Estudos recentes mostram que a saúde intestinal não se resume à digestão. Ela afeta o humor, os níveis de ansiedade, o apetite, o sono e até o modo como você reage ao mundo
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Por muito tempo, o intestino foi visto apenas como um órgão “de passagem”, responsável por absorver nutrientes e eliminar resíduos. Mas nos últimos anos, a ciência vem revelando algo surpreendente: o intestino é um centro de comando poderoso, com influência direta sobre o cérebro, as emoções, o metabolismo e até as nossas escolhas mais cotidianas.
Pesquisadores já o apelidam de “segundo cérebro”, mas a verdade é que, em muitos aspectos, ele pode ser até mais sensível e intuitivo do que a própria mente racional. E a chave para isso está na microbiota intestinal, o conjunto de trilhões de micro-organismos que habitam o trato digestivo e se comunicam com todo o corpo, especialmente com o sistema nervoso central.
A conexão intestino-cérebro: não é papo alternativo, é neurociência
O nutrólogo Dr. Arthur Victor de Carvalho explica que a relação entre o intestino e o cérebro é regulada pelo chamado eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional que envolve o nervo vago, hormônios, neurotransmissores e moléculas inflamatórias.
Estudos da Harvard Medical School e do NIH mostram que a microbiota intestinal saudável participa da produção de neurotransmissores como a serotonina, dopamina e GABA, fundamentais para a regulação do humor, do sono, da motivação e do apetite. Estima-se que mais de 90% da serotonina do corpo é produzida no intestino.
Ou seja, se o intestino está em desequilíbrio, seu humor e sua clareza mental também estarão. É por isso que distúrbios como ansiedade, depressão, compulsão alimentar e até síndrome do pânico têm sido cada vez mais associados a desequilíbrios da microbiota.
“Não consigo parar de comer” pode ser uma mensagem da microbiota
Diversos estudos mostram que a composição da microbiota afeta diretamente a percepção de fome, saciedade e desejo por certos tipos de alimentos, especialmente carboidratos refinados e açúcar.
Bactérias como Firmicutes estão associadas a maior absorção de calorias e acúmulo de gordura, enquanto cepas como Bacteroidetes favorecem um metabolismo mais eficiente. Alterações nessa proporção podem estimular o apetite de forma bioquímica, sem que a pessoa tenha consciência de que o “comer emocional” não é apenas psicológico, é fisiológico.
“A microbiota influencia desde os alimentos que você deseja até a forma como seu corpo reage a eles. Um intestino desregulado pode estar sabotando decisões que você pensa estar tomando com clareza”, explica o Dr. Arthur Victor de Carvalho.
Humor, memória e foco também começam no intestino
A disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota) está ligada a quadros de:
Algumas cepas probióticas específicas, inclusive, já vêm sendo estudadas como “psicobióticos”, ou seja, micro-organismos capazes de influenciar positivamente o estado emocional, reduzindo o cortisol e melhorando a resiliência ao estresse.
O intestino também molda o seu comportamento? A resposta é: sim
Pesquisas publicadas na revista Nature Microbiology apontam que alterações na microbiota intestinal podem interferir em traços comportamentais como impulsividade, procrastinação, compulsividade, tomada de decisões e tolerância à frustração.
Em outras palavras: seu intestino pode estar influenciando como você reage a críticas, como lida com pressão, ou até como faz escolhas no trabalho e nos relacionamentos.
A causa? Uma soma de fatores: inflamação intestinal, alterações hormonais, baixa diversidade microbiana e barreira intestinal comprometida (intestino permeável).
Como cuidar da microbiota na prática
O equilíbrio intestinal depende de fatores como:
O médico Arthur Victor de Carvalho conclui: “Se você sente que está agindo de forma impulsiva, sem controle emocional, sem foco ou com alterações de apetite inexplicáveis, a causa pode estar mais abaixo do que você imagina. Cuidar da microbiota intestinal não é apenas uma questão digestiva, é uma questão de identidade, bem-estar e equilíbrio emocional.”