A descoberta incidental de nódulos de tireoide em exames de ultrassonografia tornou-
se uma das queixas mais comuns nos consultórios de endocrinologia e cirurgia de cabeça e pescoço nos últimos anos. Podemos afirmar que uma das principais causas responsáveis por esta “epidemia” de nódulos de tireoide nos dias de hoje está relacionada a um maior acesso da população a métodos diagnósticos como a ultrassonografia, bem como a um aumento expressivo na solicitação deste exame, muitas vezes sem critérios, por parte de médicos e por receio dos pacientes, ao considerar o mesmo como um exame de rotina.
Conclui-se daí que o nódulo de tireoide é algo comum e qualquer um pode ter, principalmente mulheres. Na pós-menopausa, estudos mostraram que até 60% desta população terão ao menos um nódulo. Então, se ele é tão comum assim, deveríamos nos preocupar?
O médico endocrinologista, Paulo Gustavo Ribeiro destaca dois importantes pontos: A imensa maioria dos nódulos tireoidianos é benigna e embora o número de nódulos diagnosticados tenha aumentado e, em consequência disto, também o de lesões malignas, a mortalidade relacionada a este tipo de câncer não aumentou nos últimos anos.
E o que isso quer dizer? Provavelmente estamos encontrando mais pequenas lesões, algumas delas com células malignas, impalpáveis ao exame físico e que muito provavelmente não iriam evoluir com crescimento e disseminação (metástases) ao longo da vida destas pessoas. O fato de ter células malignas não implica, necessariamente, que o nódulo irá crescer e se espalhar pelo corpo. Somente um pequeno percentual destas lesões se desenvolverá e representará perigo a vida do paciente.
Então aqui vai um conceito importante, que para muitos parece polêmico: Não se deve fazer exame de rastreamento de nódulos de tireoide por ultrassonografia em toda a população!
E quem deve ser selecionado para exame de ultrassonografia? É consensual que os seguintes grupos precisam ser investigados: portadores de nódulos tireoidianos palpáveis, indivíduos expostos a altas doses de radiação no pescoço (ex: submetidos a tratamento com radioterapia, técnicos de radiologia que não utilizam proteção, etc), histórico familiar de câncer de tireoide e portadores de outras doenças tireoidianas.
Aqui aproveito para esclarecer uma questão que apareceu na mídia e em redes sociais há algumas semanas atrás: a mamografia NÃO aumenta a incidência de câncer de tireoide! Isto é mais um boato sem qualquer fundamento científico, já que a radiação a que a mulher é exposta ao longo do tempo para realização deste exame é pequena e insuficiente para induzir mutações.
E para aquelas pessoas que descobriram um nódulo de tireoide? Muita calma nesta hora! A grande maioria dos nódulos encontrados é benigna e, mesmo dentro do pequeno percentual de nódulos malignos rastreados, a regra é a predominância de tumores de crescimento lento e na maioria das vezes com alta probabilidade de cura.
Para finalizar, nem todos os nódulos precisarão ser submetidos àquele desconfortável procedimento de punção com agulha. Existem critérios ultrassonográficos que indicam qual nódulo tem maior ou menor probabilidade de ser maligno e quando o nódulo deverá ser puncionado. Consulte sempre um endocrinologista ou cirurgião de cabeça e pescoço quando estiver diante desta situação. E o mais importante: não entre em pânico!