Baseada em evidências científicas, a neurociência aplicada a projetos arquitetônicos pode tornar hospitais e clínicas mais acolhedores e ajudar na prevenção de doenças
Teste de corrida na unidade Vita Running Land é feito com a visão do usuário para o Parque Ibirapuera |
Divulgação/Vita Parque Ibirapuera |
Esqueça o padrão antigo de hospital, repleto de paredes brancas e com leitos e enfermarias vistos apenas como espaços frios para tratamento de doenças. Em uma tendência crescente, que tem como alicerce evidências científicas, a neuroarquitetura tem mudado o perfil dos espaços de saúde ao transformar as unidades hospitalares, os laboratórios e as clínicas com projetos que ajudam a promover bem-estar e são aliados nos processos de cura.
Baseadas em estudos neurocientíficos, que analisam os impactos do ambiente físico no comportamento humano, as intervenções arquitetônicas vêm desempenhando papel fundamental para tornar esses locais mais acolhedores e amigáveis, prevenir doenças e amenizar o impacto dos processos de tratamento. Os procedimentos médicos têm se tornado cada vez mais humanizados, sendo potencializados ao ocorrerem em espaços funcionais, que proporcionam maior independência e conforto aos pacientes, como janelas de fácil manuseio, ventilação e entrada de luz natural, temperatura adequada, entre outros benefícios
Estamos mudando o mercado de saúde por meio da neuroarquitetura. Antes, estes ambientes, comumente frios e inexpressivos, eram tidos como lugares de atividades imediatas para tratar e investigar doenças. Agora, hospitais e clínicas passam por modificações que visam ir além do tratamento de doenças. Eles se tornam lugares de tratamentos preventivos e rotineiros, mais amigáveis e acolhedores”, ressalta a arquiteta Erica Prata, diretora operacional da AKMX Arquitetura e Engenharia
Erica Prata destaca o novo perfil das unidades de saúde |
Foto: Divulgação/AKMX |
Um dos trabalhos realizados pela AKMX com conceitos da neuroarquitetura aplicada à saúde é o espaço Vita Running Land, do Grupo Fleury. O local, situado em frente ao Parque Ibirapuera, é dedicado ao público praticante de esportes, seja profissional ou amador, com a proposta de proporcionar melhoria de desempenho, saúde e qualidade de vida em um ambiente disruptivo. Inaugurado no ano passado, o espaço sedia serviços de performance esportiva (análise biomecânica da corrida), reabilitação esportiva (fisioterapia e massagem), medicina e cardiologia do esporte, nutrição e ortopedia.
“As pessoas que nos visitam e as que trabalham aqui se surpreendem com o local. A visão ampla da parte externa que se integra ao parque é uma grande aliada. Imagine se esse lugar fosse fechado com paredes brancas, o quão claustrofóbico seria com 80 pessoas dentro?”, ressalta Andreia Miana, fisioterapeuta e gestora da unidade Vita Parque Ibirapuera. “Os pacientes, muitos deles corredores, conseguem fazer a avaliação biomecânica da corrida enquanto desfrutam da vista para o Parque Ibirapuera. Poder realizar esse processo de reabilitação dentro de um ambiente assim ajuda na recuperação do atleta”, reforça Andreia.
Andreia Miana celebra sucesso do Vita no Ibirapuera |
Divulgação/Vita Parque Ibirapuera |
A importância da neuroarquitetura para transformar os espaços de saúde também é exaltada por Vivian Vieira, gerente assistencial do HCor, hospital de referência em cardiologia na capital paulista e que, entre outras especialidades, oferece atendimentos de neurologia, oncologia, pneumologia e ortopedia.
“Um dos componentes mais importantes no cuidado centrado no paciente é a compreensão de sua experiência. A arquitetura e o design de um hospital são fundamentais para melhorar a experiência do paciente. Isso ocorre, por exemplo, quando a gente pensa em um ambiente com boa iluminação, sem ruídos, considerando o que pode propiciar a cura mais rápida e de uma maneira mais acolhedora”, afirma a gestora do HCor, que também enxerga a sustentabilidade do ambiente hospitalar como um fator fundamental para fidelizar usuários.
“Todas as vezes em que o paciente tem a percepção de que está em um local bem iluminado, limpo, com boa sinalização, temperatura adequada e que traz detalhes que valorizam a empatia, é ali que ele encontra segurança, o toma como referência, voltará e certamente indicará nossos hospitais para familiares e amigos, promovendo voluntariamente nossa marca. O ambiente está diretamente relacionado ao bom atendimento, à fidelização e à recepção de novos clientes”, completa a profissional.
Erica Prata, por sua vez, lembra que aplicar os conceitos da neuroarquitetura não significa que os projetos realizados exigirão maiores gastos financeiros para os administradores das unidades de saúde, em comparação aos gastos que teriam se optassem por uma intervenção arquitetônica conservadora, baseada nos moldes antigos para a reforma ou construção de suas unidades médicas.
“Fazer um projeto neuroarquitetônico não é mais caro do que você realizar um projeto cheio de paredes brancas. O preço é o mesmo”, enfatiza a arquiteta, que cita benefícios proporcionados pela utilização dos conceitos da neurociência nesses locais. “Os ganhos com a neuroarquitetura podem ser, por exemplo, a recuperação mais rápida do paciente, minimizando, assim, os riscos de infecção hospitalar. Esses ganhos são obtidos por meio do uso da arquitetura baseada em evidências comprovadas por estudos científicos”, reforça a arquiteta da AKMX.
“No Vita Parque Ibirapuera, o exterior se comunica com os interiores. A vista, a entrada de luz natural e as escolhas de cores, formas e texturas trazem estímulos que promovem bem-estar e segurança psicológica ao usuário, tornando sua experiência mais agradável e eficiente. Pensando assim, a arquitetura tende a colaborar na performance de tratamento dos esportistas. A unidade Vita se contrasta aos tradicionais centros médicos e de reabilitação esportiva, comunicando um novo estilo de vida e promoção à saúde”, ressalta a diretora operacional da AKMX.