Segundo estudo recente, 72,5% da população conhece alguém que tentou ou cometeu suicídio em algum momento. 94,1% já ouviram alguém dizer algo como "isso é frescura" para alguém com depressão
O Setembro Amarelo chama a atenção de todos para um assunto sensível e que tem se agravado ainda mais, devido aos transtornos emocionais ocasionados pela pandemia. Em pesquisa desenvolvida pela Hibou - empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, 73% dos entrevistados declararam conhecer alguém que esteja sofrendo com depressão no momento e 88,4% já orientaram alguém a buscar ajuda devido a isso. O estudo inédito foi realizado entre os dias 25 e 27 de agosto, com mais de 2 mil brasileiros com mais de 18 anos.
Foto por Thandy Yung , em Unsplash |
Embora existam campanhas de conscientização online e offline, e se fale muito sobre transtornos emocionais, alguns não entendem bem como a depressão pode afetar a vida de uma pessoa. Para 94,2% dos brasileiros, a depressão é considerada uma doença; já 5,1% a veem como um estado de humor ou estado de espírito; para 0,6% é uma escolha de quem está depressivo; e para 0,1% é um humor passageiro.
Entre os respondentes, há quase uma unanimidade: 99,3% acreditam que a depressão possa levar ao suicídio, contrários a apenas 0,7%. O assunto é delicado, mas 94,1% das pessoas já ouviu alguém dizer algo como "isso é frescura" para alguém com depressão.
Para muitos, a digitalização tem seu espaço neste cenário. 79,9% concordam que a solidão é o mal do século, mesmo neste mundo super conectado. Ainda sobre o acesso à internet e conectividade, 46,8% concordam que o Instagram deixa as pessoas mais deprimidas.
"A importância da conscientização e de maior informação sobre os transtornos emocionais que podem levar ao suicídio é essencial. A temática deve ser abordada principalmente entre jovens e adolescentes que sempre passam por mudanças importantes. Porém, dado o cenário atual, estamos todos fatigados e é importante prestar atenção uns nos outros e buscar ajuda para evitarmos desfechos trágicos e inesperados", alerta Ligia Mello, coordenadora da pesquisa e sócia da Hibou.
Pensamentos que podem ser irreversíveis
41,9% das pessoas confessaram que alguma vez já tiveram um pensamento sobre tirar a própria vida e 58,2% nunca pensaram nessa possibilidade. Para os que pensaram sobre o assunto, a idade média foi 26 anos na primeira vez que aconteceu e, hoje, 74,3% afirmam já terem eliminado estes pensamentos.
81,1% buscaram ajuda médica e especializada para evitar os pensamentos suicidas: 24,9% recorreram à psicologia; 23%, à psiquiatra; 17,8%, à terapia; e 15,4% buscaram acompanhamento médico. As conversas com os amigos (15,2%), com a família (11,4%); em grupo religioso (9,5%) também estiveram entre as soluções dos entrevistados, além de centros de ajuda e grupos de apoio (3,5%); conselheiro profissional, fora da área médica (2%); fóruns e grupos de ajuda na internet (1,8%), ligação para o Disque 188 - CVV - Centro de Valorização à Vida (0,8%).
Atenção aos sinais ou ausência deles
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas morrem todos os anos por atentar contra a própria vida. De todos os entrevistados da pesquisa da Hibou, 72,5% afirmaram que conhecem alguém que tentou ou cometeu suicídio em algum momento - uma média de 2 pessoas, com idade média de 28 anos. Destes, 49,6% eram algum familiar ou amigo próximo; 33,6%, um familiar distante, conhecido; 27,6%, amigo de convivência; e 18,5% era um colega de trabalho. Para 71,4% o fato chegou a se concretizar pelo menos uma vez.
