Cultura - Teatro

Peça teatral Maldito Benefício

14 de Maio de 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Arranca Tião com a bola dominada. Esse menino tem futuro. Esse menino tem personalidade. Vem com a bola, passa o primeiro, invade a área. A torcida pede pênalti. Mas Tião caiu sozinho. Wanderley Nogueira, o que é que só você viu...? No ritmo acelerado da locução esportiva, a voz do narrador José Silvério chama o comentarista durante o espetáculo MALDITO BENEFÍCIO. Texto de Leonardo Cortez(indicado ao Prêmio Shell 2010 por Rua do Medo), direção de Marcelo Lazzaratto, a peça estreia em circuito comercial dia 16 de maio, sexta-feira, na Sala Jardel Filho (321 lugares) do Centro Cultural São Paulo, depois de se apresentar na zona Leste e pelo Interior do Estado, em uma produção do SESI.  A temporada vai até 29 de junho.

Tragicomédia em um ato, o espetáculo gira em torno de um jogador de futebol (Tião, interpretado por Leonardo Cortez), que, ao sofrer uma contusão, vê arruinado seu sonho de se tornar a maior promessa do esporte brasileiro. No início da carreira, ele tem de largar o futebol e passa a dirigir o táxi do cunhado (Nunes, Daniel Dottori). Como pano de fundo, a clássica problemática da sociedade brasileira: ferrado na vida, Tião ainda precisa ajudar o pai (Nelson, Ricardo Côrte Real), velho aposentado, na fila do SUS por um transplante, e dar conta das futuras despesas com a mulher grávida (Teresa, Glaucia Libertini).

O conflito vai de desenvolvendo a partir do momento em que Nelson recebe da Previdência Social um comunicado informando a concessão de um benefício acumulado. A grana extra poderá solucionar todos os problemas financeiros do filho taxista. No entanto, colocar a mão no dinheiro não será fácil. A doença terminal pode impedir o acesso à bolada, o que desencadeia nos membros da família uma série de comportamentos moralmente reprováveis.

Na história do jogador de futebol frustrado, que se ferrou e virou taxista, Leonardo Cortez faz uma síntese entre o épico, o dramático e o cômico. Seu personagem Tião narra como um locutor as desgraças de seu cotidiano. “Tião largou o futebol, mas o universo do esporte não saiu de dentro dele. Assim, seu pensamento se materializa em forma de locução esportiva”, explica Leonardo sobre o recurso do áudio usado no espetáculo.

As locuções foram feitas especialmente para a peça pelos profissionais do rádio José Silvério e Wanderley Nogueira. A parte sonora traz, ainda, a trilha de Daniel Maia, que expressa nas guitarras distorcidas a angústia do personagem principal. Para o diretor Marcelo Lazzaratto, essa estrutura acentua a carga dramática à medida que Tião vai contando a própria história com distanciamento.

“É um quiproquó dos melhores de Molière”, comenta Marcelo Lazzaratto, completando que Leonardo Cortez “descende da tradição de Molière, Martins Penna, Plauto e Goldone, que traduz a realidade sempre com acidez, com personagens pessoas comuns capazes das maiores sacanagens dentro da própria família”.

Lazzaratto optou por não reforçar o realismo na montagem. Para destacar o texto e trabalho dos atores, o diretor concebeu a encenação no interior de um táxi. “Optei pelo esvaziamento do cenário”, conta, informando que cortou ao meio um Alfa Romeo branco ano 73. Um único elemento é usado para construir a cena, com economia de recursos para retratar os três ambientes. De frente para a plateia, o veículo funciona como o próprio táxi. De lado, com capô aberto, transforma-se em açougue. De trás, é a sala da casa. O diretor sintetiza a ideia da montagem: “Inevitavelmente, os sonhos de Tião de ser um craque se reduziram a um táxi”.

Dramaturgo, ator e diretor, formado em Artes Cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da USP, Leonardo Cortez - que, com o espetáculo completa 15 anos da Cia dos Gansos, ao lado da mulher, a atriz Glaucia Libertini – usa o futebol como uma alegoria para discutir questões sociais, e faz uma comédia essencialmente brasileira e urbana.

 

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