Inteligência Artificial traz alternativas com rapidez, precisão e personalização, mas tecnologia deve ser auxiliar e exige uso racional para não limitar criatividade do arquiteto
Ferramentas de inteligência artificial estão ajudando a otimizar e agilizar projetos arquitetônicos | Foto: Envato |
Assim como já ocorre em diversas outras profissões, o uso da inteligência artificial vem se consolidando como uma tendência que promete revolucionar o futuro da arquitetura nas próximas décadas. Essa tecnologia tem se provado bastante útil ao oferecer alternativas com rapidez, precisão e personalização para os projetos. Ao trazerem maior agilidade para a realização das tarefas e serem capazes de antecipar possibilidades ao organizarem um imenso volume de informações ao mesmo tempo em que já apresentam soluções, as ferramentas de IA estão otimizando os processos, que demoravam muito mais quando eram executados manualmente pelos arquitetos.
Com uma evolução constante de suas ferramentas, a IA vem ajudando a simplificar as definições das concepções projetuais por meio de simulações, por exemplo, em duas ou três dimensões, o que permite a visualização, já no estágio inicial do plano de uma construção ou de uma reforma, das melhores escolhas possíveis para as edificações e as disposições do mobiliário nos espaços. E hoje há softwares com inteligência artificial que podem converter arquivos 2D em 3D BIM (sigla em inglês para Modelagem da Informação da Construção), em somente alguns segundos de processamento, ao usar apenas a foto da planta de um projeto, que passará a ser exibido em detalhes no formato tridimensional. Para completar, o BIM (Building Information Modeling) vai muito além disso ao fornecer um modelo digital de uma construção que contém uma série de dados relacionados a elementos, como materiais utilizados, estruturas, características térmicas, consumo energético, sistemas, custos, segurança e manutenção.
Há outras plataformas de IA que também estão sendo utilizadas por arquitetos, engenheiros e designers de interiores que usam o conceito de transformar texto em imagem, no qual o operador da ferramenta escreve o que deseja que seja gerado para ser visualizado em um projeto. E esses softwares com inteligência artificial permitem que isso ocorra por meio de comandos que podem ser dados facilmente, sem a ajuda de programas de computadores para promover ajustes.
Entretanto, a inteligência artificial ainda é vista na arquitetura com certa cautela, pois, embora proporcione ações inegavelmente úteis, deve ser usada como uma ferramenta auxiliar, de forma racional, para não limitar a criatividade dos arquitetos, cujo trabalho é insubstituível. Até porque a aplicação com sucesso da IA depende da condução humana bem direcionada.
A arquiteta Denise Moraes, diretora de criação e conceito da AKMX Arquitetura e Engenharia, empresa com 20 anos de experiência no mercado corporativo e empresarial, reconhece a importância da inteligência artificial como uma aliada para os profissionais, mas exalta que são fundamentais a experiência e os conhecimentos do arquiteto para captar quais são as carências dos locais e possibilidades projetuais mais adequadas para os usuários das edificações que serão construídas ou reformadas.
“A inteligência artificial é uma ferramenta útil, mas como um elemento para ajudar o arquiteto, cuja expertise e eficiência como profissional são os fatores mais importantes para o planejamento e a execução de um projeto bem-sucedido”, afirma Denise, lembrando que a criatividade é uma das essências da profissão e a qualidade do arquiteto precisa ser valorizada em primeiro plano.
“Novas rotinas de trabalho sempre poderão ser otimizadas com tecnologias que surgem a todo momento, mas nunca existirá uma receita pronta na arquitetura. O arquiteto sempre desempenhará um papel indispensável, mesmo que a inteligência artificial continue avançando de maneira expressiva”, completa.
Vícios negativos
O pesquisador e arquiteto Vinícius Juliani Pereira alerta, em sua dissertação de mestrado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, com o título “Alteridade digital no processo de projeto: estudo sobre a interação entre arquiteto e inteligência artificial”, publicado em 2021, que a utilização da IA de maneira cada vez mais autônoma pode produzir vícios negativos durante a elaboração projetual. O profissional enfatiza que, ao tomarem decisões ou auxiliarem no processo de escolha de decisões, as tecnologias podem produzir resultados enviesados. Para completar, Pereira também vê o risco de o uso extremo dessa tecnologia ser prejudicial aos profissionais a partir do momento em que deixa de ser auxiliar para substituir o trabalho humano.
“Vivemos o que aparenta ser um período limítrofe, no qual as interfaces eletrônicas poderão deixar de apresentar um comportamento inanimado e passar a interagir com humanos como um outro ser, digital e inteligente”, destacou Pereira no resumo de sua tese, na qual ainda alertou sobre as consequências perigosas de as companhias darem mais valor a um software do que aos profissionais de arquitetura ao executarem os seus projetos. O pesquisador enfatiza que é necessário existir uma interação equilibrada entre homem e máquina para que a tecnologia possa ser controlada e não se torne a parte dominante dos processos. O arquiteto ainda pontua que é preciso saber quando o potencial de uma tecnologia já acabou, para não virar refém de uma empresa ou de um conglomerado de empresas que desenvolve um software.