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Foto: Freepik |
Executivo detalha como tecnologia, governança e gestão de risco se tornam pilares para atender a um mercado mais complexo e exigente
O setor imobiliário atravessa um momento de pressão, entre juros altos, regulamentações em constante evolução e compradores cada vez mais criteriosos. Nesse contexto, o economista e executivo Luciano Mestrich Motta observa que as soluções de monitoramento de mercado, baseadas em tecnologia, governança e gestão de risco, estão redefinindo a forma como incorporadoras, investidores e gestores tomam decisões.
De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), os lançamentos imobiliários cresceram 9,4% em 2024 em relação ao ano anterior, mas a pressão sobre margens exige que cada decisão de incorporação seja amparada por dados. Ao mesmo tempo, pesquisa da PwC Brasil mostra que apenas 17% dos líderes empresariais utilizam plenamente ferramentas de dados para gerir riscos, revelando um espaço enorme de avanço.
“Monitorar o setor não é mais opcional; é a base da estratégia. Quem não acompanha indicadores de forma sistemática corre o risco de tomar decisões caras e equivocadas”, afirma Motta, que atua há mais de 25 anos em finanças, controladoria e incorporação.
Tecnologia como motor de previsibilidade
Para Motta, o grande diferencial do momento está na aplicação de tecnologia e análise de dados em larga escala. Ferramentas de big data, inteligência artificial e analytics permitem identificar tendências de preço, mapear regiões com maior potencial de valorização e antecipar riscos relacionados à inadimplência ou queda na demanda.
Segundo estudo da Deloitte, 62% das empresas do setor imobiliário global afirmam que já utilizam alguma forma de análise avançada de dados para embasar suas decisões. No Brasil, o movimento ainda é tímido, mas vem ganhando espaço rapidamente.
“Um lançamento de sucesso hoje não se sustenta apenas na intuição. É a tecnologia que mostra se há demanda real, qual público pode ser atendido e qual risco financeiro está associado a cada projeto”, comenta Motta.
Ele destaca ainda o papel de plataformas integradas que cruzam dados de vendas, crédito, perfil do comprador e conjuntura macroeconômica, permitindo um monitoramento contínuo da saúde do negócio.
Governança e compliance: a segurança além dos números
Outro pilar essencial é a governança corporativa. A transparência, o compliance e a adoção de boas práticas de auditoria são fatores que fortalecem a confiança de investidores e compradores. Em um ambiente em que fundos imobiliários e players internacionais ampliam sua presença, a credibilidade das empresas depende diretamente de como tratam seus processos internos.
Relatório do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) mostra que empresas com estruturas maduras de governança apresentam menor volatilidade em resultados e maior capacidade de captação de recursos.
“O investidor hoje exige muito mais do que a promessa de retorno. Ele quer transparência, relatórios confiáveis e segurança de que o projeto está sendo conduzido dentro de padrões éticos e legais”, reforça Motta.
Gestão de risco como diferencial competitivo
Os riscos mais relevantes no setor vão além da oscilação do mercado e incluem inadimplência, variações de juros, atrasos regulatórios, mudanças em políticas de crédito e até mesmo riscos reputacionais.
Segundo a KPMG, 68% das empresas brasileiras ainda tratam gestão de risco de forma reativa, ou seja, respondendo apenas após o problema surgir. “No setor imobiliário, isso é especialmente perigoso. Uma análise mal conduzida pode significar milhões de reais imobilizados em projetos que não se sustentam”, comenta o economista.
Ele ressalta que o monitoramento contínuo de riscos permite não apenas evitar perdas, mas também identificar oportunidades, como aquisição de terrenos subavaliados ou realocação de investimentos diante de mudanças de cenário.
Resistências e desafios
Apesar das vantagens, ainda existem barreiras para a adoção plena dessas práticas. Entre elas estão o custo inicial de plataformas de dados, a falta de cultura analítica em algumas empresas e a carência de profissionais qualificados em análise imobiliária. Além disso, questões regulatórias e a necessidade de harmonizar informações de diferentes bases dificultam a integração.
“Estamos vivendo a transição. Algumas empresas já operam como verdadeiras companhias de dados, enquanto outras ainda se baseiam em processos manuais e subjetivos. Mas é questão de tempo: a pressão do mercado vai exigir evolução”.
Perspectivas até 2030
Olhando para frente, Luciano acredita que até 2030 o mercado imobiliário brasileiro estará ainda mais orientado por dados. A inteligência artificial deve evoluir para prever não apenas tendências de preços, mas também mudanças no comportamento do consumidor e efeitos de cenários macroeconômicos sobre o setor.
A governança deve se tornar pré-requisito para acesso a funding, enquanto a gestão de risco será vista como elemento central da estratégia, e não como uma função de suporte.
“Daqui a alguns anos, o que hoje parece diferencial competitivo será requisito mínimo. Só prosperará quem conseguir unir dados, governança e visão de risco em um modelo integrado de monitoramento”, conclui Motta.
Quem é Luciano Mestrich Motta
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Luciano Mestrich Motta Foto: Acervo pessoal |
Luciano Mestrich Motta é economista formado pelo Mackenzie, com mais de 30 anos de experiência em finanças, controladoria e mercado imobiliário. Começou sua carreira como consultor e auditor na Arthur Andersen e Deloitte, atuou como CEO da Mover Participações e CFO de Family Office com mais de R$4 bilhões em ativos. Liderou grandes transações de M&A no Brasil, desenvolveu projetos imobiliários comerciais “AAA” e é sócio da Monitori desde 2024, onde conduz a estratégia da empresa.