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Os americanos estão de olho nos esforços dos russos para se aproximarem da América Latina, especialmente do Brasil. O passado mostra que a presença dos russos esteve conectada com uma tentativa de golpe de Estado em 1935, durante o governo Vargas, que culminou com uma forte reação. A tentativa de reeditar a Revolução de Outubro não deu certo por falta de adeptos e armamentos. Dinheiro não faltou, e se falava que era o “ouro de Moscou”. Este foi um dos motivos pelos quais o Brasil se dobrou para uma ditadura de direita, inspirada no fascismo italiano e que foi batizada, como em Portugal, de Estado Novo. Ou seja, para a ditadura de Vargas que durou até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial. Só se volta a falar de infiltração russa no Brasil por ocasião do governo de Jango Goulart, quando a esquerda novamente se articula para apoiar as reformas de base propostas pelo presidente, que ameaça os grandes proprietários de terras com uma reforma agrária. Há quem diga que iriam fazer uma nova tentativa de tomar o poder.
Os produtos russos não concorrem com os fabricados nos Estados Unidos ou na Europa ocidental. Contudo são mais baratos e feitos para durar. Motores, tratores e navios são apresentados para a venda no Brasil. Os empresários refutam o produto russo por dois motivos: são tecnicamente superados e comprá-los é dar espaço para um país que compete com os Estados Unidos. O departamento de Estado acompanha com cuidado os acenos dos russos ao Brasil, especialmente as tentativas do Kremlin de atrair cada vez mais países para fortalecer uma frente anti-yankee. O presidente do Brasil, que provocou uma aproximação inédita com a República Popular da China, ou China Comunista, dá várias declarações criticando a política externa dos Estados Unidos. A direita brasileira está com os cabelos em pé e acusa o presidente de ser simpatizante da Rússia e do comunismo.
O russo chega ao Brasil e é recebido como um astro de Hollywood. Desfila pelas principais cidades do país em carro aberto, sem temer um atentado, e com milhares de pessoas nas avenidas para aplaudi-lo. O povo brasileiro trata o visitante como um grande herói, um homem de coragem. Os americanos assistem a tudo com a certeza de que perdem a corrida tecnológica e espacial. A nave Vostok conduziu o primeiro homem ao espaço em órbita em volta do planeta Terra e o piloto militar era soviético, Yuri Gagarin. A diplomacia do Kremlin sabe que a presença do astronauta vai capitalizar a opinião pública dos países latino-americanos e armam uma visita que tem muito de propaganda soviética e pouco de aproximação entre União Soviética e países latino-americanos. O presidente brasileiro abre espaço para aproximação diplomática não só com os russos, mas também com a Cuba de Fidel Castro. Jânio Quadros orienta a diplomacia brasileira a se aproximar do grupo autodenominado países não alinhados, capitaneados pela Índia e Egito. Jânio dá encontrões com o embaixador americano no Brasil, em audiência no Palácio da Alvorada. Veste-se com um safari inspirado no ditador do Egito, Gamal Abdel Nasser. Recebe Gagarin no palácio presidencial e o condecora com a Ordem do Cruzeiro do Sul, a maior condecoração brasileira, no início de agosto de 1961. No dia 20 condecora o representante cubano no encontro de Montevidéu, Che Guevara, com a mesma honraria. Cinco dias depois renuncia à presidência da República dos Estados Unidos do Brasil.
*Prof. Heródoto Barbeiro âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Midia Training e Budismo. Grande prêmio Ayrton Senna, Líbero Badaró, Unesco, APCA, Comunique-se. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina”, www.herodoto.com.br