Programação trouxe também atividades variadas para as crianças, como oficinas, contações de histórias e teatro educativo, além de muita conversa literária. A agenda cultural segue até o próximo domingo (24), com opções para públicos de todas as idades
Katiúscia Ribeiro |
Créditos: Sté Frateschi |
A programação da 24ª FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto iniciou a semana recebendo público de todas as idades em suas diversas atrações. Oficinas, contações de histórias, teatro educativo e bate-papos literários marcaram a segunda-feira, que movimentou a feira com a participação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Até o próximo domingo (24), a festa literária segue oferecendo, de forma gratuita, um leque plural de experiências culturais à população.
Manhã educativa e musical
A equipe da NeuroRib trouxe uma reflexão sobre o impacto das telas no cotidiano, especialmente entre crianças e adolescentes. O terapeuta ocupacional Lucas Pistori destacou a necessidade de resgatar a presença real nos encontros familiares e sociais. “Hoje, vemos jovens constantemente conectados ao celular, mas pouco conectados às pessoas à sua volta. Precisamos resgatar vínculos de qualidade e interações mais profundas”, afirmou. A psicóloga Mariela Malveste reforçou os prejuízos do uso excessivo das telas desde a primeira infância. “O excesso de exposição digital faz com que muitos percam a dimensão do que é real e do que é possível. A melhor alternativa é oferecer presença de qualidade: dividir momentos, retomar valores, mostrar que aquilo que eles veem nas redes pode ser vivenciado também no mundo real”, explicou.
Já a gestora Solani de Paula ressaltou a importância de ampliar esse debate para além do consultório, envolvendo escolas, famílias e espaços culturais. “Participar da feira nos permite desenvolver temas que são relevantes para estudantes e pais. É uma oportunidade de mostrar que existe outro tipo de conteúdo e que o contato humano continua sendo insubstituível”, completou. O grupo resumiu sua mensagem em uma frase-síntese: “Desconectar para conectar”, defendendo a busca por um equilíbrio saudável entre o digital e o humano.
Também na manhã, o MC Marcelo Gugu conduziu o público a uma viagem pela história do rap, mostrando como o gênero sempre foi usado como ferramenta de protesto e voz das periferias. Ele citou influências de grupos norte-americanos e destacou a chegada dos Racionais MC’s, lembrando que músicas como Diário de um Detento, escrita por Mano Brown, narram de forma visceral episódios marcantes como o massacre do Carandiru. “A palavra sempre foi usada para comunicar, para dar voz e fazer com que as pessoas se sintam parte da história”, afirmou.
Gugu destacou ainda a técnica do storytelling no rap — a capacidade de transformar letras em narrativas que transportam o ouvinte para dentro da realidade contada, quase como em um filme. “Quando você ouve, parece que está vendo uma cena, vivendo aquilo. É a narrativa do povo, contada de dentro”, completou.
Livros vivos
À tarde, os bate-papos ganharam espaço na Tenda Sesc Senac. A mesa “Futuro Sustentável” reuniu as lideranças indígenas Alessandra Munduruku e Elisangela Baré, com mediação de Tatiana Amaral. O debate trouxe reflexões sobre preservação das florestas, das águas e dos territórios sob a perspectiva dos povos originários. “Nós também somos livros vivos. A oralidade é um livro: memória que cuida, ensina e cura”, afirmou Alessandra.
A palestra “Inclusão é Ação”, promovida pela equipe do Programa Educação para o Trabalho – Trampolim, do Senac Ribeirão Preto, apresentou experiências de jovens participantes do projeto. Entre os destaques, estiveram um jogo interativo criado pelos alunos, o projeto Semáforo que Fala – que conecta frutas a circuitos para acionar mensagens de alerta – e trabalhos nas áreas de confeitaria e moda. O aluno Luís Felipe compartilhou sua trajetória, e professores mostraram como o programa incentiva a interdisciplinaridade, a inovação e o protagonismo juvenil.
Ainda no espaço do Senac, a professora Silmara Cristiane Gomes, doutora e pesquisadora em Administração, apresentou sua obra “Trabalho tanto, mereço um agrado”. No bate-papo, a autora discutiu o consumo como forma de compensação do trabalho e os impactos da falta de equilíbrio entre valores do trabalho e valores da vida. “Tudo o que é não inteligente e não consciente está na esfera do consumismo, enquanto que, na esfera da compensação, há o consumo consciente, mais econômico e mais responsável”, explicou.
