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Após quatro meses de alta, exportação de sucata ferrosa cai 9,3% em julho, mas vendas não reagem

14 de Agosto de 2025

Siderúrgicas mantêm cautela no Brasil com quadro externo de dificuldades e a política de tarifas imposta pelo governo Trump

As exportações de sucata ferrosa, insumo usado na fabricação de aço, caíram em julho, após quatro meses de alta no ano, e alcançaram 84.119 toneladas, redução de 9,3% em comparação ao mesmo mês do ano passado, com 92.772 toneladas. Os dados do mês foram atípicos, devido às fortes exportações de julho de 2024, e não representam uma tendência até o final do ano.

Mesmo com a queda em julho, no período de sete meses os números das vendas externas ainda são positivos: 501.829 toneladas, um aumento de 14,8% em comparação às 437.046 toneladas de janeiro a julho de 2024, conforme dados divulgados pelo Ministério da Economia, Secex. 

O aumento das exportações no ano – referentes apenas aos volumes excedentes não consumidos internamente -- se deve principalmente ao baixo interesse na aquisição de sucata pelas usinas siderúrgicas no Brasil, que continuam a sofrer com política de tributação do governo dos EUA nas exportações de aço, segundo o Instituto Nacional da Reciclagem (Inesfa), órgão de classe que representa mais de 5,5 mil empresas recicladoras que praticam a economia circular, reinserindo materiais reciclados no ciclo da transformação.

“Apesar da alta em julho, a nossa expectativa é de que nos próximos meses o quadro não se altere e as exportações continuem sendo uma alternativa das empresas recicladoras às dificuldades internas”, afirma Clineu Alvarenga, presidente do Inesfa. O ano de 2025, conforme o Inesfa, deve fechar com forte aumento nas exportações de sucata ferrosa.

Segundo Alvarenga, “o Brasil não é um país para amadores. De um lado temos o governo que não protege o mercado do aço e permite importações excessivas da China e, de outro, as usinas siderúrgicas (aciarias) priorizando a compra de sucata ferrosa não processada, o que aumenta o custo operacional. Toda a sucata de exportação, ao contrário, é para pronto uso, um insumo que eleva a competitividade das usinas que o adquirem”, afirma.

De acordo com o Inesfa, vem ocorrendo aumento na importação de aço da China, país que tem elevadíssimos índices de emissão de gases de efeito estufa, aliado às dificuldades de exportação para os EUA, com as tarifas impostas pelo governo Trump. “Esse quadro vem desestabilizando todo o ciclo da transformação, com retração na produção interna de aço das usinas siderúrgicas e, consequentemente, queda na demanda por sucata ferrosa”, diz Alvarenga.

Tributação

Para tentar amenizar essa crise, o Inesfa continua empenhado no Senado Federal para aprovação do Projeto de Lei 1.800/2021, do deputado federal Domingos Sávio, que traz apensada a proposta do deputado federal Vinicius de Carvalho, visando isentar recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins na venda de materiais reciclados à indústria de transformação. O PL, já aprovado por todas as Comissões da Câmara dos Deputados, está em análise no Senado. Foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) da Casa e agora será avaliado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para em seguida ir à sanção presidencial.

A PEC da Reciclagem, por sua vez, que altera a Constituição Federal para assegurar ao insumo reciclado tributação inferior à incidente sobre os insumos virgens extraídos da natureza, também está avançando. Conforme Alvarenga, a PEC já tem mais de 120 assinaturas favoráveis de parlamentares, mas necessita de 171 para ser avaliada pelo Congresso. 

Reciclagem de materiais ferrosos no Brasil

Uma das principais consultorias do Brasil na área de metalurgia, entre outros segmentos, a MaxiQuim, deve concluir nos próximos meses estudo a pedido do Inesfa com informações atualizadas do setor de reciclagem de materiais ferrosos, tais como volume, geração, processamento.

“Assim como já fez para os recicladores de papel e plástico, a consultoria está levantando os dados do mercado de reciclados de ferro e aço. Os três estudos serão importantes como referência ao governo federal para instituir políticas públicas assertivas ao incremento da reciclagem e desenvolvimento da economia circular”, diz Alvarenga.

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