Cultura - Teatro

Insubmissas prorroga temporada até 29/3 no Teatro de Arena Eugênio Kusnet

5 de Março de 2015

A peça Insubmissas prorroga temporada até o dia 29 de março, domingo, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet, com sessões sextas e sábados, 21h, e domingo, 19h. Preconceito, violência, discriminação e intolerância acompanharam a vida de quatro mulheres fundamentais na história da ciência: Marie Curie, Bertha Lutz, Rosalind Franklin e Hipácia de Alexandria. No espetáculo, elas compartilham suas trajetórias atribuladas e inspiradoras.

 

 

Escrita por Oswaldo Mendes e dirigida por Carlos Palma, Insubmissas é uma realização do Núcleo Arte Ciência no Palco da Cooperativa Paulista de Teatro. No elenco: Adriana Dham (Bertha Lutz), Letícia Olivares, Mônika Plöger (Rosalind Franklin), Rogério Romera, Selma Luchesi (Marie Curie) e Vera Kowalska (Hipácia).

 

Sinopse

Quatro personagens contracenam em uma instalação de cordas, pedras e luzes que impõem delicado equilíbrio entre o tempo histórico e o tempo da representação. Marie Curie, Bertha Lutz, Rosalind Franklin e Hipácia de Alexandria contam assim sua difícil entrada e convivência no círculo machista da Ciência, em diferentes épocas e lugares.

 

Rosalind deu contribuição decisiva à pesquisa do DNA sem nunca ter o reconhecimento do prêmio Nobel; Madame Curie, embora premiada duas vezes com o Nobel, só foi admitida na Academia de Ciências da França depois de várias tentativas. Acusada de heresia, a matemática, filósofa e astrônoma Hipácia foi apedrejada por uma multidão de fanáticos cristãos. E a bióloga brasileira Bertha Lutz fez da luta pelos direitos da mulher no século 20 seu objetivo de vida.

 

Ficha Técnica

Texto: Oswaldo Mendes. Direção e Cenários: Carlos Palma. Elenco: Adriana Dham, Letícia Olivares, Monika Ploger, Selma Luchesi, Vera Kowalska e Rogério Romera. Iluminação: Rubens Velloso. Figurinos: Carolina Semiatzh e Beatriz Rivato. Produção: Núcleo Arte Ciência no Palco da Cooperativa Paulista de Teatro. Projeto contemplado pela Fundação Nacional de Artes – FUNARTE no edital de ocupação do Teatro Eugênio Kusnet 2014.


Serviço

Insubmissas - Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. Teatro de Arena Eugênio Kusnet – São Paulo. Rua Dr. Theodoro Baima, 94, Consolação – Metrô República.. Fone: (11) 3256-9463. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia). Duração: 75 min. Classificação etária: 12 anos. Capacidade: 98 lugares. Temporada até 29 de março de 2015.

 

Sobre Arte Ciência no Palco da Cooperativa Paulista de Teatro

 

Pioneiro no Brasil, o projeto foi criado em 1998 por Carlos Palma e Adriana Carui; e com a chegada de novos integrantes, em 2001 se consolidou junto à Cooperativa Paulista de Teatro.

 

O núcleo Arte Ciência no Palco (ACP) se dedica ao fazer teatral pensando no homem e na sociedade com a lente da ciência. Investigar a relação da arte e da ciência é o seu objetivo. 


A ideia surgiu do espetáculo Einstein que os artistas assistiram no Chile em 1995 e montaram no Brasil em 1998. A peça os despertou não só para a beleza conceitual que acompanha cada descoberta, mas para a possibilidade de investigar as angústias e os aflitivos dramas dos que pensam e praticam a ciência.  


No seu repertório há 16 espetáculos realizados em dezesseis anos de atuação. Reconhecido pelo público e pela crítica tem no histórico de suas encenações a participação no "Funarte Cidades"; o Mês Teatral da Prefeitura de São Paulo; o Prêmio Mambembe melhor ator; Prêmio Qualidade Brasil melhor espetáculo e indicação a melhor ator; três indicações em 2001 ao Prêmio Shell: melhor diretor, melhor iluminação e melhor cenário.