Silmara destacou ainda a importância do autocuidado sem culpa, dos riscos de viver para atender expectativas externas e da necessidade de compreender o que realmente motiva cada indivíduo.
Outro momento relevante foi o bate-papo “Entre Asfalto e Favela”, realizado com Aline Rocha e a equipe da CUFA Ribeirão Preto. O encontro abordou cultura, resistência, desigualdade e os caminhos de transformação social a partir das periferias. “Essa narrativa que propusemos é a junção do asfalto e da favela. Nós temos que andar juntos. A favela não é carência, é potência”, disse Aline.
Potência feminina negra
No início da noite, o auditório Meira Junior recebeu a Sessão Abayomi, com a filósofa e doutora em Filosofia Africana Katiúscia Ribeiro, que discutiu o pensamento africano contemporâneo e saberes filosóficos ancestrais como ferramentas de transformação social. “Para muito além de um espaço físico, o quilombo é onde o povo preto está. Porque onde o corpo preto está, ali ele é. Rodas de samba, slams, espaços de movimentos negros diversos, tudo é quilombo, esse lugar de reorganização territorial”, afirmou.
Katiúscia também abordou o conceito de mulherismo afreekana, que, segundo ela, propõe uma nova forma de pensar a vida a partir de um paradigma africano. “O papel das mulheres é transformador e, por isso, a cultura ocidental as apaga. Mulherismo afreekana é uma proposta política para que mulheres e homens caminhem juntos na tarefa de desafiar a lógica vigente de subalternização social”, explicou.
Empréstimo de livros
A Biblioteca Sinhá Junqueira também integra a programação da FIL e disponibiliza ao público um acervo especial com obras dos autores presentes no evento. O cadastro para empréstimos é gratuito, ampliando o acesso às leituras apresentadas na feira e estendendo a experiência literária para além dos espaços oficiais.
A programação completa da FIL 2025 está disponível no site oficial da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto: www.fundacaodolivroeleiturarp.
Sobre a FIL
A FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020. Possui 25 anos de história e realiza neste ano a sua 24ª edição. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades. Todas as atividades são gratuitas e abertas à população, o que consolida o objetivo primordial de fomentar a leitura e de contribuir para ampliar os números de leitores do país. Em 2024, o evento registrou público de 250 mil pessoas, presença de 260 escritores e mais de 400 atividades realizadas. O impacto na economia de Ribeirão Preto foi da ordem de R$ 5 milhões.
Patrocínio Diamante: Usina Alta Mogiana
Patrocínio Ouro: GS Inima Ambient
Patrocínio Prata: Necta Gás Natural e Savegnago
Patrocínio: Apis Flora, AZ Tintas, Caldema, Caseli Tracan, Engemasa, RibeirãoShopping, Riberfoods, Pedra Agroindustrial S/A e TMA Máquinas.
Instituição Cultural: Sesc e Senac
Apoio Cultural: ACI-RP, Automotiva Cestari, Lopes Material Rodante, Macopema, Monreale Hotel, Santiago e Cintra Geotecnologias, Grupo Suprir, Tonin Superatacado e Santa Helena.
Apoio Institucional: Fundação Dom Pedro II, Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, CUFA Ribeirão Preto, Ong Arco-Íris, Coletivo Abayomi, A9 - Água Alcalina, Alma (Academia Livre de Música e Arte), IPCIC - Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais, Casa Grafite Comunicação e Cultura, Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Educandário, Sesi, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Faculdade Metropolitana, Adevirp, Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Ann Sullivan do Brasil, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, Caeerp, Dr. Cãopaixão - Projeto Cães de Terapia, Fada, RibDown, NeuroRib, Conventions & Visitors Bureau, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada, Film Commission da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, Instituto do Livro, RPMobi, Coderp, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.
Mais informações:
www.fundacaodolivroeleiturarp.
Instagram: @fundacaolivrorp
Facebook: @fundacaodolivroeleiturarp
YouTube: /FeiraDoLivroRibeirao
Twitter: @FundacaoLivroRP