O mítico porto de Amsterdã está prestes a ver seus gigantes desaparecerem. Local de ancoragem de uma centena de navios de cruzeiro todos os anos, o turismo de massa – de curtíssima duração – já teve os seus dias de glória.
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A capital holandesa deu um primeiro passo para proibir grandes navios como parte de planos mais amplos para reduzir o turismo de massa e os níveis de poluição, disseram as autoridades recentemente.
O conselho de Amsterdã votou para impedir que grandes embarcações turísticas atracassem no porto da cidade e pretende fechar seu terminal central de cruzeiros, segundo um porta-voz do município. O cronograma e os detalhes da implementação serão decididos após consultas com várias partes interessadas, disse o porta-voz.
“O poder executivo da capital holandesa precisa acertar os detalhes e não está claro quando as medidas serão implementadas”, disse Dick de Graaff, diretor administrativo do Terminal de Passageiros de Amsterdã. A cidade ainda está comprometida em receber 114 navios de cruzeiro marítimo em 2023, com um total de quase 300.000 passageiros.
“Tomamos nota do pedido do conselho de que não há lugar para cruzeiros marítimos na cidade do futuro no local atual”, explicou de Graaff. “Certamente não há proibição imediata de navios – muito menos um fechamento imediato do terminal”. Afirmou.
“Os cruzeiros poluentes não estão de acordo com as ambições sustentáveis de Amsterdã”, disse Ilana Rooderkerk, líder local do partido social progressista D66, que apresentou a moção. “Navios de cruzeiro no centro da cidade também não correspondem com a tarefa de combater o turismo de massa”. Finalizou.
A decisão ocorre em meio a uma repressão mais ampla ao afluxo de turistas e à sensação de perturbação que eles trazem para Amsterdã, uma cidade famosa por seus canais, pelo Distrito da Luz Vermelha e também pelos cafés que vendem maconha.
Amsterdã atrai, em média, mais de um milhão de turistas a cada mês, superando sua população em pouco mais de 800.000. A prefeita, Femke Halsema, está determinada a mudar permanentemente o equilíbrio econômico entre residentes e turistas e repensar a imagem livre de Amsterdã, como um ímã para turistas em busca de sexo e drogas.
No início deste ano, o conselho da cidade proibiu o consumo de maconha ao ar livre no Distrito da Luz Vermelha. Em março, as autoridades da cidade também lançaram um esforço online direcionado a jovens britânicos em uma campanha “Fique Longe” com o objetivo de impedir que visitantes turbulentos cheguem à cidade.
O morador de Amsterdã, Peter van Zaanen, 68, acredita que a proibição de navios de cruzeiro na cidade é inevitável em algum momento. “Estamos superlotados de turistas, e isso não é algo que você gostaria na cidade onde mora”, disse.
Amsterdã se alinha a outras grandes cidades da Europa
Amesterdão junta-se à voz de outras cidades europeias, como Veneza, na Itália, Dubrovnik, na Croácia e Santorini, na Grécia, que limitam o acesso a passageiros de cruzeiros com o objetivo de reduzir a poluição gerada por estes navios, bem como a afluência excessiva de turistas.
O governo italiano introduziu medidas em 2021 para proibir grandes navios de cruzeiro na lagoa histórica de Veneza com o intuito de proteger o local do turismo de massa. Uma vez implementadas em Amsterdã, as medidas adotadas pelo conselho da cidade se alinhariam ao mesmo objetivo.
Na contramão do turismo ecorresponsável
Um único navio de cruzeiro emite CO2 equivalente a 83.600 veículos. Suas emissões de partículas finas representam mais de um milhão de carros.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo, as receitas do turismo na Europa estão em torno de 725,8 bilhões. E a indústria de cruzeiros ainda não atingiu todo o seu potencial no continente. Há mais navios nos estaleiros, embarcações que seguem o caminho do excesso, contra a corrente do turismo ecorresponsável.
A possibilidade de desmontar uma ponte histórica em Rotterdam chegou a ser levantada no ano passado para que o super iate de Jeff Bezos, fundador da Amazon, pudesse passar a caminho do mar. A ideia absurda felizmente foi abandonada e a embarcação foi rebocada sem o seu mastro.
O que se vê também é a saturação da capacidade de recepção quando dezenas de milhares de passageiros de cruzeiros param em algum lugar. Os portos do Caribe, por exemplo, bem como de outros países em desenvolvimento, muitas vezes não possuem infraestrutura para receber navios de grande porte.
Apesar dos esforços de cidades como Amsterdã e outras já citadas, a indústria de cruzeiros espera receber mais de 40 milhões de passageiros em cinco anos, 10 milhões a mais do que antes da pandemia.