solo é viver um paradoxo diário entre amor incondicional e exaustão extrema. É carregar sozinha a responsabilidade afetiva, financeira e prática da criação dos filhos, muitas vezes sem rede de apoio. Como psicóloga clínica, escuto em consultório as dores silenciosas dessas mulheres, que seguem em frente mesmo quando o mundo desaba. E é sobre elas que precisamos falar com responsabilidade e acolhimento.
Acolher a vulnerabilidade sem culpa
Na maternidade solo, a vulnerabilidade muitas vezes é silenciada pela culpa. Há uma cobrança social que romantiza a força dessas mulheres e nega seu direito de falhar ou pedir ajuda. A Terapia Cognitivo-Comportamental nos convida a desafiar esses padrões disfuncionais: reconhecer que sentir medo, cansaço ou solidão não diminui a potência de uma mãe — apenas a humaniza. Quando uma mulher se autoriza a sentir, ela não se fragiliza: ela se fortalece.
Estratégias práticas para cuidar da saúde mental
Não há fórmula mágica, mas há caminhos possíveis. Autocuidado não precisa ser caro ou demorado: pode começar com pausas conscientes no dia, respirações intencionais, escolha de palavras mais gentis consigo mesma e delimitação de pequenos espaços para existir além da maternidade. A TCC propõe pequenas mudanças de comportamento e pensamento que, quando consistentes, transformam a forma como essas mães enfrentam a rotina.
Impacto emocional nos filhos
O fator determinante no desenvolvimento emocional de uma criança não é a estrutura familiar, mas a qualidade do vínculo estabelecido. Mães solo que oferecem escuta, presença emocional e consistência são plenamente capazes de criar filhos emocionalmente saudáveis. A ausência de um segundo cuidador não define o futuro emocional da criança — a presença afetiva de quem está, sim.
Efeitos da sobrecarga emocional
Mães que assumem sozinhas todas as demandas da parentalidade podem apresentar sintomas de sobrecarga crônica, como ansiedade, irritabilidade, insônia, sentimento de inadequação e até quadros de burnout. O alerta aqui é para que essas mulheres não precisem "dar conta de tudo" para se sentirem válidas. É preciso normalizar o pedido de ajuda e a construção de uma rede de suporte, mesmo que fora do círculo familiar.
A solidão da mulher que cuida de todos, menos de si
A solidão relatada por mães solo não é ausência de gente, mas de troca genuína. É comum que essas mulheres sejam vistas apenas como mães — e não como pessoas que também têm desejos, projetos e necessidades afetivas. Trabalhar essa solidão passa por criar espaços de pertencimento e identidade: em terapia, em grupos de apoio, ou em vínculos onde possam ser vistas além da função materna.
Como sociedade, precisamos parar de aplaudir apenas a força e começar a validar o cansaço. Mães solo não precisam de pedestal — precisam de suporte, escuta e políticas públicas que reconheçam essa jornada que é, sim, potente, mas também profundamente desafiadora.
Psicóloga Clínica
@tatianepaula.psi