 

Por duas vezes recebeu o Prêmio Estímulo Flávio Rangel do Governo de São Paulo, contemplado com o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e três indicações para o Prêmio Coca-Cola/Femsa em 2007.

 

Através do teatro, com sua capacidade de envolver, emocionar e provocar, o grupo procura apresentar pelo "sentir" e pelo "pensar" os conflitos éticos da ciência ao espectador. Além de entreter, visa despertar o público para as responsabilidades e consequências dos avanços da ciência.

 

PRÊMIOS E INDICAÇÕES
- 1998 - PRÊMIO MAMBEMBE / FUNARTE
"EINSTEIN" - Melhor Ator / SP (Carlos Palma)
- 2000 - PRÊMIO MARIA CLARA MACHADO / RJ
"DA VINCI PINTANDO O SETE" - Indicação Iluminação (Francisco Alves)
- 2001 - PRÊMIO ESTÍMULO FLÁVIO RANGEL - "COPENHAGEN"
- 2001 - PRÊMIO QUALIDADE BRASIL
"COPENHAGEN" - Melhor Espetáculo
- 2001 - PRÊMIO QUALIDADE BRASIL
"COPENHAGEN" - Melhor Direção (Marco Antonio Rodrigues)
- 2001 - PRÊMIO QUALIDADE BRASIL
"COPENHAGEN" - Indicação Ator (Carlos Palma)
- 2001 - PRÊMIO SHELL / SP
"COPENHAGEN" - Indicação Direção (Marco Antonio Rodrigues)
- 2001 - PRÊMIO SHELL / SP
"COPENHAGEN" - Indicação Cenografia (Ulisses Cohn)
- 2001 - PRÊMIO SHELL / SP
"COPENHAGEN" - Indicação Iluminação (Francisco Alves)
- 2002 - PRÊMIO SHELL / SP
"PERDIDA, UMA COMÉDIA QUNTICA" - Indicação Ator (Oswaldo Mendes)
- 2003 - PRÊMIO SHELL / SP
"QUEBRANDO CÓDIGOS" - Indicação Ator (Carlos Palma)
- 2004 - PRÊMIO APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte)
"20.000 LÉGUAS SUBAMRINAS, UFA" - Melhor Cenografia (Carlos Palma)
- 2004 - PRÊMIO COCA-COLA / FEMSA
"20.000 LÉGUAS SUBMARINAS, UFA" - Melhor Cenografia (Carlos Palma)
- 2007 - PRÊMIO COCA-COLA / FEMSA
"REBIMBOCA & PARAFUSETA" - Finalista Melhor Cenografia (Carlos Palma)
- 2008 - PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO AO TEATRO
"A CULPA É DA CIÊNCIA?"

 

Sobre Insubmissas

 

Agora eles vão ouvir poucas e boas

Oswaldo Mendes

 

O desafio de escrever esta peça sobre mulheres na ciência foi proposto pelas atrizes do Arte Ciência no Palco há cinco anos. Quando comecei eu tinha clareza de poucas coisas. Uma, as muitas personagens estudadas seriam reduzidas a quatro. Hipátia de Alexandria, que por sonoridade mudei para Hipátia, Marie Curie, Rosalind Franklin e Bertha Lutz. Elas sintetizam, creio, as trajetórias de inúmeras outras cientistas, como Lise Meitner e Agnódice citadas na peça para lembrar que a insubmissão, em maior ou menor intensidade, é tão antiga quanto a submissão imposta pelo que a socióloga brasileira Heleieth Safioti chamou de “o poder do macho”. Outra clareza, os homens não seriam sujeitos da ação dramática e, se inevitável, a sua presença se limitaria às necessidades narrativas. E mais: a figura masculina não entraria fisicamente em cena, para evitar a tentação de cair no conflito dialógico – ou, em língua de gente, no velho bate-boca entre eles e elas.

