Projeto reúne franqueados veteranos, filhos e especialistas para discutir a continuidade dos negócios locais e evitar rupturas comuns em empresas familiares
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Foto: Divulgação |
A sucessão familiar é um dos maiores gargalos enfrentados por empresas brasileiras. Segundo o IBGE, apenas 30% das empresas familiares no país chegam à segunda geração, e menos de 5% alcançam a terceira. No setor de franchising, onde grande parte das unidades franqueadas é operada por famílias, esse risco se amplia: muitas vezes, não há planejamento estruturado para a transição de comando, o que pode comprometer a longevidade do negócio.
Na Casa do Construtor, rede especializada na locação de equipamentos para obras, esse desafio deixou o campo das intenções e ganhou forma concreta. Desde o final de 2024, a empresa mantém um Comitê de Sucessão, criado para apoiar franqueados que desejam iniciar o processo de transição para os filhos — ou que já iniciaram, mas enfrentam dificuldades na continuidade da operação.
Com 800 unidades previstas até o fim de 2025, incluindo operações no Paraguai, Uruguai e Argentina, a Casa do Construtor reconhece que garantir a perenidade das unidades é tão estratégico quanto expandir a rede. “A maioria das franquias nasce como um negócio familiar. Mas poucas constroem um caminho estruturado de sucessão. Nosso comitê surgiu para preencher essa lacuna e apoiar as famílias nesse processo”, explica Mariana Arena, uma das líderes da iniciativa.
O Comitê de Sucessão reúne franqueados veteranos, seus filhos e especialistas em governança, gestão e psicologia organizacional. Ao longo de quatro módulos, os participantes têm acesso a encontros com nomes como Mary Nicoliello (especialista em sucessão familiar), os advogados Luiza Saboia e Renato Tardioli, além da consultora Danila Teixeira, que conduz uma oficina prática com dinâmicas familiares reais.
A proposta é oferecer um ambiente seguro para o diálogo intergeracional — discutindo tanto aspectos objetivos, como contratos e estrutura societária, quanto temas subjetivos, como expectativas, escuta ativa, inseguranças e conflitos entre pais e filhos. “É um espaço sem julgamento. As histórias são diferentes, mas os desafios se repetem: comunicação, confiança, preparo e tempo. Não existe fórmula pronta, e sim construção coletiva”, afirma Natalia Cristofoletti, que divide a condução do projeto com Mariana.
Ambas têm trajetórias que espelham a realidade de muitos filhos de franqueados. Aos 12 anos, Mariana já fazia serviços bancários para o pai, Expedito Arena, e mais tarde aprendeu a cadastrar clientes em sistemas rudimentares. Natalia, filha de Altino Cristofoletti Junior, começou dobrando exemplares do jornal interno da rede aos 13. Décadas depois, ambas lideram o processo que ajuda novas gerações a encontrar seu espaço no negócio da família.
Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor de franquias registrou um crescimento de 13,8% no faturamento em 2024, alcançando R$ 240,6 bilhões, e quase 200 mil unidades ativas no país — muitas delas tocadas por núcleos familiares. Apesar do desempenho positivo, a entidade reforça que poucos franqueadores desenvolvem ações estruturadas voltadas à sucessão nas unidades.
Para Altino Cristofoletti Junior, fundador da Casa do Construtor, o processo é comparável a uma obra: “Sucessão é como construir uma casa. Começa com valores, confiança, escuta. Depois vêm os ajustes, as mudanças, e o projeto ganha forma. Se for bem conduzido, o resultado é sólido.”
Ao incentivar a continuidade das operações por meio do diálogo entre gerações, a Casa do Construtor lança luz sobre um tema estratégico para o franchising brasileiro — e sinaliza um caminho possível para redes que buscam crescer e também permanecer relevantes ao longo do tempo.