Associação aponta que ganhos altos no curto prazo perdem força sem previdência e controle financeiro, comprometendo aposentadoria e estabilidade
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| Foto: Divulgação |
A escolha entre trabalhar com carteira assinada ou atuar como autônomo em aplicativos de transporte ou entregas deixou de ser apenas uma questão de estilo de vida e se tornou uma decisão financeira estratégica. Embora a renda imediata do trabalho por aplicativo seja, em muitos casos, superior à de funções CLT operacionais, especialistas alertam: sem planejamento financeiro, essa vantagem desaparece no médio e longo prazo.
O fenômeno já altera o mercado de trabalho brasileiro. Entre 2015 e 2025, o número de trabalhadores em aplicativos cresceu 170%, passando de 770 mil para 2,1 milhões, segundo o Banco Central. Enquanto isso, setores como varejo e serviços relatam dificuldade para preencher vagas presenciais de caixa, repositor, atendente e funções técnicas básicas, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio. A combinação de vagas sobrando no mercado formal e alta adesão aos aplicativos indica uma mudança de perfil profissional no país: muitos trabalhadores têm priorizado renda rápida e autonomia, mesmo abrindo mão de benefícios e direitos trabalhistas.
Segundo Juliana Miranda, planejadora financeira CFP® e embaixadora da Planejar no estado do Ceará, “no curto prazo, o autônomo via aplicativo tende a ter uma renda líquida maior, mas essa vantagem se dilui rapidamente quando consideramos férias, 13º, FGTS e INSS. No médio e longo prazo, quem não faz planejamento financeiro corre o risco de perder estabilidade e aposentadoria.”
No cenário comparativo, um trabalhador CLT com salário de R$ 2.000/mês chega a uma renda efetiva de R$ 2.400 a R$ 2.500/mês ao somar benefícios como 13º, férias e FGTS. Já motoristas e entregadores autônomos, com faturamento bruto entre R$ 5.000 e R$ 6.500, têm custos mensais médios de R$ 1.000 a R$ 1.500 com combustível, manutenção, taxas e seguro, resultando em renda líquida de R$ 3.500 a R$ 5.000.
“Apesar de parecer mais vantajoso no curto prazo, esse ganho tende a se perder caso o autônomo não destine parte da renda para construir reservas e investir em previdência. Para se equiparar à estabilidade de um trabalhador CLT, o profissional independente precisaria ganhar o dobro do salário base e ter uma disciplina rigorosa na administração dos recursos”, explica Juliana.
Em relação à aposentadoria e à formação de patrimônio, o regime CLT oferece uma espécie de “poupança forçada”, por meio dos depósitos de FGTS e da contribuição automática ao INSS, garantindo previsibilidade e segurança jurídica. Já o trabalho autônomo depende integralmente da disciplina individual. “Mais de 80% dos motoristas e entregadores não contribuem para o INSS, o que significa risco de aposentadoria mínima ou inexistente. O autônomo só constrói um futuro estável se tratar o próprio negócio como uma empresa, com reservas, metas e controle financeiro”, alerta.
Para a planejadora, o perfil ideal para cada modelo é distinto. O CLT é indicado para quem valoriza estabilidade, benefícios e previsibilidade, enquanto o autônomo se encaixa em perfis empreendedores, com boa gestão financeira e foco em flexibilidade, desde que haja um plano de previdência e uma reserva de segurança. “O importante é entender que renda maior não significa segurança. A diferença está no planejamento”, resume.
A análise reforça que, independente do modelo de trabalho, o planejamento financeiro é o fator determinante para transformar renda em patrimônio e garantir autonomia futura. “O profissional que entende seus custos, separa parte do ganho mensal para investir e planeja o longo prazo estará sempre em vantagem, seja com crachá, seja com volante na mão”, conclui Juliana Miranda, planejadora financeira CFP® e embaixadora da Planejar no Ceará.
Sobre a Planejar
A Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro) é a única instituição no Brasil autorizada a conceder a certificação CFP® (Certified Financial Planner). É afiliada ao FPSB (Financial Planning Standards Board) entidade norte-americana responsável pela divulgação, gerenciamento e controle do uso das marcas CFP® fora dos Estados Unidos.
O Brasil é o quinto país com mais planejadores financeiros certificados, com mais de 10,6 mil profissionais. No mundo, são mais de 230 mil. A certificação CFP® é uma certificação de distinção que traz um diferencial para a carreira do profissional. Para obtê-la, além de comprovar conhecimentos técnicos por meio de avaliação específica, o candidato também precisa comprovar formação acadêmica, experiência profissional e adesão a um código de ética. Para manter a certificação, o profissional precisa ainda cumprir requisitos de educação continuada.