Ao observar os comportamentos das pessoas que atentaram contra a própria vida, os sinais - ou ausência deles - aconteceram de diferentes maneiras. 32,9% não demonstraram; 31,6% se afastaram de interações sociais; 31,3%, demonstraram desinteresse de forma geral; 29,6% ficaram mais silenciosos do que o normal; 19% dormiam muito; 14,5% postaram sobre coisas relacionadas ao momento; 10,3% tiveram conversas repetidas sobre o tema; 9,8% falaram, buscaram conversar com alguém; 9,5% ficaram sem tomar banho por vários dias; 6,8% ficaram mais eufóricos que o normal.
Os motivos para a tentativa de suicídio são variados e 35,4% desconhecem as razões que levaram os conhecidos a essa atitude. Para 24,9%, o motivo principal foi o fim de relacionamento amoroso; 24,3%, o sentimento de apatia ou falta de perspectiva de vida; 17,8% não notavam correspondência às expectativas da família/amigos; 10% por serem vítima de bullying ou outra estigmatização social; 9,3% por estarem com dívidas; 8,8% sofreram morte na família; 6,7% devido à orientação sexual; 6,1% por perda do emprego ou má performance escolar; 5,3% vítima de violência sexual ou doméstica; e 4% por serem pacientes com doença crônica ou terminal.
Depressão não é frescura
Segundo dados da Pesquisa Nacional da Saúde, divulgada pelo IBGE no final de 2020, o percentual de brasileiros que declaram terem recebido diagnóstico de depressão aumentou 34,2% em seis anos. Para 66% dos entrevistados da pesquisa Setembro Amarelo 2021, da Hibou, a falta de perspectiva econômica e o desemprego estão no topo da lista entre os fatores que acreditam estarem contribuindo para o aumento do número de casos de depressão nos últimos anos.
O isolamento social - principal mudança na rotina de todos - foi mencionado por 61,3%, seguido pela falta de expectativa de vida e o excesso de informação, para 61,2%. Ainda na questão social, foram citados as dúvidas existenciais (43,1%); as cobranças familiares (39,8%); o luto (35,6%); a queda na religiosidade (30,7%); as rixas entre amigos e família por causas políticas (11,3%).
O sedentarismo e a falta de exercícios também foram considerados fatores de aumento da depressão, por 26,8%, além dos hábitos alimentares modernos, por 7,5%. Além disso, o aumento do uso de internet e redes sociais foi citado por 48,2%; os jogos eletrônicos e RPGs, por 14,4%, e os conteúdos dos filmes e séries de televisão, por 8,8%. Fatores externos como mudanças climáticas e desafios ecológicos também foram citados por 4,5%.
Como os brasileiros buscam ajuda
Para encontrar ajuda em um momento de depressão, 92,6% acreditam que apoio profissional, de psicólogo ou psiquiatra, é o canal mais viável. 40,3% acreditam em conversa com familiares; 39%, centros de ajuda/grupos de apoio; 30,8%, em conversas com os amigos; 24,2%, apoio de outro conselheiro profissional; 17,7%, apoio de um líder religioso; 9,7%, Disque 188; 5,8%, fóruns e grupos de ajuda na internet; e 0,4% em nenhuma das alternativas.
De forma geral, 95,5% concordam que a busca por apoio como terapia, é o caminho para resgatar a autoestima. 91,9%, concordam que a família é essencial na busca pela melhora; 91,7%, acreditam que o ombro amigo é um abraço no momento da crise; 85,9% acreditam que dividir os problemas com amigos ajuda; 50,4%, afirmam que existe melhora com medicamentos; 28,2% concordam que todo depressivo é triste; 7,1% concordam que quem fala em se matar só quer chamar atenção; e para 6,1%, estar depressivo é sinônimo de fraqueza.
"O suicídio é um tema complexo, extremamente delicado e que precisamos conversar sobre. Os dados apontam que o brasileiro já esteve em alguma situação que o levou a um pensamento de morte e também o quanto que conhece alguém para quem ofereceu ajuda ou outros meios, como o apoio médico e terapêutico, como suportes para evitar a perda de uma vida", finaliza Ligia Mello.
Metodologia
2.179 brasileiros maiores de 18 anos responderam a pesquisa de forma digital, entre 25 e 26 de agosto de 2021, garantindo 95% de significância e 2,1% de margem de erro nos dados revelados.