Carina Oliveira Pataxó, Teresa Càrdenas e Airton Souza | Foto: Divulgação |
Pela primeira vez em quase três décadas, o Instituto Estação das Letras - IEL reúne, em sua programação de cursos de férias de julho, com início em 8/7, temáticas relacionadas à inclusão de grupos minorizados no mercado editorial. Com oficinas que abordam a representatividade de pessoas negras, indígenas e da comunidade LGBTQIA+, as aulas, realizadas on-line para público de todos os lugares do Brasil e do mundo, contribui para formação de escritores e de leitores.
Para Suzana Vargas, fundadora, diretora e curadora do IEL, esses temas devem colaborar para gerar mudanças estruturais. "Esse olhar mais voltado para a diversidade, enaltecendo autores ‘fora do padrão e do eixo Rio-São Paulo’ é transformador e reflete a sociedade que precisamos ter”.
A Universidade de Brasília analisou publicações das principais editoras brasileiras entre 1965 e 2014 e mostrou que os autores brasileiros são homens (70%), brancos (90%) e paulistas ou cariocas (50% do total). Os personagens retratados também são os mais próximos da realidade desses autores: protagonistas homens (60%), brancos (80%), heterossexuais (90%). Quando o negro é personagem (6,2% dos romances publicados entre 2004 e 2014), 4,5% deles protagonizaram as histórias e a maioria (obras de 1990 a 2014) desenvolvia ocupação de bandido, empregado doméstico, escravo, profissional do sexo e dona de casa.
Na contramão da pesquisa, o IEL recebe o professor efetivo de literaturas africanas de língua portuguesa na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Marcelo Mattos para falar sobre Paulina Chiziane, Prêmio Camões,e abordará O feminino e o sagrado na obra da autora.
Escritora, poetisa, atriz e trabalhadora social, Teresa Càrdenas dará a oficina de textos literários A Memória Fala, uma viagem ao centro da memória pelas asas e força da literatura. De forma descomplicada e divertida, a ideia é mostrar como trabalhar histórias difíceis em diversos gêneros literários.
Em Literatura Indígena: movimento político-estético, com Carina Oliveira, Pataxó, serão três encontros para tratar da Literatura Indígena enquanto movimento estético-político, que nasce para a sociedade nacional a partir da década de 1990 e irá ao encontro do contraponto aos estereótipos impostos aos sujeitos e povos indígenas historicamente e como estes, na contemporaneidade, têm ecoado suas vozes.
Já o escritor parense Airton Souza fará a leitura guiada do seu romance Outono de carne estranha, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023, que conta a história de amor entre os garimpeiros Zuza e Manel, em um território de embrutecimento dos homens e da terra, o garimpo da Serra Pelada nos anos 80.
Para os interessados em oficinas de escrita, o professor Oswaldo Martins trabalhará com Erotismo e literatura, numa oficina de textos eróticos. Em quatro encontros, apresentará a diferença entre o erótico e o pornográfico na literatura, a poética de Pietro Aretino (chamado inventor da poesia pornográfica, no século XVI), o erótico deslocado de seu sentido e erotismo e fetiche, sempre acompanhados de propostas de escrita.
Assis Brasil realizará a oficina compacta "Romance: teoria e prática" , na qual cada aluno poderá desenvolver o projeto de seu romance durante o curso; Cintia Moscovitch vai falar sobre o que não fazer na escrita literária, no lugar de seguir as receitas de cursos que mostram caminhos clichês; e Braulio Tavares discorrerá sobre a narrativa fantástica, a ficção especulativa e a ficção científica, utopias e distopias e Século 21 como o século das Literaturas da Imaginação.
As inscrições para os cursos de julho estão abertas pelo iel@estacaodasletras.com.br.
Detalhes das datas e ementas estão em https://www.estacaodasletras.com.br/cursos.