Cultura - Música

A indústria do insucesso

13 de Julho de 2015

Por Cau Marques

Hoje eu gostaria de fazer uma pequena reflexão sobre o papel daqueles que estão no topo da pirâmide que constitui o trabalho com a música. O mundo da música tem a sua pirâmide, cuja base é constituída por aqueles que são responsáveis pelas funções operacionais como: técnicos de som e luz, cenógrafos, figurinistas, músicos... No patamar seguinte, no centro da pirâmide estão os artistas e lá... no topo, estão os produtores, divulgadores, assessores, empresários e investidores.

 
 

Talvez essa pirâmide esteja meio desequilibrada, mas é assim que ela vem se sustentando quando o assunto é a busca incessante por novos hits, que são os responsáveis pela criação de novos artistas, novos empregos e meios de ganhar a vida, seja por meio do trabalho independente ou ligado a gravadoras e selos dos mais diversos existentes hoje no mercado.

É de conhecimento comum que se houver profissionais bem-intencionados, dedicados e honestos haverá grande possibilidade do artista colher resultados reais e rentáveis, depois que o trabalho já tiver chegado ao público. O problema é que entre os profissionais sérios, existem os “lobos em pele de cordeiro”.

Podem dizer que em toda profissão existe isso e eu concordo, mas quando se trata de arte, se mexe com o sonho da vida de uma pessoa que, muitas vezes, já perdeu o pouco que conseguiu investir em sua carreira. Promessas de assessores em aparecer nas maiores redes de TV e rádio do país, divulgadores que cobram para “levar” o seu trabalho junto com o de artistas mais conhecidos e negociar execuções em rádios e festas importantes Brasil afora.... é só o começo!

Chamo esse movimento de indústria de “insucesso”, porque o número de pessoas envolvidas no processo de nunca tornar um artista famoso de fato é absurdamente grande.  Existem produtores e empresários que outrora conseguiram algum status por trabalharem com algum artista que conseguiu um pouco de destaque e se utilizam deste pseudo sucesso para ganhar a vida às custas dos novatos desinformados. Conheço casos de produtores que cobram mais de R$ 200.000,00 para assinarem uma produção e nem aparecem na gravação ou, se aparecem, dão meia dúzia de opiniões e deixam os técnicos terminarem o serviço.

 A facilidade de vender o sonho de uma carreira de sucesso é absurda! A necessidade de ter nomes de peso ligados ao trabalho de um artista podem custar e até acabar com o sonho de ter sucesso um dia. Artistas buscam apoios e patrocínios ou usam dinheiro próprio e de suas famílias para juntarem somas que podem a chegar a meio milhão de reais para custearem a gravação de um DVD e este pode ficar no esquecimento dentro das maletas dos divulgadores e de outros envolvidos, que nada precisarão fazer para expandir este trabalho, pois seu dinheiro já está garantido ou pior, podem acabar por culpar o artista alegando que o repertório não era bom, falta de investimento ou que simplesmente não estava pronto pro sucesso.

O que este “cartel” promove são apenas algumas vitórias ilusórias, somente para garantir que o próximo artista iludido chegue com um investidor e possa deixar nos seus bolsos mais alguns milhares de reais. Se o sucesso não chegar, para eles tanto faz, basta continuar colocando em programas sem visibilidade, convidando artistas famosos para aparecerem na festa de lançamento do CD e DVD para cantarem junto ou só pra marcar presença nos camarotes onde tudo se combina.

Enfim, é cada vez mais indispensável coletar informações sobre com quem trabalhar e tentar saber nas mãos de quem você colocará os seus sonhos, seu talento e sua vida. Infelizmente, nomes famosos não são garantia de idoneidade e dedicação.

Mas nem tudo é pedrada... existe muita gente séria, honesta e talentosa por aí e torço para que os novos artistas os encontrem para que o nosso país possa voltar a ter boas novas safras musicais e profissionais que se preocupem e dar uma mexida nessa pirâmide em busca do sucesso! 

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