O Brasil dá novos passos rumo à modernização da sua matriz energética e industrial. Em março de 2024, dois empreendimentos de grande porte ganharam destaque no cenário nacional e internacional: o UTE Portocem, termoelétrica de 1,6 GW no Ceará, e o Carina Rare Earth Project, voltado à exploração de terras-raras em Goiás. Ambos representam investimentos bilionários e uma oportunidade concreta para o país reduzir gargalos estruturais, diversificar a base de energia e fortalecer a cadeia de valor da mineração sustentável.
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| Fernando Botarro Filho | Foto: Divulgação |
O UTE Portocem, com aprovação regulatória concedida neste mês, será a maior usina termelétrica de pico do Brasil, capaz de garantir energia firme ao sistema elétrico nacional. O projeto é fruto de um consórcio entre a Mitsubishi Power Americas e a CONSAG Engenharia, que fornecerá as obras civis, utilidades, montagem e comissionamento da planta, além da linha de transmissão e subestação. Já em Goiás, a Aclara Resources deu início à fase de estudos de viabilidade do Carina Project, que promete transformar o estado em polo estratégico na produção de elementos de terras-raras — insumo essencial para turbinas eólicas, veículos elétricos e tecnologias digitais.
“Sem gestão, o investimento se perde no caminho”, diz especialista
Para o engenheiro Fernando Botarro, referência nacional em engenharia consultiva e gestão de projetos, os anúncios representam um avanço notável — mas também reacendem um alerta: o país precisa ser tão competente em gestão quanto em engenharia.
“Temos bons engenheiros e projetos tecnicamente sólidos, mas a infraestrutura brasileira precisa superar um desafio antigo: os limites de coordenação e controle entre as áreas. Gestão é o elo que transforma papel em concreto”, afirma Botarro.
Segundo ele, o sucesso de obras desse porte depende de três pilares fundamentais:
“Os atrasos e estouros de orçamento são sintomas de um problema de estrutura. Projetos multidisciplinares, como o Portocem ou o Carina, exigem que eletricistas conversem com civis, que mecânicos alinhem com instrumentação, que automação dialogue com telecom. Sem essa integração, qualquer erro se multiplica”, observa o engenheiro.
Planejar bem custa menos que corrigir mal
Botarro reforça que, além da inovação tecnológica, a sustentabilidade de grandes empreendimentos passa por uma mudança cultural na forma de planejar e executar obras.
“O desafio não é apenas técnico. É cultural. Precisamos investir em gestão de pessoas, recursos, custos e em ferramentas de modelagem que permitam prever problemas antes que aconteçam. Corrigir depois é sempre mais caro”, explica.
Ele destaca que o uso de BIM (Building Information Modeling) e metodologias de engenharia integrada podem reduzir significativamente desperdícios e retrabalhos — gargalos comuns em obras de infraestrutura tanto no Brasil quanto em outros grandes mercados internacionais.
“Países desenvolvidos também enfrentam atrasos e sobrecustos quando a gestão é fragmentada. O segredo está em garantir que cada disciplina entenda o impacto da outra. Engenharia é cooperação organizada”, completa.
Um novo ciclo de confiança
Com os projetos Portocem e Carina, o Brasil sinaliza uma retomada estratégica do investimento em infraestrutura, unindo energia, tecnologia e sustentabilidade. Especialistas veem nessas iniciativas um possível ponto de virada para o setor.
“Estamos diante de uma oportunidade rara. Se conseguirmos unir bons projetos, capital e gestão, o Brasil poderá não apenas erguer obras, mas construir uma nova cultura de eficiência e confiabilidade na engenharia”, conclui Fernando Botarro.
Quem é Fernando Botarro
Fernando Botarro Filho é engenheiro eletricista, eletrônico e de telecomunicações formado pela PUC Minas, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos e MBA em Gestão de Negócios e Inovação. É diretor executivo, sócio-proprietário e responsável técnico de uma empresa de Engenharia e Projetos, empresa consultiva multidisciplinar que atua em setores hospitalar, industrial, corporativo e público.
Com mais de 20 anos de experiência em engenharia de projetos e 15 anos de liderança executiva, Botarro coordenou projetos em empreendimentos de alta complexidade em todo o país — incluindo hospitais, instalações industriais e obras governamentais. Reconhecido por sua visão estratégica e pela integração de tecnologia e gestão, ele defende que a engenharia brasileira precisa ser instrumento de inovação, liderança e sustentabilidade.