Com 17 faixas inéditas e compostas por Zudizilla, álbum traz feats com Fúria, Don L, Galo de Luta, Melly, Luedji Luna, Paula Lima, Lino Krizz, Shuna (YOÙN) e Tuyo
Créditos: Noelia Nájera e Guile Farias |
Um manifesto quase homérico sobre as etapas de uma pessoa preta para ter vivências e experiências dadas como “normais” em uma sociedade de extremo racismo. São essas as palavras usadas pelo rapper e beatmaker Zudizilla para definir “Zulu: Quarta Parede (Vol. 3)”, o terceiro e último álbum da trilogia de Zulu - ou Ópera Preta - que chega nas plataformas digitais na sexta-feira, dia 7 de julho. “Assim, Zulu reivindica seu lugar de humano e não mais do personagem”, diz.
Com feats com Fúria, Don L, Galo de Luta, Melly, Luedji Luna, Paula Lima, Lino Krizz, YOÙN e Tuyo, o álbum apresenta um universo denso do jazz, além das habilidades do artista enquanto letrista do rap mais clássicos. “Como rapper e beatmaker eu venho testando coisas há muito tempo. Nesse trabalho eu tenho maturidade e experiência para trazer a banda que me acompanha, junto de meus beats e dos parceiros que estão presentes no projeto. Aconteceu tudo de forma muito natural”, comenta Zudi sobre a produção musical e os resultados finais das faixas.
Ao defender sua arte como única, Zudizilla reforça que o terceiro álbum é também resultado dos outros dois lançados anteriormente, mas entre diversas curiosidades uma delas é que quase todas as músicas dos três discos foram escritas de uma só vez e já estavam prontas no fim de 2017. “É importante entender que eu não tento ser atemporal. Meu som tem no seu cerne a quebra do tempo e é isso que a trilogia comprova. Eu construí uma obra completa e a dividi em três partes que sintetizam a narrativa de Zulu”, conta. “Sinto que este álbum é o mais próximo do mundo e o que está saindo do mais profundo eu”, complementa Zudi.
A narrativa de Zudizilla se desenvolve a partir de suas experiências em um corpo de um homem negro e como isso afeta seus sonhos e possibilidades desde sempre. No vol. 1, o artista apresenta faixas sobre os sonhos e a chance de sempre perdê-los. Já no vol. 2, ele traz a luta para alcançar o poder de qualquer forma porque é só assim que vai conseguir respeito e resolver os problemas: “a partir do dinheiro, que é a moeda que vale almas”. No terceiro e derradeiro episódio, Zulu se vê pai, traumatizado, ainda sonhador, ora com dinheiro e poder que não o protegem e nem lhe proporcionam segurança e nem acesso, ora com raiva, mas com uma vontade imensa da de dizer pro mundo “eu quero ser comum”.
“Zulu não tem fim, mas continuar falando sobre ele é girar parafuso no mesmo furo sem chegar a lugar algum, já que daqui pra frente esse espírito vive no imaginário. E imaginemos que ele conseguiu ser normal, e quando digo normal eu me refiro a passagem da track ALVO que diz “meu melhor momento em vida me tornou o mais perfeito alvo””, comenta o artista se referindo a um episódio recente de abordagem policial enquanto buscava uma casa para viver em um bairro nobre. Além de Alvo, a faixa HER também foi escrita no processo de criação do vol. 3. Na música que faz referência ao filme de Spike Jonze, o artista usa inteligência artificial para emular a voz de uma terapeuta que respondem às suas reflexões e questionamentos ao longo da track.
Com muita pesquisa e admiração pelo cinema, Zudizilla afirma que se inspira na trilogia de vingança do diretor Park Chan-Wook, mas que no seu caso não repete a narrativa e os álbuns funcionam como três produções independentes da trama. “Especificamente para esse terceiro volume, tenho Birdman como referência e a linha de cinema de “hiper realismo” de Gaspar Noé, Gus Van Sant, Larry Clark, Spike Lee, John Singleton. Eles são diretores que te colocam no filme de uma forma muito sutil ao usarem pessoas reais para interpretar papéis que são quase que a reprodução de suas vidas”, reflete.
