Colunistas - André Garcia

Você é a favor da corrupção? O que deseja para 2022?

31 de Dezembro de 2021

 

Para se alcançar Ordem e Progresso é necessário tolerância

Depois dos últimos dois anos, confesso que não espero muito de 2022, se minha família e eu continuarmos vivos com saúde está ótimo (mesmo eu tendo uma concepção diferente sobre a morte), muita gente boa, do meu círculo de amizade e profissional, partiu em 2020 e 2021, é uma tragédia sem precedentes, fora ter sido o pior ano (2021) da minha vida, especialmente no pico da pandemia entre os meses de março e maio com minha esposa coordenando mais de 100 funcionários na linha de frente e chegando em casa todos dias exaurida com uma história pior que a outra e ainda ter que lidar com um bando de imbecis nas redes sociais (todos os dias lembrava de Umberto Eco) negando a ciência e fazendo coro para o negacionismo do pior Presidente que o Brasil já teve em sua história, mas, tenho esperança e fé que as coisas melhorem, mas é necessário a sociedade focar na mudança. 

A sociedade é um lar coletivo, ou seja, se dentro da sua casa você sozinho ou com mais alguém administra o dia a dia, em uma sociedade é necessário convencer e para convencer é necessário discutir, na acepção da palavra: questionar, defender pontos de vista, debater. Por óbvio, não há vencedor em uma discussão sadia, mas a elucidação das questões que nos atingem, especialmente, na política, já que teremos uma vez mais a oportunidade de iniciar a mudança desse país que desde que me conheço por gente, ouço falar ser a grande nação do futuro e isso já tem algumas décadas, já que meus avós, meus pais já ouviam a mesma ladainha. 

Longe de esgotar o assunto e muito menos ser o dono da verdade, almejo uma reflexão sobre sociedade, valores, ego, Estado, Governo, Leis, Poder e Política, mostrando que os assuntos não se separam, há uma sinergia, a mudança está em nossas mãos. Se a Democracia não é perfeita, por outro lado é o que melhor temos ao nosso alcance e disso não devemos abrir mão jamais. Não é o confronto às instituições democráticas que modificará o rumo da história, mas a convivência pacífica e articulada da sociedade civil que é, a bem da verdade, quem detém o Poder no Estado Democrático de Direito. Se a sociedade é o agrupamento de indivíduos, como não discutir o indivíduo? 

Uma sociedade justa se reconhece por seu desenvolvimento moral. O progresso social não se mede apenas pela invenções da Ciência ou pelas comodidades materiais oferecidas em termos de vestuário e habitação, mas pelo desaparecimento dos vícios, da exploração do próprio ser humano, do egoísmo e do orgulho” (Aylton Paiva, “Espiritismo e Política - Contribuições para a evolução do ser e da sociedade” p.71 - 1ª ed., Brasília, FEB, 2014)

Necessário lançar uma pergunta de suma importância e dependendo da resposta, é melhor você parar de ler por aqui: Você é conivente com a corrupção? Não tem mais ou menos, é sim ou não? 

Combater a corrupção nada tem de deletério para a democracia ou para a economia. É até estranho ter que gastar tempo no Brasil refutando esse argumento. Isso é uma verdade aceita no mundo inteiro e que corresponde ao nosso senso comum. A corrupção disseminada afeta a qualidade da economia, pois obras e serviços públicos ficam mais caros, os investimentos públicos tornam-se ineficientes e a competição desleal faz com que empresas passem a investir mais em suborno do que em medidas para elevar sua produtividade. Quanto à democracia, a corrupção atinge a credibilidade dos governantes e, em certo nível, pode prejudicar a legitimidade do sistema político. Não é por acaso que políticos populistas recorrem ao discurso anticorrupção mesmo sem, no mais das vezes, terem real compromisso com ele”.(Sérgio Moro in “Contra o Sistema de Corrupção” - 1ª ed, RJ, Primeira Pessoa, página 284)

Kant (filósofo 1724-1804) assevera que “um governo fundado sobre o princípio da benevolência para com o povo, como governo de pai para filho, ou seja, o governo paternalista (imperium paternal)... é o pior despotismo que se possa imaginar". (in “Bobbio no Brasil ´um retrato intelectual”, Brasília, editora UNB, São Paulo: imprensa oficial) 

Dalai Lama afirma que “A ética é mais importante do que a religião. Não nascemos membros de uma religião. Mas a étca é inata” (in Por que Ética é mais importante do que a Religião, Dalái-Lama / Franz Alt, 1ª ed, Harper Collins, 2018).

