Colunistas - André Garcia

Para viajar ou no dia a dia: Yamaha MT-09 Tracer

10 de Março de 2017

 

Texto: André Garcia // Fotos: Arquivo pessoal e divulgação Yamaha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apresentada no Salão de Milão de 2014, o EICMA, a Yamaha MT-09 Tracer é a versão Touring de sua irmã naked MT-09.

Aliás, se o mercado tem denominado como Crossover para motos com posição de pilotagem e amortecedores de longo curso de Big Trail, mas com rodas de liga-leve e pneus esportivos, a Yamaha denomina Sport Multi-Use Bike e já tenho lido e ouvido a denominação Sport-touring, que discordo, já que são derivadas de esportivas é o caso da Ninja 1000 Tourer em relação a ZX10-R ou modelos maiores que remetem as esportivas como FJR1300, Hayabusa etc…

Portanto, a Tracer é uma Crossover e como tal é polivalente ou multi-uso.

Opinião pessoal: a vermelha é linda

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tive oportunidade de ficar em duas ocasiões com a Tracer uma de cada cor disponibilizada pelo fabricante. Na primeira, cinza fosco, fiquei exatos 6 dias, estava com o ajuste de suspensão “default” e na segunda, por 15 dias, a vermelha metálica, notei a suspensão dianteira um pouco mais firme, nada que comprometesse e a traseira no nível 7.

Antes de montar, creio que todo motociclista circunda a moto, aprecia seu desenho, bate um papo mesmo que em pensamento e conclui que a Tracer é bonita, chama atenção, mas faltou algo na traseira que tem uma bela lanterna em Led´s.

É possível regular a altura do assento entre 845 e 860mm, basta levantar o banco e ajustar um suporte encaixando-o no chassi, muito simples e fácil, mas requer leitura do manual do usuário para abrir o banco e concluir a operação. Deixei nos 860mm, mesmo com meus 1,65 de altura.

Ao ligar, um som grave, rouco, instigante em marcha lenta.

Algo que chama muita atenção é a facilidade de manobrar e sair com a Tracer, mesmo não colocando/alcançando totalmente os dois pés no chão, dado sua leveza e distribuição de peso de 210Kg em ordem de marcha, considerando o tanque de 18 litros cheio, a mais leve de toda categoria de 650 a 1200cc.

Posição é excelente, relaxado, pernas bem encaixadas, pés bem posicionados, punhos com bom acabamento, mas podia ser mais ergonômico com os botões de pisca alerta no punho esquerdo e o botão de farol alto ou “passing” no dedo indicador esquerdo, os demais como buzina e setas estão ali e propiciam uma pilotagem intuitiva.

Na bomba de gasolina gratas surpresas em tocada tranquila ou digamos mais rápido

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao sair da imobilidade, o piloto já nota a força do motor desde os 1500RPM e tanto faz com mais ou menos peso, com ou sem garupa é irrelevante de tão bem acertado a ciclística.

Ajuste da suspensão traseira é é bem complicado

Ciclística que conta com chassi em formato diamante e balança em alumínio, sub-frame é mais longo, em relação a MT-09, e reforçado para aguentar peso extra de bagagens, a suspensão traseira é do tipo Monocross com link com curso da roda de 130mm com 7 níveis de regulagem na pré-carga da mola e vários níveis no retorno hidráulico, na dianteira conta com suspensão invertida (up-sidedown) com curso de 137mm e 41mm de diâmetro, com ajuste de pré-carga da mola e retorno hidráulico, MAS, mesmo com cavalete que vem de série, mexer na suspensão traseira é um martírio, pois falta o acesso remoto que seria muito bem vindo. Explico: se você for andar com garupa o ideal é deixar a pré-carga da mola no nível 5 a 7, na Cinza veio no 4 e não consegui aumetar para o que desejava,  na vermelha ela veio no nível 7, deixei, no 6. Para diminuir é fácil, já que o acesso é a esquerda e o movimento para diminuir é a esquerda, se for fazer o inverso...esquece e vai em um autorizada...faltou tempo de fazer isso para descobrir como o fazem. A ferramenta não encaixa por baixo para realizar o movimento para direita ou inverso e não tem como acessar pelo lado direito.