Sobre Zudizilla
Nascido em Pelotas - RS, o rapper, produtor musical e designer Zudizilla carrega em suas letras reflexões, dores e a luta sobre o racismo do cotidiano e que insiste em embrenhar cada vez mais nas estruturas da sociedade. Com forte influência do hip hop e do jazz, também bebe na fonte da música popular brasileira. Entre as parcerias realizadas, destaca Luedji Luna, DJ Nyack e Coruja BC. Em 2023 recebeu o prêmio de Melhor Disco de 2022 pelo Prêmio Rap Brasil.
Além da música, Zudizilla sempre traz aos seus projetos um olhar afiado e com diversas referências audiovisuais que personificam imageticamente suas rimas e canetadas. Ao longo da carreira já lançou mixtape, dois EPs e quatro discos - sempre com curtas-metragens ligados ao álbum. Desde 2019 trabalha na trilogia “Zulu”. A primeira parte foi “Zulu Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu Sem Deixar o Chão”, em 2022 chegou “Zulu: De César a Cristo (Vol.2)” - acompanhado de dois filmes, e em 2023 encerra o projeto com “Zulu: Quarta Parede (Vol.3)”.
Faixa a Faixa - Zulu: Quarta Parede (Vol.3)
Por Zudizilla
01- Intro
instrumental: @djmichacnr
feat: Dayo
“Eu e Micha temos o costume de nos mandarmos milhares de produções por dia. Em um desses momentos, eu estava com Dayo no colo e mandei áudio dele cantando para o DJ. Na manhã seguinte ele me enviou um bom dia seguido de um áudio em que ele tinha musicado a cantarolada de Dayo e em minha mente tudo fez sentido. Exatamente a exemplo do vol.2 que tem áudio de minha mãe, esse instrumental costura muito bem o enredo do álbum e começa com meu filho.”
02 - God Bless
instrumental: @djmichacnr e @808luke808
feat: @fu.ria
Essa faixa tem ares de abre alas. É quase um pedido de licença aos céus para desenvolver o projeto a seguir, além de me remeter muito aos anos 2000, época em que comecei a entender o rap como potência (ainda que só começasse a rimar bem depois). A virada ficou a cargo de Fúria, que é um grande encontro do universo e que quando ouvi essa música dele, logo a imaginei na sequência de God Bless como um complemento. É um pedido de licença mas que não depende da resposta. O trabalho vai passar de qualquer forma.”
03 - Azul Piscina
instrumental: @emidois e @zudizilla
teclado: @gabrielgaiardopiano
“Na God Bless se percebe o início da construção do personagem, ainda que a parte de Fúria traga Zulu à tona, mas Azul Piscina fundamenta o lado e o desejo superficial do personagem em um instrumental mais contemporâneo e que flerta com as dinâmicas atuais. Mais uma vez, e isso acontece muito no disco, o lado Zulu sempre retorna e traz a música para uma vibe muito mais concreta é adulta.”
04 - Alvo
instrumental: @808luke808
“Alvo é uma das últimas faixas a entrarem no disco. Sua narrativa é mais similar ao que estou acostumado e aqui não existe o personagem. Na verdade Alvo fala sobre como o dinheiro/poder/sucesso ao invés de permitir uma existência que se mescle às demais, se você for preto ela te destaca dos mesmos e estando em um país racista, te torna um Alvo. Essa música foi gravada com Dayo no estúdio e faz referência direta ao momento em que eu, minha esposa e meu filho fomos abordados pela polícia de forma estúpida e desnecessária enquanto procurávamos uma casa em um nobre bairro. Ainda que essa passagem em si fique subentendida em poesia, ela explicitamente indica que eu sempre fui o alvo.”