Mahatma Gandhi ensina: “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”. Gandhi aqui fala de coerência e vou lembrá-lo disso no final do texto.

Não existe meio ético. Não existe governo populista que queira o bem da sociedade, ele aproveita da ignorância, da necessidade material e intelectual, da falta de interesse do cidadão por política para sugerir o mais fácil. Precisamos fugir desse modelo. Se não é fácil administrar um lar, uma família, quanto menos uma Nação. O cidadão não pode só criticar, mas tem que mostrar caminhos ao Governo. É necessário as regras serem bem claras, é necessário transparência. Não existe benefício com dinheiro público proveniente dos impostos, mas é justo a contrapartida em assistência social (para os necessitados) saúde, educação e segurança pública para todos sem distinção de raça, cor e gênero. 

Quando está em jogo o futuro de uma sociedade, o interesse individual fica em segundo plano perante o interesse coletivo. É na prática o tal “Pacto Social” defendida por Jean-Jacques Rousseau. Não acredito que alguém colocaria uma pessoa desonesta para administrar ou lhe ajudar na gerência de sua casa, não é coerente confiar seu voto a alguém que não compactua com seus valores, em outras palavras, que seja ladrão, corrupto, desonesto.  

O filósofo Thomas Hobbes afirma: “Não é a sabedoria, mas a autoridade que cria a lei”. Cícero afirmou: “Omnes legum servi summus uti lliberi esse possimus” ou “Para que possamos ser livres, somos escravos da lei“. Não existe milagre. Quando aquele que elegeu começa a se beneficiar ou a beneficiar quem está à sua volta (família e amigos) corrupto é! Não se pode alterar o ordenamento jurídico a bel prazer. A lei é para todos. Vivemos sob o regime de um Governo de leis e não um Governo de homens, porque se vivêssemos no segundo, estaríamos vivendo um regime de exceção. Aristóteles arremata: “A lei é a inteligência sem as paixões” (in Bobbio no Brasil…). Foro privilegiado é a lei com emoção para se proteger da punição. 

Ora, se vivemos em uma democracia e o parágrafo único, do artigo 1º da Constituição Federal afirma que “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, é de suma importância que o voto seja exercido, no mínimo,  com responsabilidade. As leis predominantes na nação, por mais duro que seja, é o reflexo da sociedade, já que o cidadão elege representantes afeitos a sua personalidade. 

Fernando Henrique Cardoso (Presidente de 1994-2002) afirma que: “Política não é a arte de separar os bons dos maus, mas a de tentar convencer os maus a ficarem bons”. (in “Cartas a um Jovem Político Para Construir um País Melhor, 2ª edição, RJ, Civilização Brasileira, 2017)

É verdade, mas isso no campo político, digamos profissional, (partidos, executivo e legislativo), o cidadão pode amenizar bastante esse trabalho hercúleo, se agir inteligentemente, ou seja, exercendo a cidadania no seu ápice, discutindo, orientando-se, para votar melhor e colocar ao menos um representante idôneo, de ficha ilibada, se possível com a principal característica que deveria ser da índole do político: o altruísmo, que segundo o pensamento de Comte (1798-1857), é a tendência ou inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o outro.

Mas para alcançarmos uma sociedade ideal, um Brasil mais justo, é condição “sine qua non” que vençamos nós mesmos. O desentendimento, a polarização está generalizada, insuportável. A idolatria dementa, cega por completo o indivíduo. A razão não pode perder para a emoção. 

Se é verdade que a pandemia exigiu uma nova realidade, um novo ser humano, onde não é possível voltar ao normal, por ser esse o problema. É necessário que melhoremos, sejamos menos egoístas (menos umbilical), mais solidários, mais humanos, pensemos mais no coletivo e menos no individual. 

