Cultura - Teatro

Ilhada em Mim - Sylvia Plath traz à cena a obra e a vida da poetisa norte-americana Sylvia Plath

13 de Maio de 2015

Conhecida internacionalmente pela sua genialidade convulsiva, Sylvia Plath se desnudou por completo em sua escrita. Sua obra retrata uma mulher inquieta e angustiada com os inúmeros papéis que deveria exercer na sociedade. Sufocada pelo amor extremado pelo renomado poeta inglês Ted Hughes, que consumia sua vida, ela fez de suas vivências material literário. O espetáculo ILHADA EM MIM – SYLVIA PLATH, com Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes, que também dirige a montagem, reestreia dia 21 de maio, quinta-feira, às 20 horas, no Teatro Sérgio Cardoso, e traz à cena a obra e a vida da poetisa norte-americana.

 
 

ILHADA EM MIM – SYLVIA PLATH teve sua estreia nacional no Festival Tiradentes Em Cena (MG), em maio de 2014 e foi considerado pelo crítico Macksen Luiz, do jornal O Globo, como o destaque da mostra. O espetáculo – que cumpriu temporada em 2014 no Sesc Pinheiros, sendo indicado como melhor direção pelo Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) – é construído em torno de uma investigação vertical e poética do universo de Sylvia Plath, retratando uma mulher no limite de sua experiência humana.

 

A montagem representa a continuidade da pesquisa artística da companhia teatral Lusco-Fusco, de André e Djin, que criou espetáculos como O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência, a partir das obras Inferno eUm Sonho, de Strindberg (2013); O Belo Indiferente, de Jean Cocteau (2011/12); Estranho Familiar, a partir do conto O Espelho de Guimarães Rosa (2010); Tragicomédia de um Homem Misógino, de Evaldo Mocarzel (2008) e Um Sonho, de Strindberg (2007/08). No palco a premiada atriz Djin Sganzerla dá vida aos anseios de Sylvia Plath e André Guerreiro Lopes vive o poeta Ted Hughes.

 

Imersão sensorial

Para o diretor e ator André Guerreiro Lopes a força poética e revolucionária de Sylvia Plath, seus tormentos internos, o conflito com as convenções sociais dos anos 50 e a relação de amor obsessivo com o poeta Ted Hughes são abordados no espetáculo em um registro que se distancia do realismo e da linearidade. “Mais do que narrar a vida de Sylvia Plath, busquei transpor para o palco seu universo único, paradoxal, cheio de contrastes e oposições como  força e fragilidade, energia vital e destruição. Todos os elementos trabalham de forma integrada – a simbologia visual, os sons, a luz, as palavras, o movimento dos atores - criando um ambiente de imersão sensorial em que a imaginação e sensibilidade do espectador são convidadas a participar do jogo.”

 

Com forte simbologia visual, a montagem pretende ser fiel a poética de Sylvia com sua ferocidade e ironia. “Incorporo na encenação elementos da sua obra, como o surrealismo tenso, a energia condensada e ironia feroz. Há um mistério entorno da persona artística de Sylvia que o espetáculo não pretende solucionar, mas compartilhar. Utilizamos todos os elementos possíveis para criar um estado de suspensão em cena”, completa André.

 

No palco, a poetisa norte-americana Sylvia Plath está imersa em seu mundo particular, materializando experiências reais e imaginárias regida pela força destrutiva e lírica que orientou sua vida. O espetáculo destaca seu compromisso de alma com uma arte vanguardista e verdadeiramente revolucionária, sua obsessão pelo esvair do tempo, seu desejo profundo e nunca plenamente atingido de ser mulher, amante, artista, filha e mãe.

 

A dramaturga Gabriela Mellão busca em ILHADA EM MIM – SYLVIA PLATH investigar novos caminhos da dramaturgia contemporânea. “Busquei criar um texto em que a palavra poética fosse protagonista da cena, capaz de ultrapassar o discurso lógico criando imagens e estados que despertassem nos espectadores viagens sensoriais, além de mentais. Minha intenção foi revelar a complexidade do universo interior de Sylvia Plath, a potência de sua loucura e ao mesmo tempo de sua sensibilidade e extrema consciência”, conta ela.