 

Em Insubmissas o autor, que às vezes gosta de se meter no comportamento e no discurso de suas personagens, não é mais que uma voz, portanto. Masculina, sim, porém restrita à tarefa de fazer observações pontuais, ausentando-se em seguida.  O mesmo tratamento recebem os outros homens, que só “existem” porque trazidos à cena por elas. Exceção é Esmeraldino de Souza, assistente de Adolfo e Bertha Lutz, pai e filha. Registrado pelo Museu Nacional, o seu depoimento pouco favorável, pra não dizer ressentido, sobre a mulher com quem trabalhou durante tantos anos, é recuperado para dar a Bertha espaço de argumentação, não para questionar o seu humor ou temperamento. Esmeraldino traz, para o propósito da peça, a perspectiva do homem comum, ao reproduzir a discriminação e os preconceitos que contaminam todos os segmentos sociais, como dados culturais perversos que levam à violência generalizada contra a mulher. Sendo uma voz, Esmeraldino não tem direito a réplica nem à tréplica, se é que me explico bem. Esse direito é de Bertha. Só dela.

 

Igualmente são de Hipátia de Alexandria os retratos do patriarca Cirilo e do prefeito Orestes, que entram como referências e como referências ficam.  Como é de Irène Joliot-Curie e de Marie Curie o retrato de Paul Langevin, com quem Madame teria tido um affair que virou escândalo na Paris do início do século 20. Nem quando ele tenta se explicar a Marie, a palavra é dada a Paul, que é narrado por Irène. Os prêmios Nobel James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins, por sua vez, são ilustres figurantes na caminhada de Rosalind Franklin, sem a qual eles demorariam mais para chegar ao segredo da vida (DNA). Claro, todos esses homens são fundamentais e necessários para contar a história dessas quatro mulheres. Mas o ponto de vista dominante, em nenhum momento é o deles. Agora eles vão ouvir. Poucas e boas.

 

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Carlos Palma

Onde estão elas? Em todo lugar e ao mesmo tempo.

 

Uma voz que se impõe e não sabe bem o que perguntar de tantas coisas que gostaríamos saber sobre elas. Não, não é mais uma peça que biografa um gênio - agora sim várias hiperbólicas gênias. Quem é essa voz que inquiri, sabe de muitas coisas, se mete nas vidas dessas mulheres e não se mostra jamais? Não, também não é mais um Big Brother.

Há alguma intriga que ainda não sabemos e que de repente estará derradeiramente a nossa frente?

 

Li em algum lugar que “o eu autobiográfico, que é o que nos faz ver uma continuidade entre a criança e o velho, é bem mais ilusório do que gostamos de supor”. Isso reafirmou o que desconfiava da aparência - podemos trocar por máscara ou outra coisa do gênero - que de tão fluída que é nos confunde e nos aterroriza atados que estamos na forma que estrangula. Mas o que conta está mais profundo nas interpretações inquietas e comoventes dessas talentosíssimas atrizes que buscam bem lá no fundo a alma viajante de suas outras metades.

 

As histórias de vida de quatro mulheres que contribuíram não apenas para o desenvolvimento de idéias científicas, mas, sobretudo por atitudes desafiadoras também aprisiona o espectador: são nomes, datas precisas, descobertas científicas, um show de história, mas ao mesmo tempo parece implorar consciente ou inconscientemente que sejamos minimamente insubordinados, insubmissos e na medida incerta até contraventores. É preciso ficar atento. Únicas testemunhas são as quatro dezenas de pedras flutuando no espaço sustentadas por teorias e hipóteses desencontradas, como um metrônomo louco tentando enganar o tempo.

 

Arte e a Ciência se encontram nesse metrônomo louco adquirindo muitas outras faces, impressionantemente sutis, mudando imprevisivelmente de direção, alternando dimensões ocultas para revelar aqui a inteligência soberana de Mme. Curie, Rosalind Franklin, Bertha Lutz e Hipácia de Alexandria delicadamente despojadas pela dramaturgia de Oswaldo Mendes.

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