05- Tempo (Interlúdio)
instrumental: @808luke808
feat: @galodelutaoficial
teclado: @gabrielgaiardopiano
“Uma poesia potente de Galo que no disco faz a função de voz da consciência. Nesse caminho que o disco está tomando, o personagem está sendo o cerne de tudo, mas a partir de Alvo o ser humano começa a dividir espaços. O disco trata dessa fusão entre artista e personagem, até quando um e outro conseguem se aliar, quando o mercado exige que o ser humano morra pelo sucesso do artista e quando o humano toma as rédeas. Nesse momento o humano se sobressai, pois sua noção de coletivo é superior aos anseios individuais.”
06- Tempo Ruim
instrumental: @beats.jazza
feat: @donl
“Esse é o momento onde os dois pés estão no chão e o instrumental que viaja com sopros e percussões remete ao real Zudi, que disserta sobre aquilo que o faz querer ser o artista que o mercado precisa. Don L por sua vez tira as cortinas desse ambiente e mostra o quão nociva é essa cultura do espetáculo. O refrão é muito transparente quando diz “não acho que isso seja o bastante”.”
07 - Thetahealing
instrumental: zudizilla e @808luke808
feat: @paulalima
baixo: @wesleirodrigo_
teclado: @gabrielgaiardopiano
"Thetahealing" é a afirmação da necessidade de não esquecer de onde veio e o que se passou em vida, mas também de aceitar os novos tempos e práticas. É como se Zulu nesse momento começasse a aceitar de forma mais positiva a interferência e a regência de Zudizilla em sua vida, porque apesar do personagem que o mundo vai alcançar, dificilmente alguém que não conhece todo o percurso vai chegar às corretas conclusões. O sorriso atual de Zulu é real, mas só porque ele lembra de suas superações.”
08- Sem Sono
instrumental: @dariobeats
“O começo dessa faixa remete à multidão. Nesse momento Zudi é apenas o personagem por fora, mas essa música ressoa por dentro quase como um diálogo interno em meio a multidão que pouco se importa com as necessidades daquele que carrega em si o artista que todos querem conviver por perto. É uma música que fala de vários universos em uma linda poesia.”
09 - O Preço da Guerra
instrumental: @808luke808 @mathinvoker @inivbeats @h4lfmeasures
feat: @linokrizz
“Nesse momento Zudi assume o controle por absoluto, a primeira parte desse som é o artista em plena atividade com suas verdades escrachadas e seus desejos fúteis expostos como medalhas de vitória. Mas a batalha e o equilíbrio nunca o abandonam e na segunda metade, o próprio artista se questiona. Esse é o momento onde o personagem colapsa e entende que precisa preservar aquilo que é real.”
10- H.E.R. (Humano em Reabilitação) Interlúdio
instrumental: @808luke808
teclado: @gabrielgaiardopiano
“Aqui estamos falando de insanidade em algo que seria como um esquete de teatro, onde entra um terceiro personagem que dialoga com Zulu. A partir daqui, o ser humano engole o artista e entra em um estado de elevação quase intocável. Então ele decide não mais ouvir quaisquer ruídos que se opunham entre ele, o desejo de ser artista e a ânsia por preservar em arte sua humanidade. É onde vemos o Zudizilla PLENO.”
11- De Longe
instrumental: @_dudaraupp
feat: @shuna808 (YOÙN)
teclado: @gabrielgaiardopiano
“Após a batalha entre o seu ego e alter ego, o indivíduo Zulu sem medo nenhum afasta todos e alerta para que enxerguem a magnitude do que é um artista em sua mais completa forma, por dentro e por fora. De Longe desnuda as fantasias do ser artista dentro de um projeto que é a mais perfeita síntese da expressão humana e que Shuna (Yoùn) corrobora em seu verso.”
12- Pequenas Coisas
instrumental: @808luke808
feat: @luedjiluna
teclado: @gabrielgaiardopiano
“A arte em suas variadas formas permite diferentes visões e um artista completo tem sempre um olhar 360. Aqui temos uma track de amor de uma forma muito real e isso é uma estratégia para provar o quanto a arte, que por si só já é um símbolo, quando carregada de elementos mundanos se torna grande e poética ao mesmo tempo. Se percebermos de forma ampla, essa música é mais sobre a possibilidade artística do que sobre amor.”.
