Entrevista exclusiva - "Em 1968 Zezé Motta era a única mulher preta do elenco, em 2020 sou a única mulher preta também!"
- Como foi a chegada até seu personagem no elenco de Roda Viva do Teatro Oficina. E conte um pouquinho da sua carreira até agora.
M - "Tudo começou com um espetáculo que eu fazia que se chama: QUANDO QUEBRA QUEIMA, da ColetivA Ocupação em 2018, em uma das apresentações algumas pessoas do Tyazo foram assistir, então nos convidaram para apresentar no Teatro Oficina a mesma peça. Quando apresentamos la todos da companhia assistiram inclusive o Zé Celso. Três meses depois recebi uma mensagem da Gabi que faz parte da companhia, perguntando se eu gostaria de participar do coro de Roda Viva. "
"Me formei em 2017 no curso de Artes Cênicas pelo Senac. Em 2019 foi um ano agitado apresentando Roda Viva aqui em São Paulo e conciliando com as viagens do Quando Quebra Queima, apresentamos em muitas cidades do Brasil, inclusive fora do país em Portugal e Inglaterra. No começo desse ano tive a oportunidade de gravar meu primeiro longa-metragem."
-Estar no posto de Zezé Motta. Fale dessa emoção que sentiu.
M - "Há pouco me fizeram esta mesma pergunta e me sinto feliz com essa comparação, eu sempre admirei muito o trabalho da Zezé Motta e me sinto honrada. Mas tenho uma opinião formada sobre “este posto de Zezé Motta” esse posto é um ato político de questionamentos, pois em 1968 Zezé Motta era a única mulher preta do elenco, em 2020 sou a única mulher preta também! Se passaram 52 anos e a história continua a mesma. Precisamos urgentemente entender o porquê de haver somente uma mulher preta no coro, claro mas sem esquecer das mulheres pretas que já passaram pelo Teatro Oficina: Denise Assunção, Célia Nascimento, Viviane Clara, Selma Paiva, Carina Iglesias. Esse posto é político, uma vez que essa situação não é somente no Oficina, mas é uma questão estrutural."
- Fale do seu papel no Roda Viva e sua importância. Quais seus atores preferidos?
M - "Faço parte do coro e gosto muito da liberdade e do protagonismo que ele tem, as multi ações que temos no decorrer da peça, para mim é o motor que liga todos os personagens, isso é muito importante. Zé diz que somos: “coro de protagonista” rsrs" Fica difícil dizer quais meus atores favoritos rsrs, admiro todes, estou feliz em partilhar essa história com cada um, então todes são meus preferides!"
- Me fale da reestreia da obra no teatro Oficina que não aconteceu, devido a Pandemia
M- "Nossa reestreia estava marcada para dia 13/03, logo quando alguns lugares começaram a cancelar eventos, shows, festas e peças. Todos nós queríamos fazer a peça, mas trabalhamos com vidas e não só com as nossas, mas também com a do público, foi uma decisão difícil e triste, escolhemos pelo cuidado com o outro e a vida. Teatro é vida! "
- O que tem feito nesses dias de quarentena e o que você espera assim que acabar esse isolamento social?
M- "Estou cuidando da mente e do corpo, lendo, escrevendo, assistindo muitos filmes, escutando música, caminhando e ficando com a minha família. Sinto que essa quarentena é um momento de reflexão e reencontro de muitas coisas, espero que depois de tudo isso fique os aprendizados do cuidado próprio e com o outro."
- Como você vê a Arte hoje e sua opinião sobre o artista brasileiro em geral
M- "A Arte é resistência e o princípio para todas as coisas que existem, uma verdadeira insurgência dos corpos. "
"Nós artistas hoje vivemos na corda bamba da sobrevivência e do querer fazer isso que amamos. O desmonte da cultura e o corte de verba para arte está sendo doloroso, mas estamos firmes e nos reinventando a cada dia."
- Quais suas ambições, objetivos, projetos...sonhos
M- "Como disse gravei meu primeiro longa no começo do ano e gostei muito, então minha ambição e objetivo é gravar mais coisas esse ano."
"Estou usando esse momento de isolamento para organizar os meus projetos, uma pré produção forçada rsrs. Estou estudando bastante, escrevendo uma peça, trabalhando em um roteiro de um curta. "
Fotos - Dete Lentino