Colunistas - Heródoto Barbeiro

O Líder Tecnológico

20 de Novembro de 2018

Por Heródoto Barbeiro *                                                      

A nova tecnologia veio para ficar. Ainda que alguns torcessem o nariz e avisassem que não daria certo, a nova tecnologia ganhou o coração dos líderes políticos. Ela pegou de surpresa a mídia tradicional e os jornalistas. De repente perderam o posto de intermediação entre a fonte e o público em geral. Era um perigo, diziam, uma vez que, com a nova tecnologia nas mãos, os políticos poderiam mentir, inventar, manipular à  vontade uma vez que não teriam pela frente um grupo  de valorosos repórteres para reperguntar, checar dados, contrapor fatos e outras inconveniências. Com a nova tecnologia tudo ficava mais fácil, direto, barato e eficiente na visão dos políticos. Uma vez quebrado o paradigma, não tem volta. Ou há uma adaptação a nova realidade ou a derrota. O presente sempre derrotou o passado. A população ficou à mercê das comunicações oficiais e o contraditório não encontrava o mesmo espaço. Com isso o partido que chegasse ao poder teria mais condições de lá permanecer por um tempo indefinido graça a comunicação direta entre os gestores e o povo. Uma nova era surgiu inesperadamente e virou o mundo político de pernas para o ar.

Falar diretamente com o povo foi um sucesso mundial. A nova tecnologia nasceu nos Estados Unidos e de lá se propagou rapidamente. O presidente americano usou e abusou da oportunidade de falar diretamente e a transformou em um canal para infundir confiança na população. Avisava aos eleitores em geral que a crise seria passageira, que em breve a economia americana iria se recuperar e o emprego voltaria com toda força. Era uma crise de confiança, dizia. Garantia que a politica que empregava iria destravar a economia, que voltaria a girar e o bem estar em breve alcançaria todos os lares. Na Europa o sucesso da nova comunicação foi ainda maior. Nada mais de esperar um grande público para passeatas, marchas ou concentrações em grandes praças. Bastava uma  “live “ para infundir na maioria das pessoas que  o governo estava correto e que não confiassem nos grupos opositores, especialmente esquerdistas, inspirados nas ideias que vinham do século 19. Diante na nova comunicação os departamentos de propaganda dos governos se reformularam e alguns líderes vieram de universidades onde estudavam o fenômeno. Uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade, repetia um desses acadêmicos.

O líder brasileiro não deixou por menos. Em pouco tempo se adaptou a nova tecnologia, formatou um departamento de marketing político e passou a usar a mesma metodologia. Falar diretamente com o povo. Treinou uma linguagem simples, que qualquer pessoa podia entender, e partiu para a polêmica atacando os seus adversários. As mensagens chaves é que eles eram anti patriotas, vendilhões, quinta colunas, queriam implantar uma ditadura comunista no Brasil e desagregar a família. Eram ateus, iriam acabar com a religião, que segundo o líder era chamada de o ópio do povo pelos marxistas. A onda da nova comunicação percorreu o mundo. A nova tecnologia do rádio proporcionava um alcance nunca antes imaginado. Os poderosos transmissores levavam as ondas eletro magnéticas aos confins do páis e todos podiam escutar toda noite a voz do líder. Getúlio Vargas, o ditador de plantão, não deixou por menos. Copiou o sistema de comunicação dos seus inspiradores na Itália fascista de Benito Mussolini. Nasceu o programa de rádio obrigatório as 19 horas, com os acordes de Carlos Gomes e a voz impostada do locutor que dizia :” Na Guanabara 19 horas !!!!”  A Voz do Brasil, como ficou mais conhecida nasceu nesse contexto do nazi-fascismo de um lado, sovietismo de outro e do programa de recuperação americana, o New Deal. A história ensina que uma das características do populismo é a comunicação direta entre o líder e o povo em geral.

  • Heródoto Barbeiro é editor chefe do Jornal da Record News em multiplataforma.
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