Créditos: Washington Possato |
Egressa do boom feminino no final dos anos 1970, em que mais de quatro dezenas de cantoras e compositoras surgiram no cenário musical brasileiro, Joanna tem parte expressiva de sua discografia lançada nas plataformas de streaming pelo marketing estratégico da Sony Music, dando prosseguimento ao projeto de digitalização de seu catálogo, incluindo a restauração de tapes analógicos e projetos gráficos originais. Assim, além dos já disponibilizados, entram mais quatro compactos, quatro álbuns originais e uma coletânea dupla da cantora, que serão disponibilizados a partir do dia 20 de outubro, para o deleite de seus fãs.
Joanna tocava violão desde adolescente e cantava para os amigos. Já aos 17, em 1974, venceu o programa de calouros “A grande chance”, de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi do Rio, cantando “Última forma”, de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro. A seguir, passou a atuar como crooner em conjuntos de baile e a defender suas próprias composições em festivais no interior do estado e cidades vizinhas. Foi em 1979 que ela assinou com a RCA Victor (hoje Sony Music) e, nessa altura, sua veia autoral estava bem madura, razão pela qual seu primeiro LP “Nascente” foi puxado pela canção “Descaminhos”, dela com sua amiga Sarah Benchimol, cujo compacto está sendo lançado agora no streaming. Ainda no mesmo produto, a outra face trazia a balada “Seu corpo”, de Erasmo e do “rei” Roberto Carlos (a quem ela foi a vida inteira comparada, por sua doçura na voz e romantismo) – esta faixa, a propósito, ela defendeu no histórico programa musical “Mulher 80”, da TV Globo, que reunia as grandes cantoras brasileiras de então, presentes na trilha do seriado “Malu Mulher”, que marcou época em nossa teledramaturgia.
A seguir, em 1980, no LP “Estrela-guia”, outra grande canção de sua autoria, também com Sarah Benchimol, inundou as paradas – a chamada “canção de motel”, por seu teor bastante sensual, “Momentos”, cujos versos diziam: “Vou te caçar na cama sem segredos / E saciar a sede do desejo / Deixar o teu cabelo em desalinho / E me afogar de vez no teu carinho”. O compacto com esta música chega agora às plataformas, trazendo ainda “Quarto de Hotel”, de seu amigo e grande incentivador Gonzaguinha, outro grande sucesso, cuja letra confronta a solidão de um artista em turnê mundo afora com a urgência de um amor verdadeiro.
Em 1981, Joanna nos brindava com o álbum “Chama”, que além de estar completo nas plataformas – bem como seus sucessores “Vidamor” (1982), o antológico e eclético “Brilho e paixão” (1983) e “Joanna” (1984) – tem também dois compactos agora disponíveis com parte de seu repertório: as canções “Decisão”, outra dela com Sarah Benchimol e Tony Bahia (tema da novela “Brilhante”, de um raro e ousado personagem gay à época, vivido por Dênis Carvalho), mais o grande sucesso “Chama” (Geraldo Amaral/Aristides Guimarães) e as românticas “Tentação” e “Doce bandido”, ambas de sua autoria com a parceira Sarah.
A nova fase mais popular e de grandes projetos
O ano de 1986 marcou uma grande virada artística e estética na carreira de Joanna, rumo a um repertório mais popular. Era o auge do sucesso das canções da dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas. Eles lhe deram os hits “Amanhã talvez”, “Um sonho a dois” (gravada com os vocais do Roupa Nova) – do álbum “Joanna” (1986), também disponível no streaming –, e “Amor bandido”, este de “Joanna” (1988), pela primeira vez nas plataformas, em que se destacam também a canção pop/romântica “Tua fera”, de Carlos Colla, e a regravação de “Meu mundo e nada mais”, de Guilherme Arantes.
A partir dos anos 1990, Joanna passou a alternar seus álbuns de carreira com projetos temáticos, o mais famoso deles, “Joanna canta Lupicínio Rodrigues” (1994), lhe valeu um Disco de Platina, por mais de 250 mil cópias vendidas – também disponível nas plataformas. No primeiro caso, estão de volta dois álbuns. “Alma, coração e vida” (1993), que inclui faixas divididas com o Trio Irakitan (a guarânia que dá título ao trabalho) e Fábio Júnior (a balada “Nosso orgulho”, outra composição dela com Marquinhos), mais a regravação do samba “Que pena”, de Jorge Ben Jor. O outro é “Eu estou bem” (2001). Foi neste que ela lançou a balada pop “Pra começo de conversa” e um dueto com o astro italiano Bagio Antonacci: “Mensagem pra você (Iris traletue poesie)”.
Nesse meio tempo, dentre os projetos especiais está o excepcional “20 anos ao vivo”, de 1999, gravado no Teatro João Caetano, no Rio, em que ela relia as canções mais emblemáticas de seu repertório, lançava um novo hit (“Tô fazendo falta”, de Álvaro Socci e Cláudio Matta), revisitava nossa pioneira compositora e maestrina Chiquinha Gonzaga (“Lua branca”, que havia cantando na trilha da minissérie homônima da TV Globo com grande repercussão), além de mostrar que é uma ótima sambista, seja nas inéditas “Águas de Oxum” e “Outro amor não quero não” (ambas de Roque Ferreira, a primeira com J. Velloso, a segunda com Rildo Hora); “Fonte de prazer” (Toninho Geraes/Adaldo Magalha); “Olerê, olará (Se duvidas)” (Nelson Rufino), num dueto com Zeca Pagodinho; ou na releitura da irresistível “Mal acostumada”, do Ara Ketu.
Fecha o pacote a coletânea dupla da série “RCA 100 anos de música” (2001), com canções de várias fases de sua carreira, incluindo os hits “Recado (pro meu namorado)”, “Espelho”, “Teu caso sou eu”, a primeira gravação de “Nos bailes da vida” (presente de Milton Nascimento e Fernando Brant para ela, em 1981), além de canções de Cartola (“As rosas não falam” e “O mundo é um moinho”) e Maysa (“Ouça” e “Resposta”), faixas gravadas originalmente no CD “Joanna em samba-canção” (1997), e ainda belos duetos com Gal Costa (“Onde andarás”) e Barry Manilow (“Qualquer dia [24 hours a day]”). Um repertório irresistível.