Digno de nota: falei que deixei o banco na posição mais alta, mas com a suspensão traseira com retorno de mola no nível 6, no nível 7 sem garupa é necessário deixar o banco nos 845mm.

Como sempre falo, suspensão dianteira não mexa, leve para quem entende e passe seu feedback eu particularmente gosto do acerto default da Yamaha, só mexo na traseira que vem no nível 4 e para andar com garupa gosto do 6 e sozinho do 5, mas acabo deixando no 6.

Esposa exigente aprovou conforto da garupa

Se na MT-09 a garupa reprovou veemente, na Tracer é diferente: adorou!!! Gostou muito, aprovadíssimo. Minha esposa, assim como eu, adora motos e quando é confortável é pura Lua de Mel.

O painel é idêntico ao da ST 1200, completo, totalmente digital e de fácil leitura mesmo com o sol a pico. São dois display´s no maior à esquerda: velocímetro, conta-giros, indicador do nível de combustível, relógio, Controle de Tração, D-Mode (mapas A, B e STD) e Indicador ECO. No direito: hodômetro total e dois parciais, temperatura ambiente, temperatura do líquido de arrefecimento, consumo total e parcial ou instantâneo, tempo de viagem, hodômetro de reserva de combustível e preparação para aquecimento de manoplas e do engate correto das malas laterais.

Na minha opinião faltou o “RANGE” ou de autonomia decrescente como tem em outros modelos. Explico: quando entra na reserva, automaticamente aparece o hodômetro de reserva e inicia a contagem, para esse recurso o piloto tem que saber que a reserva é de 2,6 litros e já afirmo que a reserva entra muito antes, e com base na média de Km/l fazer um cálculo de quanto pode rodar, isso tira atenção da pilotagem.

Dinamicamente a Tracer é um tesão!!!

Câmbio preciso e bem escalonado, embreagem macia e leve, aceleração que arranca um sorriso podendo ser configurada em três modos, já que o acelerador é eletrônico, “A” cuja resposta é instantânea, digamos, mais esportiva, “B” um delay maior e que torna a entrega mais, digamos, lerda, notando-se um peso no acelerador e o “STD” com entrega de torque em qualquer rotação sem a “ogrisse” do modo “A”. A Yamaha sugere no manual o modo “B” para chuva, particularmente, eu na estrada deixei no “A” o tempo todo no molhado ou seco e na cidade deixo no “STD”.

Na cidade ou na estrada Tracer é polivalente, confortável e segura

O motor responde, graças a bem escalonada caixa câmbio, desde as baixas rotações  e em ultrapassagens é impressionante a saúde desse tricilíndrico, ficando por conta do piloto reduzir ou não marcha: se não estiver com muita pressa e quiser economizar combustível em 6ª marcha entre 120 a 140km/h reduzindo velocidade para 80 até 60km/h você só tem o trabalho de fechar o acelerador e dar mão, se estiver com pressa ou havendo algum risco, desce duas ou três marchas e passe como um foguete é impressionante.

São 115 cv de potência a 10.000RPM e 8,92 Kgfm de torque a 8.500RPM, mas você não, sente necessidade de trabalhar o motor nessa faixa de rotação, salvo se quiser colocar a sua CNH em risco.

Explico: tem moto que é necessário você trabalhar o tempo todo entre o pico de torque e de potência, na Tracer..esquece...você pode trabalhar e economizar gasolina entre 3500 a 5000RPM; 5000RPM que em 6ª marcha está a 120km/h. Você tem a moto o tempo todo na mão, a sensação de motor quase cheio, não falta torque seja qual for a marcha escalonada e a rotação utilizada.

Fácil de pilotar, mas exige experiência

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com ou sem garupa, o conjunto passa muita segurança, trechos de serra é pura diversão, é como ter a moto em trilhos, onde você aponta ela vai, aliás, facilidade de condução em baixa, média ou alta velocidade que faz parte do DNA da Yamaha que sempre capricha na ciclística começando pelo excepcional chassi em alumínio. 

