Grace Gianoukas representa atriz conhecida por romper padrões
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Créditos: Heloísa Bortz |
Grace Gianoukas, vencedora dos prêmios, APCA e Shell (2024) de melhor atriz, I Love PRIO (2024) de melhor performance, e Kiko Rieser, vencedor do Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Dramaturgia Original (2023), e Ventilador de Talentos apresentam “Nasci pra ser Dercy”. Com voz off de Miguel Falabella, o monólogo, com Grace Gianoukas, presta homenagem a Dercy Gonçalves, artista que rompia padrões e inaugurou uma representação genuinamente brasileira em nossos palcos.
Desde a estreia em São Paulo, bem como em turnê nacional, o sucesso continua por toda a cidade em que passa. O espetáculo ainda foi indicado ao Prêmio CENIM de melhor monólogo, e prêmio Miguel Arcanjo, melhor direção, peça e atriz.
O texto busca unir o apelo popular e o carisma de Dercy através de uma profunda pesquisa, a peça mostra a importância, muitas vezes ignorada, da atriz para o teatro brasileiro e para a liberdade feminina, bem como sua inquestionável singularidade.
Desbocada e defensora da mais profunda liberdade, era muito recatada em sua vida íntima, chegando a se casar e enviuvar anos depois ainda virgem. Contestava frontalmente a censura da ditadura militar, mas se recusava terminantemente a levantar bandeiras políticas específicas que não fossem a da irrestrita liberdade e do respeito a todas as formas de existir.
A atriz se consagrou como vedete do Teatro de Revista, mas sua maior contribuição ao nosso teatro se deu ao levar essa expertise para a comédia popular, que ela revolucionou inteiramente, trazendo textos fundamentais para o Brasil e instaurando uma nova forma de interpretar, que rompia com todos os padrões e inaugurava em nossos palcos uma representação genuinamente brasileira. Amada por quase todo o país, Dercy Gonçalves é uma figura largamente reconhecida, mas pouco conhecida de fato.
“Dercy Gonçalves é retratada quase sempre como apenas uma velha louca que falava palavrão”, fala Kiko Rieser, que no texto procura revelar ao público a mulher grandiosa e complexa que ela foi. “Uma atriz vinda do teatro de revista que recriou a comédia brasileira. Uma mulher que era chamada de puta, mas que casou e enviuvou virgem, iconoclasta e devota, libertária mas avessa a qualquer bandeira, inclassificável e singular”, completa o autor.
ASSIM COMO DOLORES - Grace Gianoukas, atriz
Quando eu nasci, o Brasil já gargalhava com Dercy Gonçalves. À medida que eu fui crescendo, fui assistindo a seus trabalhos no cinema, na TV, suas participações memoráveis nos programas de auditório... No final dos anos 80, a partir de uma sugestão da atriz Christiane Tricerri, fui convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversarmos com ela no final. Foi ótimo! Ela nos tratou com muito carinho e disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: “Evitem ficar tirando a roupa em qualquer trabalho. Enquanto vocês são jovens, muitas vezes a nudez é só exploração da imagem feminina, é só chamariz, não tem nada de arte. Deixem pra ficar nuas quando tiverem a minha idade. Uma velha nua é uma transgressão, traz questionamento, e isso é arte.”
Convivi com várias mulheres de sua geração e sei dos horrores de moralismo, machismo e opressão social que elas passaram, e por isso admiro Dercy profundamente, pela força, inteligência, empreendedorismo e extraordinário talento como atriz, autora e produtora.
O convite de Kiko Rieser para atuar em “Nasci pra ser Dercy” me trouxe uma grande oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa, que, assim como eu, nasceu numa cidade do interior, onde muitas vezes se sentia extremamente deslocada e incompreendida. No entanto, ao contrário de mim, que sempre tive o apoio da minha família, ela teve que enfrentar o mundo sozinha, sem nenhuma orientação, amparada apenas pela força de sua alma em expansão. Essa alma, guiada pelo seu desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves, uma grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro.
