Com a chegada da estação mais fria do ano, é possível observar um aumento considerável no número de doenças no trato respiratório. Gripes e resfriados tornam-se mais frequentes devido à queda da temperatura, associada ao clima seco e à baixa umidade, característicos do inverno.
Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia apontam que cerca de 20% dos brasileiros sofrem com algum tipo de doença respiratória agravada pelo frio, a exemplo das gripes e resfriados, crises de asma, rinite alérgica, bronquite, sinusite e pneumonia.
O aumento significativo das síndromes respiratórias impacta diretamente a qualidade de vida de muitas pessoas. Segundo a otorrinolaringologista Rayza Gaspar, do Hospital Mater Dei Premium Goiânia, diversas condições tornam-se mais prevalentes durante essa estação, exacerbadas pelas características climáticas e comportamentais típicas do período.
Por que as síndromes respiratórias são mais frequentes no inverno?
Durante o inverno, o ar frio e seco se combina com a poluição aumentada, devido à inversão térmica, mantendo a poeira em suspensão e facilitando seu contato com a mucosa nasal. Este cenário é ideal para a sobrevivência de vírus e bactérias, elevando a incidência de doenças infecciosas. Além disso, a tendência das pessoas de permanecerem em ambientes fechados e aglomerados contribui para a disseminação de patógenos.
As doenças alérgicas, como rinite e asma, e as infecciosas, como gripes, resfriados, bronquiolites e pneumonias, encontram um terreno fértil para sua proliferação. "Essas mudanças no comportamento e na qualidade do ar propiciam exacerbação de doenças alérgicas e aumentam a proliferação de doenças infecciosas", explica Rayza.
Impacto do clima frio e seco no sistema respiratório
O ar frio e seco do inverno resseca as vias respiratórias, reduzindo a umidade local e a produção de muco, que contém enzimas e anticorpos essenciais para a defesa imunológica. A poluição e a poeira em suspensão aumentam o contato de agentes alérgicos e patológicos com a mucosa nasal, agravando os sintomas respiratórios. "Além deste fator mecânico, o ar frio e seco resseca as vias respiratórias, reduzindo, assim, a umidade local e a produção de muco", acrescenta a especialista.
Medidas preventivas para reduzir riscos
Adotar medidas preventivas é imprescindível para reduzir o risco de desenvolver síndromes respiratórias no inverno. A Dra. Rayza Gaspar recomenda a ingestão de muitos líquidos e uma alimentação saudável. A lavagem nasal com soro fisiológico também é indicada para hidratar a mucosa.
A médica acrescenta que evitar ambientes fechados e aglomerados, lavar as mãos frequentemente e usar álcool em gel são medidas eficazes. Manter a circulação de ar nos ambientes, controlar a temperatura (entre 22 e 25 graus) e realizar limpeza diária dos ambientes com pano úmido ajudam a manter o ar mais agradável e menos propício à proliferação de patógenos.
A limpeza frequente de cortinas e tapetes, o combate ao mofo e o uso correto de ar-condicionado, mantendo filtros limpos e umidade controlada (entre 50% e 80%), são outras recomendações importantes. A vacinação contra influenza, COVID-19 e pneumocócica também é uma medida preventiva eficaz.
Diferenciando resfriado, gripe e pneumonia
Entender a diferença entre resfriado comum, gripe e pneumonia é fundamental para buscar o tratamento adequado. “O resfriado comum, causado por vírus como rinovírus, adenovírus e vírus sincicial respiratório, apresenta sintomas mais brandos, como secreção nasal abundante, obstrução nasal, dor de garganta, espirros e tosse. Esses sintomas geralmente melhoram em cerca de 10 dias”, explica a otorrinolaringologista.
Já a gripe tende a apresentar sintomas mais intensos, com maior acometimento geral e mal-estar. “Geralmente apresenta calafrios, febre, mialgia, cefaleia, dor de garganta e secreção nasal, além de tosse e vermelhidão na face”, diz a médica.
Por sua vez, a pneumonia é um quadro mais grave, que pode ocorrer isoladamente ou como uma complicação de quadro gripal. Rayza esclarece que a doença se apresenta com tosse produtiva e febre (nem sempre presente em adultos mais velhos), além de secreção espessa, com coloração alterada, e aumento da frequência respiratória. Pode apresentar ainda falta de ar e dor no peito. Em casos sugestivos de pneumonia, pode ser necessária a realização de uma radiografia de tórax para diagnóstico e avaliação da extensão.
Outras doenças comuns, após infecções virais e crises alérgicas, são as sinusites e as otites. “As sinusites bacterianas são diferentes das rinossinusites virais, porém se manifestam com sintomas muito semelhantes. Elas também apresentam secreção nasal abundante, obstrução nasal e tosse, não costumam provocar dor de garganta, podem apresentar febre e, geralmente, duram mais de 10 dias (ou uma piora dos sintomas nasais ocorre após 10 dias de um resfriado ou gripe). O diagnóstico é clínico, baseado em sinais e sintomas, e não é necessária a realização de radiografia dos seios da face. Tal exame não consegue diferenciar sinusite viral de bacteriana e não deve ser utilizado na definição do tratamento do paciente”, orienta a especialista.
Vacinação e prevenção
A vacinação é fundamental na prevenção de doenças respiratórias infecciosas, pois ajuda o organismo a se defender, caso seja exposto aos agentes causadores. As principais vacinas disponíveis para prevenção de doenças respiratórias incluem a gripe, COVID-19 e pneumococo, e podem ser realizadas em campanhas anuais ou indicadas por um médico.
Cuidados específicos para pessoas com doenças respiratórias crônicas
A médica afirma que, para pessoas com doenças respiratórias crônicas, como asma e DPOC, os cuidados no inverno são ainda mais essenciais. Além das medidas gerais de prevenção, é importante enfatizar a vacinação, a lavagem nasal com soro fisiológico e evitar aglomerações. Deve-se manter as medicações de rotina e, durante esta época do ano, pode ser necessário tratamento preventivo ou otimização do tratamento habitual.