Marcelo Souza - Presidente do INEC - Instituto Nacional de Economia Circular - CEO Indústria Fox | Foto: Rafael Carvalho |
A data foi criada para conscientizar a população sobre a importância do descarte correto de resíduos. Atualmente, a economia circular não é mais apenas uma boa ação, mas sim uma necessidade crucial para o planeta.
Extra, Extra, Extra! O lançamento de um novo equipamento eletroeletrônico irá revolucionar sua rotina, proporcionando muito mais tempo para fazer o que realmente lhe dá prazer.
De forma geral, fomos impactados por propagandas como essa de maneira massiva, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, a presença dos eletrônicos no nosso cotidiano se intensificou ao longo das décadas.
Desde a invenção do telefone por Alexander Graham Bell em 1876, passando pela criação do rádio por Guglielmo Marconi em 1895, até a popularização dos computadores pessoais nos anos 1980, a tecnologia tem transformado a maneira como vivemos, trabalhamos e nos comunicamos. Hoje, é difícil imaginar a vida sem smartphones, tablets e redes sociais, que se tornaram ferramentas essenciais para a comunicação e o entretenimento. De fato, é inimaginável pensar em como era a vida antes dos eletrônicos, antes dos smartphones.
No entanto, com essa forte presença em nosso cotidiano, a produção de lixo eletrônico se tornou um dos grandes desafios da atualidade. Segundo um relatório da ONU, a produção de lixo eletrônico pela humanidade atingiu 62 milhões de toneladas em 2022, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Esse volume seria suficiente para encher 1,5 milhão de caminhões de 40 toneladas. Entretanto, apenas 22,3% desse total foi reciclado, o que revela uma lacuna significativa nos esforços de reciclagem. A previsão é que essa taxa de reciclagem caia para 20% até 2030, devido ao aumento do consumo e à obsolescência programada dos dispositivos eletrônicos.
O mais preocupante é que o restante do resíduo eletroeletrônico está sendo processado de forma inadequada ou em cadeias de reciclagem insuficientes, gerando um impacto ambiental tão grande quanto a presença dos eletrônicos em nossas rotinas.
O impacto ambiental do descarte inadequado de eletrônicos é alarmante. Esses resíduos contêm materiais tóxicos, como mercúrio, chumbo e cádmio, que podem contaminar o solo e a água, causando danos à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, a produção de lixo eletrônico contribui para a emissão de gases de efeito estufa, agravando as mudanças climáticas. A reciclagem adequada desses dispositivos é essencial para minimizar esses impactos e preservar os recursos naturais.
A legislação brasileira sobre a reciclagem de resíduos eletrônicos é um passo importante na direção certa. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010, estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, envolvendo fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores. A lei prevê a criação de pontos de entrega voluntária (PEVs) para o descarte adequado de eletrônicos e estabelece metas de reciclagem para os fabricantes. O Decreto nº 10.240/2020, que regulamenta a PNRS, define metas específicas para a coleta e reciclagem de resíduos eletrônicos, incentivando a logística reversa e a economia circular.
O Decreto nº 10.240/2020 estabelece metas progressivas para a implementação de pontos de coleta e volumes de resíduos eletrônicos a serem reciclados. Em 2019, havia apenas 70 pontos de coleta disponíveis no Brasil. Com o novo decreto, o país tem até 2025 para instalar 5.000 pontos de coleta, espalhados por 400 cidades que concentram 60% da população. Municípios com mais de 80.000 habitantes deverão ter um ponto de coleta a cada 25.000 habitantes. As metas de volume coletado e processado também são progressivas, começando com 1% em 2021, 3% em 2022, 6% em 2023, 12% em 2024 e 17% em 2025.
A reciclagem de eletrônicos não é apenas uma questão ambiental, mas também estratégica. A recuperação de metais valiosos, como ouro, prata e cobre, reduz a necessidade de mineração e a demanda por recursos naturais. Além disso, a reciclagem cria oportunidades econômicas, gerando empregos e promovendo inovação tecnológica. A conscientização e a educação ambiental são fundamentais para engajar a sociedade nesse processo e garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.
Os impactos econômicos da reciclagem de eletrônicos são significativos. Em 2019, o mundo produziu cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico, e a reciclagem desse montante poderia gerar aproximadamente US$ 250 bilhões. A reciclagem de uma tonelada de celulares usados, por exemplo, pode render até 130 kg de cobre, além de ouro e prata.
A economia circular, que inclui a reciclagem, oferece oportunidades para redução de custos de produção e materiais, além de abrir novas possibilidades de negócios e geração de empregos. Adicionalmente, a economia circular aumenta a resiliência econômica, tornando-a menos vulnerável a choques externos, como a escassez de recursos e a volatilidade dos preços.
Vivemos em uma era em que quase tudo está se tornando eletrônico. Como gosto de dizer, até o ioiô e o tênis do meu filho se tornaram objetos eletrônicos, o cigarro está virando eletrônico, e os carros estão cada vez mais eletrônicos. Precisamos nos debruçar sobre o tema e compreender que a implementação de uma economia circular é fundamental. Como mostram os relatórios da ONU, as demandas são crescentes e representam uma tendência. Portanto, a economia circular não é apenas uma boa ação, mas uma necessidade urgente.
Marcelo Souza - Presidente do INEC - Instituto Nacional de Economia Circular - CEO Indústria Fox | Foto: Rafael Carvalho |
Texto por: Marcelo Souza
Marcelo Souza é Presidente do INEC – Instituto Nacional de Economia Circular, CEO da Indústria Fox – Economia Circular e suas subsidiárias, Presidente do Conselho de Administração da Ilumi Materiais Elétricos, Conselheiro e Diretor de Meio Ambiente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.