De repente você percebe algumas mudanças no comportamento do seu filho dentro de casa. As mudanças muitas vezes acontecem aos poucos, de forma sutil, de um jeito que que faz com que nós pais fingimos que não está acontecendo nada, porque é amedrontador imaginar que seu filho pode estar vulnerável em um mundo paralelo que você desconhece. Então parece mais fácil não entrar e não conhecer esse mundo.
Nós somos responsáveis pela segurança física, emocional e mental de nossos filhos. E não olharmos para dentro dos quartos deles, para dentro dos celulares deles, é negligência.
Essa semana uma reportagem sobre a rede social Discord, que vem conquistando cada vez mais crianças e adolescentes, chocou pais e educadores. Quando terminou a reportagem, eu fui abrir no meu celular. O Discord parece tão fofo, tão bacana, tão amigável. Mas por trás dessa imagem, crimes seríssimos acontecem, e nossos filhos, SIM, NOSSOS FILHOS, podem ser as vítimas, ou quem sabe, até mesmo os algozes.
Mudanças na personalidade de nossos filhos são normais conforme vão crescendo. Porém certas atitudes não podem ser normalizadas de forma alguma.
Quando eles se trancam em seus quartos horas a fio, vão dormir tarde porque estão na internet, passam a dissimular claramente quando são questionados, ficam mais calados do que o normal quando estão em família, interagem pouco em casa, e se tornam até um tanto quanto hostis, podem ser sinais de que muita coisa está acontecendo na vida do seu filho e você não tem a menor ideia do que.
Nessa reportagem recente, tanto os pais dos adolescentes criminosos, que agrediram, chantagearam meninas de 12, 13 anos de idade, quanto os pais dessas crianças adolescentes vítimas, nenhum deles sonhava que aquilo estava acontecendo.
E eu estou falando de crueldades sem tamanho. Inimagináveis para as idades daquelas pessoas. É uma dark web totalmente acessível, convidativa, que não escolhe classe social. Basta estar ali, fragilizada para se tornar uma vítima em potencial.
O caso do Discord é apenas um alerta gritante para que os pais acordem desse adormecimento. Dessa crença falsa de que é uma fase e vai passar. Ou de preferir pensar que isso jamais aconteceria na sua casa, porque sua casa é uma casa que oferece tudo de melhor para o seu filho e que a relação de vocês é ótima.
E mesmo com a melhor relação do mundo entre pais e filhos, isso pode acontecer assim. Porque a definição de boa relação entre pais e filhos às vezes é muito deturpada. Uma relação entre pais e filhos não é aquela em que são amigos simplesmente. Em que sorri na mesa. Ou se abraça e se beija.
Uma relação real, é aquela onde pode se falar de tudo, sem medo, sem medo de julgamento e rejeição. Onde todos falam de sentimentos espinhosos. Onde todos colocam suas opiniões mesmo que divergentes, na mesa. E essa abertura de diálogo real começa pelos pais.
É preciso falar sobre tudo, sobre temas reais, sobre o que há de pior acontecendo no mundo, é preciso que se toque em temas desconfortáveis para que se descubra qual a opinião do seu filho a respeito.
Pais não sabem o que os filhos pensam sobre diversos assuntos que estão aí, pelas ‘ruas da web’. Não existe outra saída a não ser amadurecer. Os adultos que educam filhos precisam amadurecer, precisam se empoderar de uma postura educadora. Precisam se debruçar na tarefa de aprimorar a comunicação com os filhos.
É uma jornada que vale a pena ser construída com solidez! Essa é a verdadeira jornada do amor, a que protege encarando de frente as mazelas do século XXI.
Stella Azulay é jornalista e educadora parental da Juntos Educação Parental com especialização em Análise de Perfil e Neurociência Comportamental.
Escritora e palestrante. Analista de perfil formada pela Success Tools; extensão em Neurociência Comportamental pela Faculdade Belas Artes; coach de vida e carreira pela Sociedade Brasileira de Coaching; educadora parental pela Positive Discipline Association. Adotou o tema Educação como missão. É mentora e conselheira de pais e adolescentes. Em 2021 fundou e dirige a JUNTOS Educação Parental. É mãe de quatro filhos. Lançou seu primeiro livro em Junho de 2022: 'Como educar se não sei me comunicar' e também seu primeiro livro caixinha 'Conte sua história para seu filho'. Jornalista pela Fundação Cásper Líbero, trabalhou como repórter em emissoras como SBT e TV Record e foi correspondente em Jerusalém/Israel pelo SBT, onde morou por quatro anos.