Mostra, que fica em cartaz de 13 de novembro deste ano a 24 de janeiro de 2026, exalta a pluralidade e a força do universo feminino por meio das obras de Carol Ambrósio e Elvira Freitas Lira, que unidas pela poética emanam "um grito agudo e sempre urgente”
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| Créditos: Elvira Freitas Lira |
A WG galeria inaugura a exposição “Uma mulher sempre sorrindo”, aberta para visitação a partir do dia 13 de novembro (quinta). A mostra convida o público a refletir a multiplicidade da experiência feminina e a importância da presença das mulheres na construção da sociedade, através das obras de duas artistas distintas, Carol Ambrósio e Elvira Freitas Lira. Nesta cena, criada em conjunto pela curadora Paula Borghi e os arquitetos - sócios da galeria - Mariana Weigand e André Weigand, as artistas dialogam por meio da plasticidade de assemblages, objetos de parede, jóias falsas, pedras brutas, pinturas e tapetes; e pela poética que transita pelos territórios do dramático, do cômico, do ousado e do absurdo.
Desde a sua inauguração, no ano de 2022, obras de diversas artistas mulheres integram exposições na WG e também são maioria nos projetos criados para a participação da galeria em feiras de arte. Ao longo da história, as vozes femininas protagonizaram lutas e conquistas fundamentais, reivindicando direitos, igualdade e respeito. A mostra evidencia essa necessidade contínua de combater desigualdades e violências estruturais que atravessam as vivências do feminino, e reforça a posição política dos sócios que primam pela apresentação de trabalhos de artistas mulheres ao mercado, impactando diretamente a vida de todas elas e seus descendentes.
Artista multidisciplinar, Carol Ambrósio vive e trabalha em São Paulo. Sua produção articula-se, em grande parte, na elaboração de assemblages e na reutilização de materiais. Questões de gênero, estruturas de poder, feminino, pertencimento e relações são exemplos de leituras que podem ser construídas a partir de sua obra. A criação conceitual vai em busca de aceitar a forma das coisas imperfeitas, transitórias, incompletas e não convencionais.
Já Elvira Freitas Lira é pintora autodidata desde criança. Natural de Arcoverde (PE), hoje vive e transita entre Pernambuco e São Paulo. As cidades onde viveu influenciam seu trabalho, que une a cultura pop urbana à sua relação afetiva com as culturas tradicionais e contemporâneas do Nordeste. Trabalha principalmente com a pintura figurativa em acrílica e óleo, também fazendo uso de técnicas mistas que abrangem a colagem, assim como escritos e poesias. Com um forte viés biográfico, sua obra traz uma abordagem que vai do íntimo ao coletivo, do individual ao universal.
A curadoria de Paula Borghi, não apenas coloca em evidência o trabalho dessas mulheres, mas também reflete sobre a necessidade de maior reconhecimento e preservação das suas contribuições. “Elvira já nasceu com nome de bruxa, talvez por isso desde muito cedo é possível ver o céu de sua boca a cada sorriso. Carol, com a idade de Elvira, fugiu para China na busca de sorrir sem o eco grave de sua família. Ambas nunca cobriram com a mão sua boca ao sorrir, nunca esconderam sua alegre raiva. Uma mulher sorrindo incomoda muita gente, duas mulheres sorrindo incomodam muito mais.”, afirma a curadora.
“Esta exposição é amplamente importante para nós: é a primeira da artista Carol Ambrósio na WG, que começou a representá-la na metade deste ano. Carol tem no currículo exposições institucionais importantes como no Museu Emannuel Araújo em São Paulo, e na Pinacoteca de Piracicaba-SP, na qual teve obras premiadas. A exposição é também a última abertura de 2025, ano que tem sido generoso conosco (de muitos acertos e novos artistas), e por fim, anuncia a representação de Elvira pela galeria. Uma Pagu do século XXI, Elvira Freitas Lira é uma artista visual promissora. Suas pinturas evocam ares de pop contemporâneo, como se designa na música. Seu trabalho possui a autenticidade de quem nasceu no coração da cena crítica e poética do Pernambuco, entre artistas, músicos e jornalistas. Potencial enorme que vamos apoiar e representar a partir de agora.” comenta Cris Genaro, sócia da WG.
Serviço:
Uma mulher sempre sorrindo
Abertura: 13 de novembro
Entrada gratuita
Local: WG Galeria
Endereço: Rua Araújo, 154 / Mezanino – São Paulo
Horário de funcionamento:
Terça a sexta: 11h às 19h
Sábado: 11h às 17h
Informações: wggaleria.com
Texto crítico:
Uma mulher sempre sorrindo
Uma mulher sempre sorrindo pulou pela janela, caiu de uma escada, fumou um cigarro, subiu no carro, serviu um café, montou a mesa, alimentou a família e se deitou no colo de outra mulher sempre sorrindo.
Nota-se, este é um sorriso alto de uma queda ao ar livre.
Com a boca vermelha, adornada com presas de uma pantera negra, a mulher sorri com sangue entre os dentes. De longe se escuta o som agudo de sua gargalhada, daquela que se vinga da vida com sua própria tristeza.
Há séculos a nomeiam de bruxa, de puta, de louca. Há pouco, chamam-na de vadia. Hoje, escuta-se dizer: artista.
Elvira já nasceu com nome de bruxa, talvez por isso desde muito cedo é possível ver o céu de sua boca a cada sorriso. Carol, com a idade de Elvira, fugiu para China na busca de sorrir sem o eco grave de sua família. Ambas nunca cobriram com a mão sua boca ao sorrir, nunca esconderam sua alegre raiva.
Uma mulher sorrindo incomoda muita gente, duas mulheres sorrindo incomodam muito mais.
Você está escutando? Elas dizem numa só voz:
- Somos bruxas, putas, loucas, vadias e artistas.
Faz silêncio na sala.
PAUSA
Até que o espelho diz:
- Mulher, como seu sorriso é bonito. Só não é mais bonito do que o da Cinderela.
E a história se repete uma vez mais, com o patriarcado invadindo a sala e colocando-as umas contra as outras, manipulando sua subjetividade pela disputa de não serem escolhidas pelo príncipe encantado.
Neste momento, a mulher sorri e mostra suas presas de pantera negra. O espelho quebra. Consciente de que esta não foi e nem será a última vez, a mulher recolhe seus cacos, coloca-os na boca e mastiga sua imagem; sua imagem de mulher bonita. Ela ama a si mesma e não há nada mais selvagem do que isso.
VOLTA
Esta é uma exposição bonita, com imagens estraçalhadas, digeridas, deglutidas e transformadas. São trabalhos que chegam sem pedir licença, que vêm de corpos rasgados pelo tempo e suturados pela força.
Você está percebendo? Você está escutando? É o som do rugido da pantera negra, da louça chinesa que quebra na pia, do corpo que rola escada abaixo, das cabeças mudas de homens degolados, das baratas e lesmas que passeiam pelo vestido de noiva, dos vasos e pedras que se equilibram sobre as costas das mulheres que sempre sorriem.
Paula Borghi
Brasília, outubro de 2025