Ao todo, 22,1 milhões de brasileiros de 16 anos ou mais fizeram jogos nos últimos 30 dias.
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O crescimento das apostas esportivas e outros jogos de azar no Brasil tem chamado a atenção de especialistas e impactado a sociedade de forma significativa. De acordo com um estudo recente do DataSenado, 22,1 milhões de brasileiros (13%) relataram ter participado de bets no último mês, destacando o aumento da popularidade dessas atividades. A médica psiquiatra Dra. Maria Fernanda Caliani alerta para os riscos associados ao jogo compulsivo, uma condição que pode ter graves consequências para a vida pessoal e financeira dos indivíduos.
Segundo a Dra. Maria Fernanda, o transtorno do jogo compulsivo é caracterizado pelo desejo incontrolável de continuar jogando, mesmo diante de perdas significativas. “O jogo pode estimular o sistema de recompensa do nosso cérebro, de forma semelhante ao que ocorre com o uso de drogas e álcool, levando ao vício”, explica a psiquiatra. Ela observa que o comportamento compulsivo está frequentemente associado à tentativa de recuperar dinheiro perdido, o que agrava ainda mais a situação financeira dos jogadores.
A especialista destaca que os sinais de alerta para o vício incluem a obsessão pelo jogo, o aumento progressivo das quantias apostadas, a irritabilidade quando se tenta parar, e o uso do jogo como forma de aliviar sentimentos de ansiedade, depressão ou tédio. “Muitos pacientes chegam a mentir para familiares e amigos para esconder a extensão do seu problema com o jogo, e alguns até recorrem a atividades ilícitas, como roubo ou fraude, para sustentar o vício”, conta Dra. Maria Fernanda.
Além das questões financeiras, o jogo compulsivo pode resultar em complicações legais, problemas de saúde mental e até tentativas de suicídio. A médica relata casos em que pacientes enfrentaram falência, problemas com a justiça e graves conflitos familiares por conta do vício. “O impacto na vida dessas pessoas pode ser devastador. Os jogadores compulsivos muitas vezes perdem empregos, relacionamentos e, em alguns casos, a própria saúde física e mental.”
A prevalência do jogo entre os brasileiros tem efeitos não só na vida dos apostadores, mas também no comércio e na economia. O aumento dos gastos com apostas tem levado à redução do consumo em outros setores, afetando o varejo e outros mercados.
Para aqueles que apresentam sinais de comportamento compulsivo, a Dra. Maria Fernanda recomenda a busca por ajuda profissional o quanto antes. “Se familiares, amigos ou colegas de trabalho expressarem preocupação com o seu comportamento, isso é um grande indício de que você pode estar precisando de acompanhamento”, alerta. Ela destaca que, embora o tratamento para o transtorno do jogo compulsivo possa ser desafiador, muitos pacientes encontram sucesso através de intervenções médicas e terapias.
Fatores de risco para o desenvolvimento do jogo compulsivo incluem predisposições genéticas, problemas de saúde mental como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e o uso de substâncias. Além disso, certas características de personalidade, como impulsividade e competitividade, podem aumentar a propensão ao vício. A psiquiatra observa que o jogo compulsivo é mais comum em jovens e adultos de meia-idade, mas também afeta a população idosa, principalmente em atividades como o bingo.
Dra. Maria Fernanda | Foto: Divulgação |
Dra. Maria Fernanda enfatiza a importância da prevenção e sugere evitar locais onde ocorrem jogos de azar e buscar ajuda no primeiro sinal de problema. “Programas educacionais voltados para grupos de risco podem ser úteis na prevenção do vício. Quanto mais cedo a pessoa reconhece o problema e busca tratamento, maiores são as chances de evitar complicações graves”, conclui.