Queda na cobertura vacinal global impulsiona riscos de surtos e alerta autoridades sanitárias
Silvia Fonseca, infectologista e docente do IDOMED |
O avanço de doenças como o sarampo e a poliomielite, que por décadas foram controladas, tem preocupado autoridades de saúde mundialmente. Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) registraram um aumento de 20% nos casos de sarampo no mundo todo em relação ao ano anterior, totalizando 10,3 milhões de novos casos.
Essa alta se deve principalmente à insuficiente cobertura vacinal. Globalmente, apenas 83% das crianças receberam a primeira dose da vacina contra o sarampo, e apenas 74% completaram o esquema com as duas doses, números abaixo dos 95% necessários para interromper surtos. No Brasil, embora a situação tenha melhorado e o país tenha sido recertificado como livre do sarampo, essa condição só se manterá com altas taxas de vacinação. Em 2024, cerca de 91,2% das crianças receberam a primeira dose e 81,3% a segunda dose.
A poliomielite também é motivo de alerta. Recentemente, o Brasil substituiu a vacina oral contra a pólio pela versão injetável, uma alternativa ainda mais segura e eficiente para proteger contra a doença. No entanto, enquanto houver casos de poliomielite no mundo, o risco persiste e ninguém está totalmente seguro a menos que esteja vacinado. No Brasil, a cobertura vacinal contra a poliomielite foi de apenas 69,9% em 2021, com alguns estados apresentando índices ainda mais baixos, como o Amapá, que alcançou apenas 44%. Esses dados refletem o impacto da desinformação e a falta de acesso em algumas regiões, fatores que comprometem a erradicação dessas doenças.
“A baixa adesão à vacinação expõe a população a riscos reais, como por exemplo o recente aumento de casos de coqueluche em São Paulo, e destaca a importância de mantermos altas coberturas vacinais para evitar o retorno de doenças controladas”, alerta Silvia Fonseca, infectologista e docente do IDOMED.
“Vacinar não é apenas um cuidado pessoal, mas uma ação solidária que previne doenças graves e evita internações e sequelas permanentes. Precisamos reconquistar a confiança da população nas vacinas. A desinformação deve ser combatida com campanhas educativas e transparência. A vacinação não protege só o indivíduo, mas toda a comunidade ao seu redor, reduzindo a transmissão de doenças”, encerra a docente.
Recuperar a confiança nas vacinas passa por um conjunto de fatores. Campanhas de conscientização que fornecem informações claras sobre a segurança e a eficácia das vacinas ajudam a combater a desinformação, enquanto o fácil acesso a postos de vacinação e o investimento em infraestrutura de saúde garantem que todos possam se vacinar. Além disso, a crescente transparência nas informações sobre efeitos e
benefícios das vacinas tem mostrado à população que imunizar-se é uma medida segura e eficaz, protegendo não apenas a saúde individual, mas de toda a comunidade.