 

Água como metáfora

O elemento água é a metáfora articuladora de toda a encenação. O cenário, concebido pelo diretor, conta com um espelho d’água, em que o mobiliário vai afundando, submergindo, em diálogo simbólico com os estados mentais da personagem e com a relação complexa entre Ted e Sylvia. ILHADA EM MIM – SYLVIA PLATH usa a água e seus desdobramentos metafóricos para a construção da encenação e cenografia. Objetos congelados que fazem parte do universo de Sylvia, como um sapato, um livro, um telefone, uma boneca e uma faca, estão pendurados e vão descongelando durante a apresentação, dando a ideia de transformação e de lenta libertação.

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Os figurinos assinados pelo estilista Fause Haten também vão se desintegrando conforme o espetáculo avança. “Pensei em uma Sylvia Plath que aparece, se constrói e desconstrói aos olhos da plateia. Ela é revelada, revela-se, vai se despindo e escorre pelo palco. Perde as cores e se veste de todas as cores”, define o estilista.

 

Os elementos da cenografia e figurinos se decompõem na mesma progressão da angústia existencial da poeta americana, em que os sinais do seu desajuste interior são conotados pela simbologia visual (água como afogamento). Gravações das vozes reais de Sylvia Plath e Ted Hughes em entrevistas e poemas, além da trila musical original composta por Gregory Slivar compõem a sonoridade do espetáculo.

 

 

Sobre André Guerreiro Lopes

Diretor teatral e ator, foi indicado ao Prêmio APCA 2014 de Melhor Direção Teatral. É formado na ECA-USP e com apoio da Fundação Capes especializou-se na técnica de teatro físico de Etienne Decroux em Londres por seis anos, na escola dos principais discípulos do mestre francês, Steven Wasson e Corinne Soum. Como membro da companhia franco-inglesa Theatre de l´Ange Fou,  apresentou-se na Inglaterra, Alemanha, Brasil, Irlanda, Espanha, Israel, Itália e França. Em 2013 faz assistência de direção para o diretor Bob Wilson na montagem brasileira de A Dama do Mar. Dirigiu e atuou nos espetáculos O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência (2013) a partir do livro Inferno de A. Strindberg, Estranho Familiar (2010), inspirado no conto O Espelho de Guimarães Rosa, Tragicomédia de um Homem Misógino, de Evaldo Mocarzel (2009), Um Sonho, de August Strindberg (2007) e dirige em parceria com Helena Ignez o espetáculo O Belo Indiferente, de Jean Cocteau (2012). Foi membro do CPT de Antunes Filho e da Cia. Do Latão, atuando em espetáculos como Santa Joana dos Matadouros e Ensaio para Danton. Em cinema, atua, entre outros, nos longas Ralé (2015) e Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha (2010), ambos de Helena Ignez. Dirige 26 filmes-poemas como coordenador do Laboratório Audiovisual SescTV do Festival Mirada 2014 e o curta-metragem O Voo de Tulugaq, vencedor do edital Rumos Itaú Cultural 2010, selecionado para o 48º New York Film Festival, Festival do Rio, Mostra de SP e premiado como melhor filme no Festival de Cinema de Sta. Maria da Feira, Portugal. Em televisão, entre outros trabalhos, atua na série Detetives da História, do History Channel e na novela Sangue Bom da TV Globo. André também ministra cursos de Mímica Corporal Dramática em São Paulo, Lisboa e na SP Escola de Teatro.

