Informes - GERAIS

Lançado podcast "À flor da pele", que mostra os bastidores da pesquisa sobre hanseníase no Brasil

7 de Novembro de 2024

Uso de IA para rastrear doentes no país, testes em peles humanas retiradas de cirurgias e busca de anticorpos prometem agilizar diagnósticos para vencer a endemia oculta de hanseníase no Brasil

Desde os anos de 1980, médicos usam o mesmo esquema de tratamento, com os mesmos antibióticos, para tratar a hanseníase. A doença, descrita pela primeira vez 4 mil anos antes da Era Comum, ainda desafia pesquisadores de todo o mundo. Mas no debate e pesquisas sobre o tema, o Brasil tem presença reconhecida no cenário mundial. O assunto está no podcast “À Flor da Pele”, que acaba de ser lançado.

Em cinco episódios, À Flor da Pele aborda os estudos mais recentes para identificação e tratamento da doença e mostra os avanços em pesquisa sobre hanseníase junto ao Programa de Pós-graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP (FMRP-USP), coordenado pelo professor Marco Andrey Cipriani Frade, dermatologista e hansenologista, que também coordena um dos grandes centros de pesquisa sobre o assunto do mundo e é o atual presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH).

À Flor da Pele conta toda essa história com recortes da vida de um personagem central, que é o sr. Gilberto Bardela, 95 anos, diagnosticado com hanseníase ainda adolescente. O primeiro episódio “Do pó ao algoritmo” começa nos anos 1940 com o sr. Gilberto jogando bola em um campinho de terra de um povoado no interior paulista, quando foi abordado por dois homens e levado para uma colônia de internação compulsória para pacientes de hanseníase.

“Disseram que era uma doença que eu tinha e precisava tratar. Eu disse não, eu quero a minha mãe”, é a memória que o sr. Gilberto tem daquele dia. Recortes da vida de Gilberto Bardela ajudam a ilustrar o drama das pessoas afetadas pela hanseníase no Brasil para explicar ao público a importância dos trabalhos dos pesquisadores Filipe Rocha Lima, Natália Aparecida de Paula Rios e Matheus Mendonça Ramos Simões, na FMRP-USP.

Na mesma cidade onde sr. Gilberto jogava bola, foi realizado recentemente um levantamento que resultou em uma pesquisa que coloca a Inteligência Artificial para auxiliar na identificação casos suspeitos de hanseníase pelo país. “A IA foi utilizada para apontar casos suspeitos conforme padrões de respostas ao Questionário de Suspeição de Hanseníase, que tem sido aplicado em pesquisas de campo e unidades de saúde em todo o Brasil”, explica o médico Marco Andrey.

“Dos papiros às revistas científicas” é o tema do segundo episódio que conta a história de Luiz Marino Bechelli, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP e o primeiro médico brasileiro a despontar no cenário mundial da hanseníase. Nos anos 1980, ele criticou a adoção de um antibiótico ao esquema de tratamento da hanseníase alertando a OMS sobre o risco de levar à resistência do bacilo. Hoje, artigos científicos atestam a existência de cepas resistentes no Brasil.

Os próximos episódios são “Identificar o inimigo”, “A resistência” e “O recomeço” que mostram os desafios abraçados pelos orientandos do prof. Marco Andrey na FMRP-USP para encontrar formas mais rápidas e eficientes de comprovar a presença do bacilo de Hansen no corpo humano. “Nossos pesquisadores estão treinando a inteligência artificial para rastrear casos suspeitos de hanseníase no país, já em uso e com resultados positivos, estão fazendo testes em peles humanas retiradas de cirurgias e que seriam descartadas para ajudar na identificação mais rápida da presença do bacilo de Hansen no corpo humano e outros estudos buscam identificar a presença de anticorpos que prometem agilizar diagnósticos”, resume Marco Andrey.

Segundo a SBH, que realiza até 8/11, sexta-feira, o 18º Congresso Brasileiro de Hansenologia, em Salvador-BA, o percentual importante de diagnósticos tardios de hanseníase no Brasil mostra que milhares de doentes ainda estão há muitos anos sem diagnóstico e sem tratamento no país. “É preciso ampliar os diagnósticos para quebrar a cadeia de transmissão do bacilo. O diagnóstico tardio aumenta os riscos de sequelas incapacitantes e irreversíveis por hanseníase, o que é inadmissível para uma doença que é conhecida e tem tratamento gratuito no país”, resume o presidente da SBH.

À Flor da Pele é um podcast narrativo e está disponível nos principais tocadores, como Spotify, Amazon Music, Deezer e Youtube Music. Os episódios serão publicados sempre às terças-feiras, até o dia 3 de dezembro. A produção é da Texto & Cia Comunicação, de Ribeirão Preto-SP. Os roteiros e entrevistas foram feitos pela jornalista Daniela Antunes e a também jornalista Blanche Amancio revisou os roteiros e narra os episódios.

Ficha técnica

À flor da pele – primeira temporada do podcast do Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP (FMRP-USP)

Concepção, roteiro e edição: Daniela Antunes

Revisão de roteiros e locução: Blanche Amancio

Supervisão: Marco Andrey Cipriani Frade, coordenador do Programa de Pós-graduação em Clínica Médica FMRP-USP

Produção: Texto & Cia Comunicação

Gravação: Estúdio Nova Nave

Comentários
Assista ao vídeo