A AVÓ DE TODOS NÓS - Kiko Rieser, autor e diretor
Quando criança, eu queria que Dercy fosse minha avó. Dito isso em voz alta, minha avó Daisy ficou ofendidíssima, ou ao menos fingiu que ficou, como se eu quisesse substituí-la. Na minha cabeça – e foi isso que respondi – a coisa era simples: tendo apenas uma avó, havia ainda um outro posto vago, que poderia ser ocupado por aquela velhinha que me encantava com sua autenticidade e seu despudor em soltar verdades e palavrões conforme lhe vinham à cabeça. Acho que nunca havia visto até então, como tampouco vi depois, uma pessoa tão autêntica quanto Dercy Gonçalves. Faço parte da última das diversas gerações que Dercy atravessou e influenciou em 101 anos de uma vida intensa e prolífica, e é claro que descobrir uma senhora emplumada no alto de seus 90 anos mandando tomar no cu quem lhe desse na telha e se dirigindo ao presidente da República com um “ô, cara” tinha um sabor especial de transgressão. O estigma da “velha louca que fala palavrão” me fascinou.
Mais tarde descobri como essa definição é redutora, e até mesmo falsa, porque de louca Dercy não tinha nada. Pelo contrário, tinha consciência e método de sobra. Só depois que escolhi o palco como ofício, me deparei com a imensa importância que ela teve para o teatro e a autonomia das mulheres. Podemos dizer sem risco de exagero que Dercy revolucionou o teatro brasileiro. Das tantas faces dessa atriz colossal, a maioria segue desconhecida pelo país. Hoje, 15 anos após sua morte, acho escandaloso que ainda não tenha havido uma obra dedicada a ela na arte à qual ela dedicou toda sua existência: o teatro. “Nasci pra ser Dercy” é uma homenagem, mas também um resgate histórico e um alerta para que a memória da cultura brasileira não se perca, para que saibamos sempre quem são as pessoas que vieram antes de nós e, assim como nossas avós, pavimentaram o caminho para que hoje sejamos quem somos. Obrigado, Dercy!
FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Kiko Rieser
Atriz: Grace Gianoukas
Voz off: Miguel Falabella
Diretor de Produção: Paulo Marcel
Técnico de luz: Jânio Silva
Técnico de som: Éder Sousa
Contra regre/camarim: Venício Alvarenga
Cenário e figurino: Kleber Montanheiro
Desenho de luz: Aline Santini
Trilha sonora original e arranjos: Mau Machado
Canção-tema “Só sei ser Dercy”: Danilo Dunas e Pedro Buarque
Visagismo: Eliseu Cabral
Assistência de direção: André Kirmayr
Preparação corporal: Bruna Longo
Preparação vocal: André Checchia
Assistência de figurino: Marcos Valadão
Cenotécnica: Evas Carreteiro
Design gráfico: Pierre da Rosa
Assessoria de imprensa: Flavia Fusco Comunicação
Mídias sociais: Pierre da Rosa
Fotos: Heloísa Bortz(estúdio) Priscila Prade(cenas/palco)
Assessoria jurídica: Dr. Sérgio Almeida
Realização e Produção Nacional: Ventilador de Talentos
Produção associada: Rieser Produções
Serviço
Nasci para ser Dercy
Data: 9/8
Horário: sábado, às 20h
Local: Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas – Rua da Bahia, 2.244
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 120 (setor I, inteira); R$ 100 (setor II, inteira).
À venda na bilheteria ou na Sympla.
Bilheteria: (031) 3516-1360
Estacionamento com acesso interno: entrada pela rua da Bahia, ao lado do Teatro. Após estacionar o veículo, o usuário chega ao Teatro por elevador interno, com rapidez e segurança. O Estacionamento fica aberto até meia hora após o fim do espetáculo.
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