Informes - GERAIS

Independência da pessoa autista depende do incentivo da família

29 de Janeiro de 2024

Mais de 3 milhões de autistas acima de 18 anos vivem no Brasil. Autonomia pode ser conquistada

Foto: Freepik/ Divulgação

Quando o assunto é o transtorno do espectro autista (TEA) — também conhecido como autismo — há muitas teorias e achismo. Um deles é que apenas crianças possuem essa condição. No entanto, as crianças crescem e se tornam adultos, com expectativas e necessidades como qualquer outro jovem adulto. De acordo com dados divulgados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no Brasil há aproximadamente 3 milhões de autistas acima dos 18 anos. 

Para essas pessoas, a autonomia e a independência fazem parte de um dos principais objetivos de vida. Isso porque, conforme o Ministério da Saúde, muitos dos que vivem dentro do espectro enfrentam dificuldades para se comunicar, interagir e lidar com algumas situações do dia a dia. 

Há pesquisas que mostram os riscos que uma pessoa com a condição pode enfrentar. No entanto, estudos e organizações que trabalham com moradia assistida para autistas e desenvolvimento de pessoas no espectro apontam que a independência e a autonomia podem ser conquistadas com auxílio profissional, uma rede de apoio e o incentivo familiar desde a infância. 

Independência da pessoa autista: é possível?

No ano de 2021, o Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) registrou o atendimento de 9,6 milhões de pessoas com o TEA. Do número total, 4,1 milhões eram crianças com até 9 anos, conforme os dados divulgados pelo Ministério da Saúde. 

Uma das principais problemáticas é que muitos pais, ao receber o diagnóstico de autismo de um filho, ficam receosos sobre o futuro da criança. Nesse contexto, surge a “superproteção” que, na maioria das vezes, se estende por toda a vida e impede que os jovens vivenciem a fase adulta, com seus desafios e oportunidades.

Apesar da angústia, é importante que a família incentive o desenvolvimento das pessoas com autismo e, principalmente, a autonomia na realização de atividades diárias.

Segundo o e-book “Juntos podemos morar sozinhos”, elaborado pelo Instituto JNG, organização responsável por um programa de residência assistida para adultos no espectro autista, adultos autistas necessitam apenas de algum tipo de suporte, seja leve, moderado ou intenso – incluindo as tecnologias assistivas, para dar conta de suas atividades rotineiras. Muitas dessas pessoas acabam tendo, ao longo de toda a vida, um cuidado assistencial frequente que infantiliza e impossibilita sua independência. 

O “Manual dos Direitos da Pessoa com Autismo”, elaborado pela Câmara Municipal de São Paulo, destaca que o tratamento constante, a rede de apoio e o incentivo familiar são  imprescindíveis para um bom prognóstico e para minimizar as consequências e riscos na vida do indivíduo. 

Dessa forma, com o apoio e o incentivo corretos, é possível que uma pessoa no espectro alcance sua independência, seja pela conquista de uma moradia independente para autistas adultos, de um trabalho e de uma família. 

Papel da família na independência da pessoa autista 

Segundo artigo científico publicado na revista Educação Especial da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o desenvolvimento da independência e da autonomia para pessoas do espectro autista envolve fatores culturais, sociais e características pessoais. 

O conteúdo reforça que a família deve oferecer esse suporte a partir do momento em que se recebe o diagnóstico, buscando o máximo de informações possíveis e auxílio profissional. 

O transtorno do espectro autista está enquadrado no Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), que assegura os direitos e as liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, como atendimento prioritário nos sistemas de saúde, acesso à moradia, medicamentos e outros. 

Para o Instituto JNG, pessoas no espectro têm direito à moradia e podem ter a oportunidade de conduzir suas próprias vidas, tomando decisões e fazendo suas escolhas. Em uma transmissão ao vivo realizada no canal do Youtube do Instituto, profissionais especializados na área debateram sobre o assunto e apontaram o suporte da família no momento de transição para a vida adulta. 

Os pais, na maioria das vezes, consideram que os filhos são dependentes e, às vezes, não fazem esse discernimento entre o filho poder ter autonomia, mesmo que ele precise de ajuda para fazer. Se um jovem com algum tipo de deficiência começa a sonhar na possibilidade de ter sua casa, esse sonho deve ter portas abertas para que ele caminhe nessa direção”, explica a fundadora do Instituto JNG, Flávia Poppe. 

A ideia de que toda pessoa com autismo é frágil é um dos maiores obstáculos que pais e familiares podem colocar na busca de seus filhos por independência. No entanto, é importante lembrar que, com o acompanhamento adequado, essa autonomia pode acontecer, preservando a saúde e as necessidades de cada um.

Comentários
Assista ao vídeo