 

Sobre Djin Sganzerla

A atriz atuou, entre outros, nos espetáculos teatrais O Livro da Grande Desordem e da Infinita Coerência(2013/14); O Belo Indiferente, de Jean Cocteau (2011/12); Tragicomédia de um Homem Misógino, de Evaldo Mocarzel (2009/10) e Um Sonho, de August Strindberg (2007), direção de André Guerreiro Lopes, com quem codirigiu em 2010 Estranho Familiar. Recentemente atuou também em Frank -1, de Samir Yazbeck com direção de Hélio Cícero (2013/14) e na performance “Avoidance”  na galeria Mendes Wood (2014), do inglês Jesse Ash, projeto que viaja por diversas cidades do mundo apresentado em museus e galerias. Savannah Bay, de Marguerite Duras, com direção de Rogério Sganzerla; O que é bom em Segredo é Melhor em Público, direção de Antônio Abujamra; Cacilda, de José Celso Martinez Correa e Antiga, de Dionísio Neto. Em televisão protagonizou Lilith, dirigido por Fabrizia Pinto para a HBO, exibido em 2015. No cinema atuou em 12 longas-metragens, como “ Ralé” de Helena Ignez, (2015); A Organização do Espaço de Rodrigo Areias, Portugal (2014); “O Prefeito” de Bruno Safadi, (2014); Luz nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha (2012), direção de Helena Ignez; Meu Nome é Dindi (2008), no qual ganhou os prêmios de Melhor Atriz de Cinema pela APCA; no Melhor Atriz no12º Festival de Cinema Luso Brasileiro, em Portugal,  Melhor Atriz  no 18º Festival de Cinema de Natal; Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, na qual recebeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no 39º Festival de Cinema de Brasília; O Gerente, de Paulo César Saraceni, ( 2013) e As Doze Estrelas, de Luis Alberto Pereira (2010), Canção de Baal (2008) de Helena Ignez, entre outros.

 

Sobre Gabriela Mellão

Autora, diretora e jornalista teatral. Pós-graduada em Jornalismo Cultural na PUC (SP), estudou Cultura e Civilização Francesa na Sorbonne, em Paris e Dramaturgia e História do Teatro Moderno em Harvard, Boston. Escreve para Folha de São Paulo e Revista Vogue. Compõe o juri do prêmio APCA de teatro. Tem quatro peças encenadas,  A História Dela (2008), Parasita (2009), Correnteza (2012), Espasmo (2013), além de um livro publicado com suas obras teatrais: Gabriela Mellão – Coleção Primeiras Obras. Em agosto de 2014 estreia Nijinsky – Minha Loucura é o Amor da Humanidade, no SESC Belenzinho, trabalho em que assina autoria e direção. Lecionou Laboratório de Crítica Teatral para o curso de Jornalismo Cultural na pós graduação da FAAP entre 2009 e 2012.  Foi crítica da Revista Bravo entre 2009 e 2011, ano de fechamento da mesma. 

 

 

Para Roteiro:

ILHADA EM MIM – SYLVIA PLATH – Reestreia dia 21 de maio, quinta-feira, às 20 horas, no Teatro Sérgio Cardoso – Sala Paschoal Carlos Magno. Dramaturgia – Gabriela Mellão, a partir dos escritos pessoais de Sylvia Plath. Direção e Cenografia – André Guerreiro Lopes. Elenco – Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes.Figurinos – Fause Haten. Iluminação – Marcelo Lazzaratto. Concepção Sonora – Gregory Slivar. Assistente de Direção e Direção de Palco – Rafael Bicudo. Produção Executiva – Patrícia Honório. Direção de Produção – Djin Sganzerla e Estúdio Lusco-Fusco. Duração – 60 minutos. Espetáculo recomendável para maiores de 14 anos.Temporada – Quinta-feira a domingo às 20 horas. Ingressos – R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada). Até 14 de junho.

 

TEATRO SÉRGIO CARDOSO – Sala Paschoal Carlos Magno. Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista. Informações – (11) 3288-0136. Capacidade – 144 lugares. Bilheteria – De terça-feira a domingo das 14 horas até o início do espetáculo. Ingressos a venda também pelo site www.ingressorapido.com.br e pelo telefone (11) 4003-1212.

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