Livremente inspirado no clássico “O Rinoceronte”, de Eugène Ionesco, “Os Javalis”, do dramaturgo baiano Gil Vicente Tavares, traz à pauta atuais questões sociais de maneira irreverente e bem humorada, apoiado em um contexto contemporâneo, numa linguagem atemporal. Encenado pelos atores Emiliano d’Avila e Rafael Medrado, o espetáculo é marcado pelo ritmo intenso e pelos momentos de humor, que vão do ácido ao patético. A história surpreende ao confrontar dois personagens expondo-os de maneira absurda e extraordinária às mais diversas condições corriqueiras: medo, loucura, dúvida, insegurança e solidão.
Em “Os Javalis”, um homem solitário tem sua casa invadida por um pretenso vendedor que, desesperado, anuncia o fim da humanidade, segundo ele devastada por javalis. Inicialmente desacreditado, o dono da casa começa a ser levado pelo discurso do vendedor e por eventos estranhos que acontecem em sua casa. A trama é conduzida por uma potencial ameaça que vem de fora, mas que em momento algum se revela ou é confirmada. Desconstruindo e edificando questões, essa situação entre tensão e humor é o estopim para as transformações que encaminharão ambos os personagens a caminhos surpreendentes.
Emiliano, que também assina a direção da montagem, evidencia a atualidade da trama que destaca o perigoso e potente poder de transformação e coerção de um discurso: “É uma obra que não propõe ideias ou respostas prontas e que permite aos espectadores os mais variados níveis de interpretação. Numa leitura sociológica, o texto faz uma crítica ao terrorismo - que amedronta e coage - e ao conformismo que, criando condições de submissão a uma ordem absurda, transforma o homem em uma verdadeira marionete. Inerte, ele renuncia àquilo que lhe é mais essencial e que o diferencia das demais espécies animais: a capacidade de raciocínio”, afirma.
Em consonância com o jovem diretor, para Gil Vicente, o texto questiona a evidente histeria de ideias, notícias e ameaças; e a perda de referências e identidade do homem contemporâneo. “É assustadora a fragilidade intelectual das pessoas frente a notícias completamente estapafúrdias, ilógicas e equivocadas, proliferadas principalmente em redes virtuais, e suas respectivas reações de crença, adesão e aceitação”, conclui Gil.
SERVIÇO
Temporada: 17 de maio a 15 de junho de 2014
Horário: sextas e sábados às 20h30 / domingos às 20h
Local: Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea – Rua Padre Manoel Franca, nº240, Gávea – Rio de Janeiro / Informações (21) 2274-7722)
Valor: R$ 40,00 (inteira)
Classificação: 14 anos
Capacidade: 120 lugares