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Cientistas desenvolvem solução capaz de otimizar a resposta das plantas à crise climática

9 de Julho de 2025

A iniciativa adota como base a nanotecnologia e integra o projeto paranaense de restauração da Mata Atlântica

Em uma dinâmica que se retroalimenta, o desmatamento da Mata Atlântica está entre os principais fatores de desregulação climática nas regiões sul e sudeste do Brasil, e é essa mesma desregulação que impede que uma parcela significativa do processo de restauração florestal de áreas desmatadas do bioma se concretize. Segundo o MapBiomas, o estresse abiótico — provocado por questões climáticas como déficit hídrico e elevadas temperaturas — compromete cerca de 46% das iniciativas de reflorestamento no Brasil, dificultando que o país alcance a meta de restauração de 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, objetivo imposto em 2017 pelo Decreto Nacional nº 8.972.

Diante dessa dinâmica, o NAPI Biodiversidade: RESTORE (natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation) tem investido em “nanoaliados” capazes de ajudar as plantas a produzir uma resposta otimizada a diferentes tipos de estresses ambientais. A solução do RESTORE se baseia na técnica de encapsulação de doadores de óxido nítrico, molécula que desempenha um papel crucial como sinalizadora em diversos processos biológicos em plantas, por meio da utilização de nanomateriais biodegradáveis como a quitosana, subproduto da indústria pesqueira. A nanoencapsulação permite que a planta beneficiada aproveite os efeitos do óxido nítrico durante um período mais longo e se torne mais resistente. 

Durante experimentos recentes conduzidos por membros do RESTORE, a aplicação de nanopartículas de quitosana contendo compostos de óxido nítrico foi testada em mudas de três espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica: jatobá-da-mata (Hymenaea courbaril), amburana (Amburana cearensis) e jatobá-do-cerrado (Hymenaea stigonocarpa). As mudas, após um período de aclimatação em sombra moderada, foram submetidas a diferentes concentrações das nanopartículas e do composto livre. Os resultados revelaram que a formulação nanoencapsulada é capaz de desencadear efeitos positivos sobre parâmetros fisiológicos como fotossíntese, condutância estomática e acúmulo de biomassa. Embora as respostas tenham variado entre as espécies, a maior parte dos tratamentos superou as respostas das plantas que não foram beneficiadas pela solução, demonstrando o potencial do óxido nítrico, especialmente em sua forma nanoestruturada, como indutor de mecanismos protetores em espécies florestais sob condições adversas.

Esse tipo de abordagem é especialmente relevante quando se considera que 70% das áreas destinadas à restauração no Brasil apresentam solos degradados, baixa disponibilidade hídrica e presença de espécies invasoras que competem com as nativas. Segundo o coordenador do NAPI RESTORE, o professor Halley Caixeta de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), nesse cenário, o uso de bioinsumos nanotecnológicos pode funcionar como um “impulso inicial”, garantindo que as plantas jovens consigam atravessar o estágio mais vulnerável do seu desenvolvimento. “Ao melhorar a eficiência no uso da água e otimizar a capacidade fotossintética, esses compostos ajudam a compensar as deficiências do ambiente a ser restaurado e a acelerar a regeneração ecológica”, pontua.

Além disso, a utilização de nanopartículas à base de quitosana traz vantagens adicionais em termos de sustentabilidade. Por se tratar de um polímero natural, biodegradável e de baixo custo, obtido a partir de resíduos da indústria pesqueira, a quitosana oferece uma alternativa ecologicamente responsável para a liberação controlada de moléculas bioativas. Essa característica não apenas reduz os impactos ambientais da intervenção, como também alinha a tecnologia aos princípios da economia circular, unindo inovação, conservação e reaproveitamento de recursos naturais.

“Ao fortalecer a resiliência fisiológica de mudas nativas frente ao estresse hídrico e térmico, os “nanoaliados” representam não apenas uma inovação científica, mas uma ponte promissora entre a biotecnologia e a regeneração dos ecossistemas ameaçados”, reforça o coordenador do NAPI RESTORE.

Conheça essa e outras iniciativas do NAPI, em: https://napibiodiversidade.eco.br/ 

Sobre o NAPI Restore

O projeto NAPI Biodiversidade: RESTORE — sigla para natuRe-basEd SoluTions for imprOving REforestation — representa uma resposta à demanda de iniciativas de restauração florestal, baseada em ciência, tecnologia e cooperação institucional. Coordenado pelo professor Halley Caixeta de Oliveira, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o projeto reúne uma rede de diversas instituições, incluindo pesquisadores do estado de São Paulo, da França e da Alemanha, e conta com o aporte da Fundação Araucária e da SETI (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná). Seu foco principal é desenvolver soluções inovadoras para a produção de mudas mais resilientes e para a restauração de solos degradados em áreas de reflorestamento ecológico.

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