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Primeiro álbum de Jana Andrade é como ver um filme de superação baseado em fatos reais

30 de Agosto de 2024

Misturando experiências próprias e vivências de pessoas próximas, cantora, compositora instrumentista dá voz a personagens que revelam perrengues e alegrias comuns da vida

Foto: Thaís Sá

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Garota do interior vai para a cidade grande tentar se tornar uma estrela. Disposta a tudo para realizar seus sonhos, ela se mete em altas enrascadas, encontra grandes aliados e um grande amor até se dar conta de que sua alma gêmea é a música. 

Poderia ser a sinopse de um filme qualquer da Sessão da Tarde, mas é apenas a história real de Jana Andrade, cantora e compositora que lança este mês seu primeiro disco, Transparente. 

Vida, obra, realidade e ficção se misturam no trabalho da artista, que é como uma janela através da qual se vê sua alma – ou como uma tela de cinema ou TV. Não que sua produção seja autobiográfica. É que as músicas contam histórias que poderiam acontecer com qualquer um – inclusive ela. Seus personagens, inspirados na observação do cotidiano, na convivência com amigos e familiares, retratam a aventura da existência.    

Vistas em conjunto, elas sugerem, não propositalmente, uma espécie de roteiro que reflete a própria trajetória de Jana – o deslumbramento, a decepção e a redenção. Como começo, meio e fim de uma narrativa de superação em um filme motivacional. Uma “jornada da heroína”, se preferirem: um trajeto de aprendizado e transformação.  

As canções do disco surgiram como exercícios de composição, que foram tão bem executados, que ganharam vida, cor e som. Isso fica evidente pelo passeio vertiginoso que a autora faz por diversos gêneros e narrativas, que, embora sejam diferentes, formam um mosaico coerente, como um caleidoscópio. “Elas podem ser relacionadas de diversas maneiras, e todas elas, de fato, desembocam em algum lugar seja do meu interior, seja da minha visão de mundo”, teoriza a autora. “A história do álbum é: uma pessoa sofreu uma coisa, ficou muito mal por isso, se perdeu no caminho começou a se reencontrar, se descobrir uma nova pessoa, e encontrou um novo amor”, resume. “Eu sou um ser humano como qualquer outro, e comigo não foi diferente”, compara. “Essa linha de fatos conta muito sobre a minha história com a minha carreira. Eu passei por situações que não me cabiam, não eram pra mim, e tentei me encaixar naquilo. Fiquei mal por isso, me redescobri depois, e hoje encontro e luto por esse novo amor que é a minha vivência e história com a música”. 

Assim, temos um arco narrativo meio abstrato, descrito pela ordem de lançamento das músicas. O primeiro single, Você não, é associado à “causa da dor”, a premissa da história. Em ritmo de bossa nova, fala sobre uma separação. As próximas três músicas, Tela Quebrada, Ontem juliana e Ô sarna, foram lançadas como um EP intitulado Turva, e descrevem o momento do fundo do poço após essa separação, em forma de blues, soul e rock. Enquanto a primeira é pura sofrência, a última já mostra um personagem aprendendo a sublimar a dor com deboche. Vem, o single mais recente, já aponta para uma certa leveza, com a história de um romance platônico trabalhado no R&B. 

As duas últimas músicas, que fecham o disco e chegam junto com o lançamento do álbum completo, são Meu nim, um forrozim gostosim que ela fez para conquistar o marido, e Transparente, uma canção estilo worship cujo objeto de adoração é a própria pessoa que se encontra após toda essa jornada: nossa heroína, protagonista e autora, enfim nos braços de si mesma e da música que, perto ou distante, esteve sempre dentro do coração. 

Sobre | Jana Andrade

Jana Andrade nasceu em Itapevi, cidade do extremo-oeste da grande São Paulo, em uma família humilde. Teve o primeiro contato com a música no meio religioso, quando morava com a mãe na casinha da igreja. Depois, mudaram-se para outra casa, onde a pequena artista pode ampliar um pouco mais seus horizontes culturais. 

Na nova igreja que passaram a frequentar, conheceu o professor Márcio Rodrigues, um músico brilhante, mas pouco reconhecido, que ela considera hoje como um mentor. Foi ele quem a incentivou a fazer aulas de canto coral oferecidas pela prefeitura, onde a professora de canto, Larissa Momberf, se encantou pelo talento da aluna. Acreditando no potencial da aluna, decidiu dar aulas particulares gratuitas para a futura cantora, que já fazia balé. 

Apesar da dedicação intensa às artes e à escola, aos 15 anos precisou entrar no mercado de trabalho para ajudar a mãe e melhorar as condições precárias de moradia, e a música ficou um pouco de lado por um tempo. Fazer estágios, trabalhar em supermercados, vender bolos e bombons foi a sina da artista por algum tempo. Até que, anos depois, já formada, ficou sabendo de uma vaga de emprego em São José dos Campos, para a qual foi contratada, passando a morar na cidade. 

Mais uma vez, nesta nova cidade, seus horizontes culturais se expandiram. Conheceu uma galera que já vivia de música e a estimularam a seguir sua vocação. Com muito esforço, Jana adquiriu um equipamento e começou a tocar em barzinhos e casamentos. Eventualmente, durante a pandemia, tornou-se também professora de música, profissão que exerce até hoje. 

Entre os amigos que fez no universo musical da cidade, dois deles, em especial, foram muito importantes para o seu trabalho,  Brendo Katagi e Denner Miranda. Quando ouviram as composições de Jana, não só a incentivaram a gravar como a ajudaram em todo o processo, criando arranjos, entre outras coisas. Em 2024, Jana lança seu primeiro álbum Transparente, fruto de muito suor e inspiração.

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