Em turnê pelo Brasil, cantora leva novo repertório aos palcos. Confira datas
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Créditos: Elisa Bezerra |
Anna Ratto retorna com 10 faixas em “Vison Negro”. O álbum dedicado à obra de Arnaldo Antunes inclui cinco músicas inéditas enviadas por ele à cantora, além de faixas que fizeram parte do show “Contato Imediato”. Com Produção de Liminha e Kassin, o trabalho inclui também “Não Temo”, composição de Anna com Arnaldo.
Confira as próximas datas da turnê.
25 e 26 de junho – Clube Manouche - RJ (Participação Especial - Fernanda Takai)
17 de julho – Bona SP (Participação Especial - Fernanda Takai)
25 de julho - Festival de Inverno de Campos do Jordão
17 e 18 de setembro - SESI BH (Teatro de Bolso) [Participação Especial - Fernanda Takai]
"Vison Negro"
“Era pra ser um EP e virou álbum! É que ao longo da turnê do disco ‘Contato Imediato’ - o primeiro dedicado à obra de Arnaldo Antunes - fomos acrescentando outras canções pra dar conta de um tempo razoável de show, já que o disco era enxuto, com apenas dez faixas. Alguns hits mais conhecidos de Arnaldo e outras mais lado B. Num belo dia, o Kassin sugeriu que eu regravasse três delas. Já estavam prontas, com arranjos interessantes, funcionando super bem ao vivo. Achei ótima ideia e topei!”, revela Anna Ratto a este que vos fala, quando perguntada sobre como surgiu a ideia de gravar, novamente, a obra de Arnaldo Antunes.
Ouça aqui: https://orcd.co/
Bem, semente forte, depositada em solo fértil, germina. “Vison Negro”, sétimo álbum da cantora e compositora carioca, lançado pela Biscoito Fino, é o microcosmo onde essa sagitariana inquieta, dona de uma diversificada trajetória discográfica, iniciada em 2006, manifesta sua maturidade artística. Suas escolhas assertivas passaram pela montagem de um notável combinado de produtores, músicos, técnicos e, claro, pela especial seleção de repertório. A princípio, seu plano era registrar quatro canções, apenas. Uma espécie de complemento pro ‘Contato Imediato’. “Escrevi pro Arnaldo pra ver se tinha algo novo no seu “baú”. Seria a cereja do bolo, uma inédita, junto às outras três releituras. Mas ele mandou seis músicas! E depois, mais umas quatro!…”, explica. “O que era pra ser EP virou álbum! Desta vez, com metade de inéditas!” E produzido pela dupla Kassin e Liminha.
Assim sendo, a artista de voz potente e aveludada, se debruçou sobre o repertório e, junto aos produtores, convocaram um time forte pra fazer um disco cantado e tocado de verdade. Pode soar estranho, mas tal missão é considerada um ato de ousadia em tempos nos quais as ferramentas digitais (plugins, apps, libraries e IAs) dominam a linguagem da música pop contemporânea, quase que completamente. É fato.
Com um elenco de alto nível, formado por craques como Jorge Ailton (baixo), Davi Moraes (guitarra), Marcelo Galter (piano), Paulo Braga (bateria), Tuto Ferraz (bateria), (bateria), Estevan Barbosa (bateria), Elisio Freitas (guitarra) e outras feras, Liminha e Kassin assumiram parte dos instrumentos e as gravações fluíram em total sintonia: “Somos três personalidades diferentes que se afinaram num lugar muito especial. Deu match”, completou, Anna.
Divertido e leve, sem ser superficial — ao contrário, “VisonNegro” é um disco solar, alto astral, cujos arranjos vão direto ao ponto, sem floreios e sem perda de tempo, assim como as letras das canções. A faixa-título, a elétrica “Vison Negro” (A. Antunes), que abre os trabalhos, provoca: “Eu te amo, mas eu vivo com você porque você vai fazer sucesso/ E vai dar brilhantes, vai me dar diamantes, vai me dar um vison negro”. Por trás do texto que enumera o interesse pelo luxo consumista das influencers da vida, vem a crítica certeira, ácida e bem humorada. Este petardo sonoro e as energéticas “Melhor não enfeitar” (A. Antunes/ P. Miklos/ Liminha), “Não temo” (A. Antunes/ A. Ratto) e “Sem você” (A. Antunes/ C. Brown) formam um sólido bloco de rocks no qual Anna Ratto coloca seus pés de vez no gênero. Ela mesma confessa: “Fui uma adolescente bem roqueirinha. De fechar os olhos e fingir que era Rita Lee... Muito fã da Cássia Eller, da Gal-70, Baby e muita música gringa também…”.
Mas a viagem pop de “Vison Negro” faz um pitstop no Pará, com outra inédita, a guitarrada “Bam bam bam” (A.Antunes/ Hyldon/ Ceu), uma delícia. Depois, prossegue até o Caribe com o reggae dub “Dança” (A. Antunes/ M.Monte), aterrissando em Belo Horizonte, onde Fernanda Takai embarca para dividir os vocais em “Todo dia e toda hora com você” (A. Antunes/ M .Jeneci/ B. Aguiar/ Fefê/ Junix). Nesta bonita balada, as referências timbrísticas que remetem aos Beatles não são obra do acaso, onde poesia se alinha à estética sonora. As radiofônicas “Um branco, um xis, um zero” (A. Antunes/ M. Monte/ P.Gomes) e “Se tudo pode acontecer” (A. Antunes/ A.Ruiz/ P. Tatit/ J. Bandeira) confirmam a tese.
Outro aspecto que chama a atenção é a sonoridade do disco, forte, cristalina e vigorosa. Certamente, a chegada do experiente de Michael H. Brauer, engenheiro estadunidense consagrado, que trabalhou com estrelas como Aretha Franklin, Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Leonard Cohen, Roger Daltrey e Coldplay, dentre outras, acrescentou um ganho excepcional na mixagem, colocando seu altíssimo padrão de áudio em todas as faixas. Que som! Que pressão! “Vison Negro”, naturalmente, soará diferente aos familiarizados com a obra de Anna. “Busco evitar a repetição. Em tudo na vida. Não é fácil. Mas quero me conhecer em outros “cantos”, literalmente. Claro, sem perder a noção daquilo que me cabe”, reflete.
O sétimo álbum de Anna Ratto chega repleto de personalidade e perspectivas (sete é um número da plenitude, segundo a cabala). Há de se destacar a resiliência da artista independente, inserida num cenário alternativo desafiador que, cada vez mais, exige convicção e determinação. Quais rumos seguir para levar seu trabalho em frente no fragmentado mercado fonográfico nacional – eis a questão. “Com esse disco então, furar bolhas e romper certas barreiras seria uma surpresa sem fim…Mas isso já não é uma preocupação. Isso nunca pode dirigir uma artista”, afirma. Pois que venham a turnê de “Vison Negro” e o justo sucesso.
- Charles Gavin.