O egoísmo expressando-se por uma pessoa, ou por um grupo de pessoas, é o sentimento centralizador do interesse próprio em detrimento dos outros. O egoísta coloca-se como centro da vida e do universo. As coisas e os seres devem estar em função dele. Seus interesses prevalecem sobre os demais. A pessoa egoísta não reconhece a igualdade, a justiça, a liberdade e o amor; para satisfazer-se não titubeia em tripudiar sobre o direito do próximo”. (in “Espiritismo e Política…” p.99) Note que o lugar de uma pessoa ou grupo egoísta deveria ser longe de uma República (res=coisa+pública).

Mais uma vez Mahatma Gandhi ensina: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. E para isso acontecer é necessário vontade e grande dose de humildade. Ninguém é dono da verdade, não existe um ser dotado de saber tudo. Todavia, há uma questão de suma importância que deve passar pelo crivo mental: o fato é de interesse público ou particular? A quem interessa? A resposta livre de preconceito e tendências é o caminho. 

É de suma importância que cada ser humano vença o melindre que é a filha do orgulho, vez que: “julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribui à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta” (in “Obras Póstumas - primeira parte”, Allan Kardec, “O Egoísmo e o Orgulho” p.225 - 25ª edição, FEB).  Portanto, é essencial, em ano de eleições, substituir o melindre pela humildade em elucidar aquilo que talvez você não pensou ou não domina como determinado conhecimento ou assunto e o mais importante, não acredite em “Salvador da Pátria”, não idolatre, não caia no conto dos populistas. Estudar é a palavra de ordem. Estudando você vai diminuir as chances de errar seu voto. 

Há uma diferença enorme entre a ofensa natural e o melindre, que é a reação neurótica às ofensas. Melindre é o estado afetivo doentio de fragilidade que dilata a proporção e a natureza das possíveis agressões que sofremos no meio social.(a ideia foi extraído de "Reforma Íntima Sem Martírio: autotransformação com leveza e esperança”, Ermance Dufax, cap. 17, 2ª edição, Dufaux Ed. O melindre nega novos conhecimentos e conceitos, cria animosidade, intolerância e inimizade. 

Se não quiser estudar, pelo amor de Deus, ao menos não seja papagaio de político ou de fake news, onde sem pensar, você propaga uma ideia ou notícia falsa que muitas vezes não compreende. 

Exemplifico: Todos os atos da administração pública devem cumprir cinco quesitos: Legitimidade,  Interesse público, Moralidade, Impessoalidade, Publicidade e Eficiência. Lembro que na época da faculdade de Direito, eu memorizava como LIMPE para as provas de Direito Administrativo.Interessante que limpeza é antônimo de sujeira, imundice. Mas, uma Deputada Estadual, na mais pura tentativa de sobrevivência política, fica postado ilações, no mínimo, desconexas, considerando sua formação em Direito e seu título de Professora da USP, criticando o STF de ter exigido do Governo Federal manifestar-se quanto à vacinação das crianças. Ora, se a administração pública tem um dever a ser cumprido e não o faz, se omite, só resta ao Poder Judiciário quando provocado (foi o que aconteceu) com base nos princípios da administração pública (art.37) combinado ao artigo 5º ambos da Constituição Federal, exigir que o governo o faça, sob pena de quebrar as garantias dos direito à vida e à saúde. E o que vimos: papagaios compartilhando uma opinião equivocada, a bem da verdade, longe de ser uma informação, mas, um ato político de demagogia. Mas me pergunto: quem compartilhou, tem conhecimento sobre o sistema jurídico da administração pública?  

