Tetê Espíndola recupera raras gravações e recria canções inéditas interpretadas em momentos diferentes
Com a voz límpida e rara de Tetê, de tempos indistintos e distantes, a canção “Objetos”, de Arnaldo Black e Hilton Raw, foi encontrada como um objeto na gaveta, tal qual o tema da música. “Como um filme branco e preto, sem legenda e sem ator. Objetos são reprises desse amor” diz a letra. De fato, a canção traz a reprise de uma época, sem beira, indefinível, e sem dúvida de um amor impregnado, indelével.
Tetê Espíndola anuncia a chegada de um novo álbum, Notas de Tempo Nenhum, com canções escritas por Arnaldo Black e Hilton Raw.
“O descaso das gavetas com nossas amorosidades eternas provoca momentos como esse, de imensa surpresa. Foi um caso do acaso encontrar esse material em antigos registros caseiros, Tetê e violão, ouvi-los em seu frescor atemporal e constatar sua inesperada qualidade técnica. Fomos arrebatados imediatamente, envolvidos em revivê-los e realizá-los em novo formato”, explicam Arnaldo e Raw.
As canções interpretadas por Tetê fazem parte de um repertório de dramas urbanos, cenas paulistanas escritas pelos compositores Arnaldo Black e Hilton Raw. O primeiro, casado com Tetê desde a época de Pássaros na Garganta, arquiteto e compositor, mais de 40 músicas gravadas, entre elas, Escrito nas Estrelas, composição vencedora do Festival dos Festivais (1985), fenômeno da mpb que consagrou a artista para o grande público brasileiro. Raw, premiado nos mais importantes festivais publicitários, tem no currículo inúmeras composições e produções para artistas como Gal Costa e trilhas de filmes para diretores como Heitor Dhalia. A dupla conterrânea e amiga de infância compartilha o gosto pela linguagem musical.
Para eles, a ideia de resgatar aqueles “objetos” da gaveta musical e criar arranjos orquestrados, protagonizando com Tetê, foi imediata e natural. Por isso, chamar um dos maiores arranjadores da atualidade, Rodrigo Morte, seguiu a mesma lógica e intuição. “Mas alguns desses registros que sabíamos existir, acabamos não achando. A falta deles acabou por trazer uma oportunidade, uma invenção curva e provocativa. Por que não fazer o tempo dobrar sobre si mesmo, morder seu próprio rabo? Pedimos então a Tetê para regravar as composições que faltavam. E a figura enquadrou a moldura”, explicam os compositores.
Nesta gravura avessa, se as orquestrações remetem às épocas dos grandes standards, as temáticas inclinam-se para cenários e poéticas bem contemporâneas. Amores e dramas cosmopolitas; enquadramentos de cenas paulistanas reconhecíveis ou imaginadas; a solidão e a impermanência da identidade buscando sobreviver na obra de arte; as palavras pensando sobre si mesmas.
O som da orquestra emana de um lugar ausente. A voz de Tetê percorre as arestas, insere-se no brejo dos tons em fuga e aflora, com o objetivo de fazer o ouvinte sentir a estranha aura que permeia esses clássicos inclassificáveis.
“São canções para rebocar poeira e ferver poesia. São como memórias inventadas, pertencentes a todos os tempos e a tempo nenhum”, finaliza Tetê.
Ficha técnica:
Músicas: todas as composições são de Hilton Raw e Arnaldo Black, exceto a canção “Maria Carolina”, que é de Hilton Raw, Arnaldo Black e Sérgio Gonzales
Intérprete: Tetê Espíndola
Arranjos: Rodrigo Morte
Produção: Fernando Forni, Hilton Raw e Rodrigo Morte
Músicas lançadas:
Vulgar
Objetos
Pianista
Pesado de Estrelas
Maria Carolina
Écran Triste