Com direção de Wallyson Mota e dramaturgia de Pablo Manzi, espetáculo cria uma reflexão sobre a importância da democracia e sobre quem pode exercer a cidadania em nossa sociedade
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Créditos: Matheus Brant |
Em uma reflexão crua e irônica sobre as ideias de civilização e barbárie, o Coletivo Labirinto estreou em 2022 Onde Vivem os Bárbaros, com direção de Wallyson Mota e dramaturgia de Pablo Manzi. E agora, no contexto das comemorações da primeira década de trajetória do grupo, o espetáculo reestreia e ganha novas apresentações nos teatros da prefeitura de São Paulo a partir de abril.
Ao longo deste semestre, a montagem percorrerá todas as regiões da cidade, começando pelo Teatro Paulo Eiró, de 18 a 20 de abril. Em cena, estão Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota.
As novas sessões de Onde Vivem os Bárbaros estão inseridas dentro do projeto “Pés-Coração: A América Latina Como Caminho”, em que o Coletivo Labirinto celebra sua pesquisa sobre a dramaturgia latino-americana contemporânea.
As atividades são possíveis graças ao apoio recebido pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo - Edição 43. Além da circulação, o projeto abarca leituras encenadas e laboratórios de criação que serão desenvolvidos ao longo de 2025.
Onde Vivem os Bárbaros apresenta um debate cênico sobre as relações entre civilização e barbárie em nosso dias, num processo social de esfarelamento das democracias através dos silenciamentos e das manifestações de violência.
A obra conta a história de três primos que, depois de vários anos sem se ver, decidem se encontrar no Chile, em 2015. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida por realizar ações de estabelecimento da democracia em zonas de conflito, se vê envolvido no estranho homicídio de uma jovem ligada a movimentos neonazistas. Este fato desencadeia atitudes inesperadas das personagens e uma discussão sobre a ideia que cada uma constrói sobre a outra, que culmina na deflagração das diferentes formas de violência entre os convidados.
“A obra apresenta uma sociedade que busca respostas rápidas para assuntos complexos, mesmo que para isso se arrisque pelo terreno das injustiças e se expresse por gestos inequívocos de silenciamento do que lhe é diferente – entendido então como um inimigo”, conta o diretor Wallyson Mota.
Ainda segundo o encenador, o espetáculo promove - através de uma situação ficcional - uma espécie de ágora contemporânea sobre vários pontos de nossa vivência política, social, histórica e até mesmo filosófica. “Essa ideia de que uma certa assembleia pode surgir ao redor da narrativa só é possível em sua plenitude no teatro. Isso porque o teatro é um espaço de comunhão, um lugar onde uma coletividade se agrupa ao redor de algo ou de uma ideia, onde podemos compartilhar sensações, pensamentos e emoções através da simples presença dos corpos”, acrescenta.
Sobre a construção da encenação, o diretor explica que a peça é dividida em três partes. Na primeira, um prólogo que se passa na Grécia no século 5 a.C., época conhecida como o berço da civilização ocidental e do pensamento democrático. Na segunda temos o Chile, em 2015, com algumas situações que provocam reflexões e discussões sobre essa mesma democracia, apontando alguma noção de decolonialidade.
Por fim, o terceiro momento se passa em 2022, no Brasil, quando o país se viu defronte ao fantasma de ameaça às instituições democráticas e à liberdade do pensamento dissonante, durante as eleições presidenciais e parlamentares daquele ano.
Escrita no Chile, a peça apresenta uma ampla base de reflexão para traços determinantes de nosso percurso social, tais como a normalização e a validação da violência dentro de contextos supostamente democráticos.
O texto traz ainda uma oportuna reflexão sobre o arquétipo do bárbaro. “Bárbaro é aquele que não é cidadão. Por esse viés, é o que está à margem, fora das premissas civilizatórias, o que é visto como bruto, sujo, selvagem. É o que não habita a polis, o que não tem direito de exercer ação sobre o Estado instituído. Mas o que seria uma sociedade civilizada e o que seria uma sociedade bárbara? Acredito que o ponto que mais nos interessa em tudo isso é: quem pode ocupar os espaços de uma pressuposta cidadania hoje? Quem sempre ocupou esses lugares e quem segue sendo apartado/a deles?”, questiona o encenador.
Mota ainda conta que a proposta do grupo não é propor uma reflexão sobre a democracia no sentido de desmoralizá-la. “Queremos falar sobre o entendimento total de sua importância e da constatação de que ela só existe de fato quando as mais diversas pessoas (seja pelo recorte de classe, raça ou gênero) podem usufruir de suas benesses e interferir no seu funcionamento. A democracia de fato só existe quando ela é praticada por todos os setores da sociedade. Por isso, ela é um exercício coletivo e público, que deve ser praticado e desenvolvido a todo instante, para que não deixe de existir”, finaliza.
Sobre o Coletivo Labirinto
Fundado em 2013, o Coletivo Labirinto é um núcleo de pesquisa e criação cênica formado por artistas que transitam entre direção, atuação, performance e produção, a fim de investigar as relações das pessoas com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea.
Entre os trabalhos estreados pelo grupo, estão “Sem_Título” (2014), “Argumento Contra a Existência de Vida Inteligente no Cone Sul” (2019), “Onde Vivem os Bárbaros” (2021/2022) e “Mirar: Quando os Olhos se Levantam” (2022).
Ficha Técnica
Direção: Wallyson Mota
Dramaturgia: Pablo Manzi
Tradução: Wallyson Mota
Elenco: Abel Xavier, Carol Vidotti, Ernani Sanchez, Ton Ribeiro e Wallyson Mota
Assistente de direção: Carolina Fabri
Cenário e figurino: Lu Bueno
Iluminação: Matheus Brant
Visagismo: Fábia Mirassos
Concepção Sonora: Gregory Slivar
Cenotécnico: Armando Junior
Aderecista: Jésus Seda e Matias Arce
Designer Gráfico: Renan Marcondes
Fotos: Mayra Azzi e Matheus Brant
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Produção: Corpo Rastreado – Leo Devitto e Lucas Cardoso
Realização: Coletivo Labirinto e Cooperativa Paulista de Teatro
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Mais informações em: www.coletivolabirinto.com.br
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Sinopse
Depois de anos, três primos se reencontram. O anfitrião, diretor de uma ONG reconhecida, revela estar envolvido em um estranho assassinato, fato que desencadeia manifestações de violência entre os convidados. Este encontro aparentemente familiar torna-se cada vez mais terrível com o aparecimento de personagens que vão agravar as ideias que cada um construiu sobre o outro, sobre o inimigo.
Serviço
Onde Vivem os Bárbaros, do Coletivo Labirinto
Classificação: 14 anos
Duração: 75 minutos
Teatro Paulo Eiró
Endereço: Av. Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, São Paulo
Quando: 18 a 20 de abril (sexta e sábado às 21h, domingos às 19h)
Quanto: Grátis
Ingressos na bilheteria 01h antes do início das sessões