Bem que ele tentou. O investimento poderia gerar pagamentos de dividendos como se fazia no mundo capitalista. Para tanto era necessário a confiança dos endinheirados para que o projeto fosse à frente. É verdade que havia sérios desafios de engenharia como o de transpor de uma forma eficiente e segura os contrafortes do planalto, apelidados desde os tempos coloniais de Serra do Mar. Inicialmente o líder inovador aplicou seu próprio capital como forma de incentivo para que outros fizessem o mesmo e sentissem que se ele estava arriscando o que era dele, era sinal que o empreendimento iria dar certo. Afinal os trilhos iriam ligar um ponto de convergência da drenagem do produto que mantinha as finanças do império de pé e chegar ao porto onde os “vapores “ estariam esperando para levar para os mercados europeus e americano. Finalmente as dóceis, simpáticas e prestativas mulas e burros seriam destinadas a outras atividades que não o transporte do café paulista. Chegara a modernidade, o planejamento e o arranque para o desenvolvimento econômico acoplado à agricultura de exportação.
Nem tudo foram flores. A estrada de ferro não teve vapor para chegar até o fim das obras. Falta de visão do futuro, de novos investimentos, mentalidade pré capitalista foram responsáveis pela falência da empresa montada pelo Irineu, o Visconde de Mauá. Abriu uma brecha para o investimento britânico que construiu a São Paulo Railway e sua mais charmosa parada : a Estação da Luz. Levavam café e traziam imigrantes em direção às plantações tocadas à mão de obra assalariada. Aparentemente o sistema ferroviário nascido no império e impulsionado pelo Estado durante a primeira metade do século 20 antecipava o planejamento de um forte sistema ferroviário capaz de transportar outros tipos de produção e até mesmo de passageiros, uma vez que a concorrência viária era mínima. Mesmo com o slogam de que “governar é abrir estradas “, uma viagem de caminhão entre São Paulo e Rio de Janeiro levava de três a cinco dias. Tinha data para sair, mas não para chegar. No meio do caminho havia uma serra, havia uma serra no meio do caminho.
As notícias não deixam dúvidas. Apenas 20 % da carga atual é transportada pelo trem. Os caminhões são responsáveis por 60 %. De tudo o que o trem carrega, 80% é minério de ferro. A sobra é dividida entre grãos e combustível. As rodovias que dão acesso aos portos estão apinhadas de carretas. Qualquer problema resulta em grandes congestionamentos, poluição, perda de parte da carga. Nem mesmo os bois podem mais viajar de trem como no passado, são levados de caminhão até os navios de carga viva, sujando as cidades portuárias apesar dos protestos dos moradores e ambientalista. Imagine, por hipótese, se as empresas de transporte e os caminhoneiros resolvessem fazer um movimento misto de greve com lock out. O que aconteceria com o abastecimento de produtos essenciais? Se isso realmente acontecesse, é só uma hipótese, a força política que esse movimento teria. Seria capaz de colocar todos contra a parede e o governo teria que lançar mãos de medidas de emergência, como subsidiar o combustível ou de medidas populistas de última hora como isentar o terceiro eixo do caminhão do pagamento do pedágio. Ainda bem que tudo isso é apenas um devaneio.