Na sala principal do Theatro Pedro II, o historiador, pensador e escritor destacou a leitura como caminho essencial para a construção de futuros melhores, afirmando que uma sociedade que lê “se torna mais pensante e mais crítica”
Leandro Karnal |
Créditos: Sté Frateschi |
A 24ª FIL- Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto recebeu na noite de segunda-feira (18) Leandro Karnal, reconhecido como um dos mais destacados pensadores brasileiros contemporâneos. Diante da plateia que lotou a sala principal do Theatro Pedro II, o historiador – também doutor em História Social – centrou sua fala na leitura como pilar fundamental para a construção de futuros menos temerosos.
Karnal iniciou citando o escritor e filósofo português Padre Antônio Vieira, para introduzir sua primeira reflexão: “o futuro não pertence à humanidade, embora saber dele seja o desejo mais genuíno e coerente com a natureza humana”. Para o palestrante, a ficção científica costuma projetar futuros sombrios, com robôs, destruição, violência e ausência de esperança. “São raros os otimistas. Mas falar do futuro é importante, especialmente entre tantas utopias e distopias atuais”, afirmou. Ele lembrou que a utopia representa uma proposta de sociedade ideal, enquanto várias distopias escritas no passado já se materializam, como no caso da sociedade regida por telas descrita por George Orwell em 1984.
Livros, telas e futuros possíveis
Em sintonia com o tema central da FIL – “Futuros Possíveis: entre linhas e parágrafos” – Karnal defendeu o livro e a leitura como protagonistas na construção de alternativas menos sombrias. Ele citou a experiência da Finlândia, que por duas décadas substituiu os livros físicos por telas no processo de alfabetização. Segundo o pensador, no início da pandemia, percebeu-se que crianças haviam perdido a mobilidade fina, incapazes de realizar microoperações com os dedos. “Isso aconteceu porque deixaram de usar objetos simples como lápis, régua e borracha. O manuseio do livro físico, portanto, continua sendo essencial para o desenvolvimento humano”, destacou.
Sementes, saúde e kairós
Na parte final de sua conferência, Karnal abordou a leitura sob três perspectivas: promotora de saúde, semente de transformações e prática que qualifica o tempo presente. “Quanto mais interesses você tem, mais interessante você se torna. Lendo, formamos uma sociedade mais crítica e capaz de pensar bem. Nunca imaginei que, na minha idade madura, teria que lembrar às pessoas que vacinas funcionam e que a Terra é redonda”, disse.
O historiador revelou sua prática de doar livros a bibliotecas como a da Fundação Casa, de penitenciárias e de trabalhos sociais como o do padre Júlio Lancelotti, todos na cidade de São Paulo.
O historiador também compartilhou sua prática de doar livros a bibliotecas de penitenciárias e instituições sociais. “A leitura nas prisões reduz o tempo de pena. Se existe algo capaz de tirar alguém da rua, é o livro. Livros não são peças de ouro: são sementes que precisam germinar em muitos lugares”, afirmou.
Sobre a relação entre leitura e saúde, foi enfático: “Não quero que minha família me olhe como um inútil porque perdi a memória ou não consigo me mover sozinho. Quero continuar presente. A morte não me assusta, mas o pedágio dela, sim. Por isso, leio: quero que a morte me encontre vivo”.
Encerramento
Leandro Karnal encerrou sua participação expressando o prazer em integrar a programação da FIL e como recado final incentivou a leitura como prática cotidiana. “Leiam bastante, leiam com amor, leiam o que é necessário e o que não é também. Leiam sozinhos ou em grupos de discussão. Leiam por resistência humanista”, afirmou. Para ele, participar de uma palestra em plena segunda-feira à noite é uma decisão estratégica de aproveitamento do kairós – o tempo qualitativo, da experiência significativa. “Me emociona ver este espaço lotado. Isso significa que todos aqui fizeram uma escolha de tempo caridoso, aproveitando o kairós”, concluiu.
A programação completa da FIL 2025 está disponível no site da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto: www.fundacaodolivroeleiturarp.
Sobre a FIL
A FIL - Feira Internacional do Livro de Ribeirão Preto) consagrou-se como um dos maiores eventos culturais do país e tornou-se internacional em 2020. Possui 25 anos de história e realiza neste ano a sua 24ª edição. A cada ano, a programação reúne autores, artistas, intelectuais, educadores, estudantes e participantes de diversas localidades. Todas as atividades são gratuitas e abertas à população, o que consolida o objetivo primordial de fomentar a leitura e de contribuir para ampliar os números de leitores do país. Em 2024, o evento registrou público de 250 mil pessoas, presença de 260 escritores e mais de 400 atividades realizadas. O impacto na economia de Ribeirão Preto foi da ordem de R$ 5 milhões.
Patrocínio Diamante: Usina Alta Mogiana
Patrocínio Ouro: GS Inima Ambient
Patrocínio Prata: Necta Gás Natural e Savegnago
Patrocínio: Apis Flora, AZ Tintas, Caldema, Caseli Tracan, Engemasa, RibeirãoShopping, Riberfoods, Pedra Agroindustrial S/A e TMA Máquinas.
Instituição Cultural: Sesc e Senac
Apoio Cultural: ACI-RP, Automotiva Cestari, Lopes Material Rodante, Macopema, Monreale Hotel, Santiago e Cintra Geotecnologias, Grupo Suprir, Tonin Superatacado e Santa Helena.
Apoio Institucional: Fundação Dom Pedro II, Theatro Pedro II, Biblioteca Sinhá Junqueira, CUFA Ribeirão Preto, Ong Arco-Íris, Coletivo Abayomi, A9 - Água Alcalina, Alma (Academia Livre de Música e Arte), IPCIC - Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais, Casa Grafite Comunicação e Cultura, Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto, ETEC José Martimiano da Silva, Educandário, Sesi, Centro Universitário Barão de Mauá, Centro Universitário Moura Lacerda, Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Faculdade Metropolitana, Adevirp, Fundação Dorina Nowill Para Cegos, Ann Sullivan do Brasil, Associação de Surdos de Ribeirão Preto, Caeerp, Dr. Cãopaixão - Projeto Cães de Terapia, Fada, RibDown, NeuroRib, Conventions & Visitors Bureau, Painew, Verbo Nostro Comunicação Planejada, Film Commission da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, Instituto do Livro, RPMobi, Coderp, Guarda Civil Municipal e Polícia Militar.
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