Pior quando há a relativização de um erro em outro erro. Exemplifico: O Presidente da República como Chefe de Estado e de Governo, sua fala é um ato solene, é considerado o funcionário público número 1, deve ser exemplo ético e moral no cumprimento dos deveres da administração pública. Óbvio que a sociedade e a imprensa vão cobrá-lo, afinal é senso comum, o Chefe de Governo diante de uma calamidade como a que vem atingindo o Estado da Bahia, não sair ou prorrogar suas férias. Todavia, como sua estatura moral e ética são rasas, muito baixas, agiu como se nada tivesse acontecido. Eis, que essa mesma Deputada Estadual publica: “Indago: Há quantos anos o PT governa a Bahia? Será que obras estruturais não teriam minorado os estragos das chuvas? Tudo é culpa das férias do Bolsonaro? E um Presidente deixa de ser Presidente por estar na praia? Estão usando a desgraça do povo para politicagem! Nojo!” Oras, são coisas distintas: uma é se o Governo do PT fez ou não fez algo que amenizasse ou não o sofrimento do povo baiano e deve arcar com responsabilidade quanto a administração pública do Estado, outra é a postura que beira a negligência do comandante da nação. É trágico, porque no meio está o povo, mas todos os dias, nos últimos 3 anos, nos deparamos com relativizações como esta para situações piores. “Todo mundo um dia morre”, “É só uma gripezinha” e por aí vai…negando a ciência, “vachina”, negando o óbvio…

A discussão deve primar pela civilidade, pelos bons costumes, moral, valores, ética e não justificar um erro com outro erro. Infelizmente tudo leva a crer que será o mote que marcará 2022: um apontando o dedo para o outro, ao invés de propor alternativas, sem contar o que enfrentaremos na guerra das notícias falsas (fake news).

Não posso me conformar em ter que escolher entre dois políticos que já tiveram sua oportunidade e destruíram o Brasil. Adjetivos pejorativos, com certeza, não faltam a esses atores políticos. Se a sociedade brasileira permitir tal descalabro, mostra que a doença por falta de valores é pior do que se pode imaginar. Estará caracterizado grave conivência. 

Para alcançarmos o bem comum é necessário vencermos os dois filhos do orgulho: egoísmo e melindre.

Se você vencer o melindre, deixar de levar a discussão política para o foro íntimo, o lado pessoal ou tratando-o como questão pessoal, alcançaremos a tolerância, algo primordial para a vida em sociedade e que no presente tem faltado sobremaneira no Brasil. “Tolerar é refletir o entendimento fraterno, e o perdão será sempre profilaxia segura, garantindo, onde estiver, saúde e paz, renovação e segurança”. (In Pensamento e Vida, Emmanuel por Chico Xavier, cap. 25, pág. 105, 19ª edição, Brasília, FEB, 2016). Se você não consegue entender ou compreender o recado, perdoe. Encolerizar-se só fará mal á você. Exigir que sua opinião, talvez errada, carente do alicerce filosófico, sociológico e jurídico, talvez até de valores, é se expor sem razão, é prejudicar a coletividade. Toda opinião é justa e bem vinda,  mas seu caráter é relativo e não absoluto. 

A intolerância, opor o ódio ao ódio que opera a destruição, só ajuda quem não tem um projeto de Governo, visando o interesse coletivo, dentro dos princípios da ética, dos valores e da moral. Não tenha dúvida que aqueles que polarizam, aparentemente, em sentidos opostos são irmãos siameses, um precisa do outro para sobreviver politicamente, para continuar a subtrair para si em detrimento da sociedade, seu ponto comum é a corrupção (independente da modalidade), os benefícios escusos, o fisiologismo, deixando o interesse da sociedade  não  em segundo plano, mas em último plano. 

Não basta a ausência do melindre e do egoísmo, é necessário, acima de tudo, coerência, eu afirmei que cobraria. Se você é contra o delinquente que comete roubo e ou furto, exige resposta do Estado por meio da polícia, então, seja coerente e não eleja, não dê um mandato para um delinquente. Se na sociedade devemos dar oportunidade ao delinquente, na política devemos afastá-lo, sob pena das leis resultarem em impunidade. Não é o que estamos assistindo? 

"O grande inimigo da verdade muitas vezes não é a mentira - deliberada, artificial e desonesta - mas o mito - persistente, persuasivo, irreal (...) Gostamos do conforto da opinião sem o desconforto do pensamento" - John F. Kennedy (1917-1963/Presidente dos EUA - 1961/1963)

Só existe um rumo: o voto é a maior arma do cidadão
créditos: Alegretetudo

Desejo que em 2022 sejamos menos melindrosos e egoístas, mais tolerantes e, acima de tudo, coerentes para alcançarmos uma sociedade mais justa e fraterna, caso contrário, continuaremos sendo governados por corruptos, por gente que não tem espírito público.   

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