Os seios são uma parte importante para a autoestima da mulher. Independente do formato ou tamanho, sempre há o interesse em valorizá-los. Mas você já se imaginou sendo obrigada a retirá-los em nome da sua saúde? É o que acontece com pacientes em estágio avançado de câncer de mama. A retirada de algo tão importante para a caracterização do corpo feminino gera consequências, na maioria das vezes, catastróficas para o psicológico de quem passa por um episódio desses. Para abrandar essa dor tão grande (que já é enorme só pelo fato de a pessoa estar passando por essa situação, por conta do câncer) é que vem sendo cada vez mais popularizada a cirurgia de reconstrução de mama.
O Dr. Gabriel Duarte Basílio, cirurgião plástico e crânio-maxilo-facial, já realizou inúmeros atendimentos de reconstrução de mama e nos conta alguns detalhes sobre o procedimento, além de casos inesquecíveis vividos na mesa de cirurgia.
Casos de retirada de mama
Um de seus casos mais memoráveis foi o de uma paciente que já tinha perdido sua mãe, de apenas 60 anos, devido ao câncer de mama, e que já estava em alerta por conta das suas chances de ter câncer serem maiores, em virtude do histórico familiar: “Essa paciente foi diagnosticada também com câncer aos 40 e foi obrigada a retirar as duas mamas devido ao seu tumor, que era bilateral”, lembra o médico. “Porém, havia um agravante: a paciente tinha uma filha, que também foi orientada a fazer o BRCA (mapeamento genético para detecção precoce do câncer), e foi revelada a existência da doença. Por sorte, com o diagnóstico precoce, a filha realizou a retirada do tumor logo depois da mãe. E, em ambos os casos, logo depois da retirada das mamas foi realizada a cirurgia de reconstrução.”
O BRCA, citado pelo médico, é um estudo genético a partir do qual é possível calcular se existem chances reais do surgimento de câncer. Ele ficou mais conhecido depois de ter sido realizado pela atriz hollywoodiana Angelina Jolie, que também retirou as mamas para se prevenir da doença.
Técnicas de reconstrução de mama
Sobre as técnicas que podem ser utilizadas para a cirurgia, o Dr. Gabriel diz que existem diversas maneiras de realizar a reconstrução da mama, que dependem de uma série de fatores para serem aplicadas (como, por exemplo, qual seria o tipo de tratamento para o câncer, como se apresenta a doença e qual o tamanho da sequela da mastectomia).
“Algumas das técnicas utilizadas são a reposição de retalhos musculares e da pele das costas, que podem ser inseridas por um túnel subcutâneo na região axilar ou por uma pequena incisão na área do sutiã, que fica escondida, ou a colocação de prótese de silicone, por exemplo”, diz o cirurgião.
O médico também fala que é importante saber a forma de tratamento porque cada tipo gera determinados impactos ao corpo da paciente, e isso gera possibilidades diferentes ao cirurgião: “Por exemplo, caso o câncer seja combatido com radioterapia, a pele da região fica afetada, com o aspecto de queimada, por conta de um processo crônico chamado radiodermite, fazendo com que a inserção de próteses de silicone gerem danos ainda maiores. Neste caso, as opções são os enxertos de pele e gordura.”
Dependendo do caso, a área do mamilo precisa ser retirada. Nestes casos, a área da auréola pode ser reposta via enxerto ou até mesmo por tatuagem: “Inclusive, temos cada vez mais casos de tatuadores que se oferecem a realizar suas artes de forma gratuita, com a intenção de tornar o seio da mulher o mais real possível.” – ressalta o médico.
Quanto tempo devo esperar para fazer a reconstrução de mama?
Ele também desmistifica um pensamento comum a quem se submete à cirurgia de retirada de mama: “Não é necessário esperar os danos psicológicos virem, ou sentir falta de seus seios, para só depois pensar em fazer o procedimento de reconstrução.” Aliás, é mais eficiente, econômico (em termos de dinheiro e tempo) e menos impactante à paciente que as duas cirurgias sejam realizadas de uma só vez. Por conta disso, o Dr. Gabriel ressalta: “Toda mulher que realiza a retirada de mama pode já fazer a cirurgia de reconstrução, sem esperar!”
E depois da cirurgia de reconstrução de mama?
Em média, o tempo de recuperação é de 30 a 60 dias. Cerca de 4 meses depois da cirurgia, já possível ver o aspecto final.
Os cuidados pós-operatórios são um pouco mais complicados se comparados a uma cirurgia padrão de implantação de prótese mamária. Isso porque, nesta última, o tecido está são. Já com a reconstrução de mama, como a paciente sofre com os impactos do tratamento do câncer, ela já não está com seu sistema imunológico funcionando adequadamente, ainda mais em relação à recuperação da pele (principalmente se o tratamento for via radioterapia). Por conta disso, o tempo de espera até tirar os pontos é mais longo, e o número de cicatrizes é maior.
É importante destacar que, infelizmente, nem sempre uma mulher que passou pela mastectomia consegue amamentar. Caso a paciente esteja interessada em ter filhos no futuro, é necessário informar isso ao médico responsável, para que, durante o procedimento, o profissional tente ao máximo evitar que os ductos mamários sejam destruídos.
E quanto a reconstrução de mama custa?
Boas notícias! Devido à Lei Nº 12.802/2013, o Sistema Único de Saúde (SUS) é obrigado a realizar o procedimento assim que possível, se não na mesma cirurgia. Infelizmente, por conta da contenção de gastos em que o Governo realiza atualmente em todo o território nacional, a espera na fila pela cirurgia é longa. Entretanto, planos de saúde também cobrem completamente o procedimento. Se optar por realizar a reconstrução de mama em clínicas particulares, o valor da cirurgia, em média, fica entre R$ 20 mil e R$ 25 mil. O alto valor se justifica por todo o aparato médico empregado, com uma extensa equipe (que envolve anestesistas e auxiliares, além do próprio cirurgião) e todo o material cirúrgico necessário.