Por Dra. Camila Lessa
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O cuidado infantil exige muito mais do que técnicas estruturadas: requer acolhimento verdadeiro. Embora as práticas baseadas em evidências ofereçam ao profissional ferramentas para escolher estratégias eficazes, prever resultados e monitorar o progresso, é o vínculo afetivo que dá significado a todo o processo terapêutico. Segundo especialistas, a criança só responde bem aos estímulos quando se sente segura — e essa segurança nasce do vínculo estabelecido com quem cuida, seja família, seja terapeuta.
Entre os modelos de intervenção precoce mais estudados, o Denver/ESDM (Early Start Denver Model) se destaca por integrar neurodesenvolvimento, análise comportamental e aprendizagem social. Ele faz parte do grupo de abordagens ABA Naturalistas (NDBI), apoiadas por um grande volume de pesquisas científicas. Diferentemente de métodos rígidos, essas intervenções acontecem dentro das rotinas quotidianas — banho, alimentação, troca de roupa, brincadeiras no sofá — transformando momentos simples em oportunidades de desenvolvimento.
Outro ponto central é que, nesse modelo, o afeto não é apenas bem-vindo: ele potencializa a intervenção. A presença amorosa da família torna os reforçadores naturais mais potentes que qualquer recompensa artificial, além de melhorar a motivação da criança e favorecer a generalização das habilidades para diferentes contextos.
A ciência é clara: o ambiente familiar e a qualidade do vínculo são determinantes para o impacto real e duradouro das terapias. Enquanto o profissional participa de algumas horas semanais do tratamento, a família está presente todos os dias, influenciando diretamente o cérebro, o comportamento e a capacidade da criança de se engajar com o mundo.
Um dos mitos mais comuns no desenvolvimento infantil — “cada criança tem seu tempo” — pode atrasar diagnósticos importantes. Embora cada criança tenha seu ritmo, existem marcos esperados e sinais de alerta que não devem ser ignorados. Adiar uma avaliação pode impedir a intervenção precoce, justamente a mais eficaz. Além disso, muitas famílias acabam se sentindo culpadas por “esperar demais”.
A combinação entre ciência, acolhimento e participação familiar contínua constitui o caminho mais seguro para promover um desenvolvimento saudável e transformar o presente e o futuro da criança.
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Dra. Camila Lessa – Psicóloga
especializada em autismo, atua em equipe multiprofissional e possui certificação em Seletividade Alimentar por Madrid, além de pós-graduação em Análise do Comportamento. Referência no atendimento a pessoas no espectro, é coautora de Autismo: Uma Jornada Consciente e autora de Autismo: Muito Além do Diagnóstico, unindo técnica e sensibilidade no cuidado às famílias.
Contatos: @cah_lessa