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Invasão ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) durante os atos criminosos de 8 de janeiro em Brasília | Foto: Joedson Alves/Anadolu Agency via Getty Images |
Os militares querem impedir a posse do presidente eleito. Quem conhece um pouco da história da República brasileira não se surpreende. Desde o início da República, os militares se posicionam como os salvadores da pátria. Isso se agrava com o advento da luta ideológica entre o capitalismo e o comunismo. As escolas militares, influenciadas pelos americanos, doutrinam os jovens militares que assumem o comando dos quartéis com a missão de impedir que os esquerdistas assumam o controle do país. Os militares estão atentos aos movimentos políticos e expressam sua opinião por meio de artigos e entrevistas nos principais veículos de comunicação. A grande concentração militar está na capital do Brasil, sob o pretexto de proteger o regime, mas para alguns líderes da oposição é uma verdadeira espada de Dâmocles sobre a cabeça dos que querem mudanças no país.
O presidente eleito é acusado de ter ligações com a esquerda. Isso não é inaceitável para as elites brasileiras. Não abrem mão dos privilégios que acumularam durante tanto tempo. O agronegócio está de olho na proposta de reforma agrária que consta do programa de um dos partidos que apoiam o governo. A burguesia nacional não quer concorrência com a abertura do mercado para a importação de produtos que podem chegar ao Brasil com preços mais competitivos. A onda oposicionista considera que a única forma de impedir a posse do eleito é articular um golpe de Estado. Para isso é necessário movimentar as forças militares. A conspiração se desenvolve rapidamente e divide o país. Os partidos se acusam mutuamente, em debates no Congresso Nacional, de tramar um golpe de Estado e minar o sistema democrático. Há até ameaças pessoais entre os deputados. Cada grupo tem a sua própria narrativa sobre a responsabilidade da crise que o Brasil vive.
A Aeronáutica é o ninho da resistência militar contra a posse do novo presidente da República. Apesar de não ser a principal força militar do país, perde para o Exército e para a Marinha, tem a tradição de se rebelar contra o governo desde a crise que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Surpreende a todos a notícia que oficiais da FAB tomam a base aérea e se preparam para atacar tropas federais contrárias à rebelião. Os militares querem a derrubada de Juscelino Kubitschek, eleito em 1955, e seu vice é o autoproclamado sucessor do varguismo, João Goulart. O golpe tem como centro a base aérea de Jacareacanga, no Pará. As forças federais cercam a base no primeiro ano do governo de JK, mas a Aeronáutica não consegue motivar nem o Exército e nem os civis. Os líderes da rebelião fogem para países vizinhos e são anistiados pelo Congresso Nacional. Mas o grupo, comandado por Major Veloso e pelo coronel Burnier, três anos depois volta a tentar o golpe. Fazem o primeiro sequestro aéreo do Brasil ao capturar um avião da Panair que viajava para Manaus, e tomam aviões caças e de transporte da FAB. Veloso e Burnier esperam o apoio da União Democrática Nacional e de forças militares. Sem sucesso. Uma rápida reação do Exército faz com que a rebelião não dure mais do que 36 horas e mais uma vez os líderes sequestram aviões e aterrissam em países limítrofes do Brasil. Desta vez, Juscelino não apoia a anistia e deixa a crise para ser resolvida pelo seu sucessor: Jânio Quadros. Este tenta um golpe em 1961, sem êxito, e renuncia à presidência do Brasil.
*Prof. Heródoto Barbeiro âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Midia Training e Budismo. Grande prêmio Ayrton Senna, Líbero Badaró, Unesco, APCA, Comunique-se. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina”, www.herodoto.com.br