Segundo a pesquisa da eMarketer, o Brasil é o maior usuário de redes sociais na América Latina. De acordo com o estudo, o Brasil registrou 78,1 milhões de usuários mensais ativos em 2014. No ano seguinte, este número foi para 86,5 milhões, ou seja, um incremento de 10,7%. Em 2016, até agora, o número de usuários subiu para 93,2 milhões, apontando um crescimento de 7,8%. É só olhar pelas ruas e confirmar: o brasileiro não tira os olhos da telinha do seu celular. Além disso, não há quem não tenha um perfil em alguma rede social ou que, pelo menos, conheça alguém que seja adepto.
Embora estas mídias sejam uma boa estratégia de comunicação e de divulgação pessoal e profissional, há aspectos negativos e até perigosos por trás de tanta exposição. Como as redes sociais permitem o compartilhamento de ideias e momentos, isso pode impactar de diversas maneiras, já que muitas pessoas acabam se comparando com os outros, gerando uma reflexão sobre suas próprias vidas.
Por exemplo: você está em um momento ruim, e vê uma postagem de alguém feliz, rodeado de amigos, em um lugar bacana. Isso pode fazer com que você se sinta pior ainda, pois é possível gerar uma sensação de fracasso e até de inveja, ainda que inconscientemente. Outro exemplo são os textos que lemos nas redes: quando uma pessoa que não sabe (ou acha que não sabe) escrever bem, e lê um texto irretocável de um colega, se sente inferiorizado, incapaz de escrever algo daquele nível. O inverso também pode acontecer: alguém ler algo muito mal escrito e se sentir superior a esta pessoa, pois julga ter um potencial bem maior para a escrita.
Uma das maneiras de avaliar a possibilidade de influência das redes sociais em nossas vidas é começar a perceber como você se sente cada vez que vê algo na rede. Se você viu uma foto linda de um amigo com sua esposa e filhos, sendo que seu casamento está desmoronando, e não se abalou com isso, é provável que as redes não influenciam na sua autoestima. Mas se você notar que, ao ver essa foto, sua vontade foi de jogar o celular na parede, pode ser sinal vermelho. Pior: se mesmo depois de se desconectar, você continuar com a sensação de fracasso e/ou inferioridade, é hora de refletir.
Em primeiro lugar, precisamos considerar que o que vemos nas redes sociais não refletem a realidade. De modo geral, as pessoas querem mostrar o “álbum da família feliz”, mas que nem sempre são tão felizes assim. Mesmo aquele colega que vive postando fotos sorrindo, em viagens por lugares paradisíacos, ao lado de uma bela mulher ou dentro da Ferrari dos seus sonhos, tem vários problemas. Não existe ser humano que não tenha, ao menos, algum problema. Mas é comum que as pessoas prefiram mostrar o seu “mundo encantado”. Por isso, não se iluda. O colega que, a cada postagem, está em um lugar diferente do mundo, com um sorriso de dar inveja, tem problemas como qualquer um – talvez até mais do que você.
Há também aqueles que postam demais. Se esse comportamento for muito frequente – a ponto de comprometer a vida pessoal, profissional e/ou social –, se torna preocupante. Pode ser um sinal de que a pessoa está “fugindo” do mundo real e prefere viver no virtual. Vale lembrar que os “transtornos psiquiátricos” se caracterizam por déficits ou excessos comportamentais, acompanhados de comprometimento pessoal, profissional e/ou social.
Se você está sofrendo ou tendo sua vida comprometida por ficar acompanhando redes sociais, sugiro que saia de “férias” (exclua temporariamente) de suas contas das redes sociais. Vá ter relações com pessoas que estão fisicamente presentes. Assim, é mais provável que você se depare com pessoas reais, que têm momentos muito divertidos e felizes, e também momentos chatos e tristes. Esse contato com a realidade pode lhe ensinar que ter todas essas emoções e passar por todas essas situações é parte da vida, e que não há problemas em viver assim.
Por Nicodemos Borges, psicólogo;
Master-trainer dos cursos de formação de coaches do Instituto Nicodemos Borges;