A diversão em serra cheia de curvas é tanta que sem querer perdi o pino da pedaleira direita...sorry Yamaha, mas a moto passa muita confiança na tocada e para quem vai comprar ou já é um felizardo e já tem certa experiência recomendo tirar.

Vibração é quase inexistente, nada digno de nota, também em qualquer rotação e marcha escalonada.

Concorrentes de 650cc ou 1200cc oferecem fácil ajuste

Se o som já é instigante a 1500 RPM, antes mesmo de sair, amigão...a sinfonia é enfurecida já a partir do 3500RPM. Andar com ela na cidade nessa rotação em 2ª marcha abre corredores.

Se em rodovia sinuosa ou não, com ou sem garupa a Tracer é um espetáculo de máquina, copiando bem o asfalto, transmitindo confiança e exigindo juízo, na cidade é fácil e dócil, passando fácil no corredor, enroscando vez ou outra em algum SUV, dado ao estreitamento da faixa de rolamento, ziguezagueando como um moto de baixa cilindrada, tamanho seu equilíbrio, sendo possível pilotar entre 20 a 50/km em 3ª marcha as vezes, se o fluxo permitir, em 4ª marcha, sem engasgo ou buraco se necessitar acelerar sem redução.

Digno de nota: se for andar muito na cidade com  ou sem garupa, dado nosso péssimo pavimento, deixa a suspensão traseira no nível 5 da pré-carga de mola...você vai sofrer menos. É minha opinião. Tanto a Tracer como sua irmã naked MT-09 são sensíveis ao ajuste de suspensão.

E para parar tudo isso: excelentes freios na dianteira com dois discos flutuantes de 298mm e duas pinças radiais de quatro pistões opostos, na traseira um disco de 245mm com pinça simples com sistema ABS, cujo sistema antitravamento está bem regulado só entrando em ação quando necessário. O tato, a potência e progressividade é perfeito!

 335,8 km percorridos com 12,52 litros de combustível: uma miséria!

No passeio que fiz com minha esposa para Socorro-SP e depois Mogi-Guaçu-SP, mais três surpresas agradáveis: o pneu Dunlop que calça as rodas de 17 polegadas se mostrou bem casado com o conjunto, foi muito bem nos trechos de serra no seco e molhado, apesar que eu trocaria pelo Pirelli Angel GT, o consumo que foi inacreditável de 26,82km/l, o melhor alcançado, em tocada que o tráfego permitia e na velocidade máxima da via pública e a boa proteção de vento e chuva proporcionado pela parabrisa no ajuste mínimo, já que desisti de regular. O pior consumo foi 14,46km/l, sem garupa. Veja mais no álbum de fotos, link no fim do texto.

Se você procura uma moto de alta cilindrada para utilização diária e ou viagens, ou se procura uma moto só para viagens e não aguenta mais uma esportiva ou naked, acha desperdício de dinheiro aplicar em uma BigTrail, já que nunca vai para terra e gosta da tocada esportiva, essa é a moto que consegue aliar: boa ergonomia com esportividade do motor tricilíndrico crossplane, agilidade em rodovia e cidade (não é trambolho que necessite ficar atrás de um automóvel no trecho urbano), confortável com ou sem garupa, segura, econômica e completa (vem até tomada de 12v)...uma devoradora de km.

Por fim, nem tudo é perfeito, a moto dinamicamente é espetacular, mas a Yamaha deve melhorar o produto e minha sugestão para a MT-09 Tracer beirar a perfeição: mudar o ajuste da bolha/parabrisa que é igual da ST1200, muito burocrático e chato de mexer, algo que deve ser oferecido para o piloto alterar se possível pilotando; ajuste remoto da suspensão traseira, extremamente necessário em uma moto dessa categoria e preço; lampejador do farol alto no indicador da mão esquerda e a espuma do banco do piloto que tem boa densidade mas é demasiadamente dura.

Preço: na faixa de R$ 47 mil reais.

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