13- Supernova
instrumental: @808luke808
feat: MELLY @oficialmelly
“Uma outra visão da mesma faixa, quase como uma continuidade, ou o famoso “dia após o outro”. Supernova traz o lado B do amor, lindo e agressivo como explosões solares. Se nota a mão do artista e a alma do indivíduo nessas duas faixas e, mais uma vez, falam sobre a dicotomia de ser os dois em uma produção que não fala sobre. É a sensibilidade e o meio termo entre os dois dando formas a outros caminhos por onde a arte passa.”
14- Groove ou Caos
instrumental: @djnyack
feat: TUYO @oituyo
guitarra: @dilsonlaguna
trompete: @lucasgomestrp
baixo: @machaaado
“Groove ou Caos é uma canção que fala sobre tudo o que esse momento a partir de HER remete: ela é sobre arte. Sob um instrumental de house music, com um trompete muito sagaz e a fundamental participação de Tuyo, essa música é toda sobre semiótica.
O próprio nome dela não é sobre duas coisas diferentes mas sobre uma só. Uma curiosidade é que essa faixa nasceu a partir de um quadro de Francisco Soria Aedo, que continha essa frase quando apresentada em um site de arte. Mais uma vez, a plenitude do artista que mescla o real com o mundano para criar uma terceira obra e potencializar a proposta de Zulu.”
15 - BSSSSF
instrumental: @djmichacnr
teclado: @gabrielgaiardopiano
baixo: @robashtoffen
“Após navegar por todas as instâncias de Zulu ou Zudizilla, chegamos ao final deste álbum. Essas faixas são totalmente do coração do autor. BSSSSF é uma poesia que trata do desejo mais simples de uma pessoa preta: ser bem sucedido, estar são, sóbrio e sem fome.
Um jazz que nos leva ao primeiro volume da trilogia e começa a nos levar ao entendimento da ópera.
No primeiro volume Zulu era um sonhador, no segundo Volume nasce um personagem chamado Zudizilla que precisa da glória a todo custo necessário. Chegando no terceiro volume o colapso entre o sonho e a ambição vão jogando sombras aquele que precisa de espaço. E neste momento entendemos que toda a construção Homérica dessa brilhante obra busca apenas uma vivência bem sucedida, sã, sóbria e sem fome, que para pessoas pretas só é destinado após muitas guerras e batalhas.”
16- EGOT
instrumental: @beats.jazza
teclado: @gabrielgaiardopiano
guitarra: @thechangekato
“Música que remete aos prêmios Emmy, Grammy, Oscar e Tony, quando um artista leva os quatro ele se torna um EGOT. Essa faixa fala do artista pelo prisma do humano. Como dito antes, aqui temos a maturidade do artista em sua máxima potência, onde ele consegue olhar pra si mesmo e falar de um ponto distante do próprio. Um instrumental contemporâneo, com respiros de jazz e uma poesia afiada nos levam a perceber que a construção do artista Zudizilla ainda tem muito a entregar.”
17- O GRANDE ÚLTIMO MANIFESTO
instrumental: zudizilla e @808luke808
teclado: @gabrielgaiardopiano
“A faixa final do disco sintetiza 3 volumes em uma narrativa assertiva onde ele fala de presente, passado e futuro, agradece e alerta seus conterrâneos, e manda um aviso subjetivo para aqueles que possam estar chegando agora a obra de Zudi.
Modulações no instrumental nos levam pela jornada inteira quase como se assistíssemos ao trailer de um filme, encerra com grande competência essa brilhante trilogia. O grande último manifesto de Zulu é sobre o direito à humanidade.”
Ficha Técnica
Zulu: Quarta Parede (Vol.3)
Produzido por Zudizilla e @808luke808
Mixado e Masterizado por @808luke808
Distribuidora: @altafontebrasil
Editora: @bmg_br
Manager/ Produção Executiva: @sentidosproducoes / @jucmelo
Comunicação Digital: @menudamusica
Assessoria de Imprensa: @fburzaca
Foto capa: @noenajera_
design e tratamento de imagem: @guilefarias_