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Insatisfação profissional: como administrar a carreira e conseguir a realização

19 de Abril de 2023

A psicanalista Denise Santos explica como lidar com os conflitos profissionais e conquistar o ápice no trabalho.

Expectativa x realidade. O meme ganha contornos desagradáveis quando, na vida real, diz respeito à satisfação profissional. Queixas comuns de trabalhadores como estafa, cansaço e as mais diversas frustrações laborais são uma repetição do que as pessoas vivenciam em outras relações sociais, como as amorosas, por exemplo. É o que afirma a psicanalista Denise Santos.

No trabalho também criamos laços e temos uma relação de muita expectativa e de muita fantasia em cima do que esperamos, muitas vezes sem nos dar conta da realidade que é bastante distinta. O trabalho, assim como as relações pessoais, são fontes naturais de frustração, justamente por mostrarem a nossa limitação e a nossa dificuldade de lidar com a diferença e com o contrário daquilo que nós idealizamos”, explica.

Segundo a especialista, a visão de mundo de cada um influencia nas relações pessoais, assim como também o fazem na vida profissional. “Não é falta de comunicação em si, mas o papel que cada relação tem no jeito que você enxerga o mundo. O que eu digo não é necessariamente aquilo que o outro escutou. É preciso considerar que há também um viés inconsciente que marca também as relações de trabalho, assim como as relações pessoais e as sociais”, destaca Denise.

Aproximar a expectativa da realidade, acolhendo, inclusive, os trabalhos menos prazerosos são uma maneira de alcançar mais satisfação. “Entender que algumas tarefas não nos darão prazer, mas, mesmo assim, são igualmente necessárias e importantes ajuda a avaliar nossas expectativas, aquilo que temos como ideal frente a uma realidade que se apresenta e pode ser o fator interessante não só para o crescimento profissional, mas também na melhor adaptação frente às dificuldades”, alerta a psicanalista.

Vivemos hoje um discurso que enfatiza somente o prazer, a felicidade e a ausência de frustrações quando, na verdade, para as relações o caminho não é tão linear. Muitas pessoas temem um caminho que não é linear. Fantasiam e imaginam que um caminho de mudanças deve ser pautado em certezas e não necessariamente em apostas”, esclarece Denise.

A psicanalista complementa que na rotina de trabalho é importante dar atenção também para os caminhos e não só para o destino. “Querem o resultado, mas desconsideram o percurso, o começo, o meio e ficam muito presos a um fim e a um objetivo final. No entanto, para aqueles que se permitem experimentar alternativas e caminhos de conciliar duas ou mais atividades ao mesmo tempo que traz desconforto também pode trazer grandes aprendizados”.

A especialista defende que a realização profissional está intimamente ligada à compreensão e acolhimento das diferenças. “Falar em ápice profissional é o mesmo que considerar que para cada história há um sentimento particular e uma percepção única. Isso somado a boas relações afetivas e bons vínculos sociais pode ser não só o sucesso profissional mas a possibilidade de uma vida mais interessante, onde o trabalho faz parte mas não é a única forma de existência dessa pessoa e deste indivíduo”, aconselha.

Denise acredita que as relações fora do trabalho também são fundamentais para manter a saúde dos profissionais. “Não será fácil repensar a relação que você tem com o trabalho. Não será fácil perceber o peso de satisfação que você coloca para este lugar. Tampouco será fácil perceber que, tirando o trabalho, o restante de suas relações é um tanto empobrecido, porém é a partir dessas dificuldades que você pode procurar ajuda para falar daquilo que tem te atravessado, para falar de como as relações têm te impactado, de como os afetos ou a ausência deles pode prejudicar não só suas relações mas também te adoecer”.

Uma opção muito procurada pelas pessoas insatisfeitas com a vida profissional é a mudança de carreira. “Ao contrário do passado, hoje vemos mais alternativas para um recomeço profissional, seja considerando uma transição de carreira seja aprendendo novas habilidades. O importante é se perceber como alguém que pode desejar algo diferente do que sempre conheceu e a partir daí planejar, refletir e analisar-se sobre esses caminhos e alternativas possíveis para bancar o seu desejo de mudança”, explica a psicanalista Denise Santos.

Para as insatisfações profissionais ou para enfrentar os desafios de uma transição de carreira, a especialista reforça a importância do acompanhamento psicológico. “No processo de análise se propõe percorrer através da fala, os laços e vínculos que vamos repetindo através dos afetos. Mudam os personagens de uma história, mas o enredo vai sempre sendo reeditado com os mesmos afetos envolvidos. Para esse sujeito é necessário que ele se perceba como protagonista de sua história”.

A psicanalista defende a importância de o profissional se entender nesse papel. “A partir dessa posição ativa de se reconhecer em um lugar que deseja ou um lugar que o outro tenta colocar esse sujeito é que ele vai se percebendo como alguém com dificuldades, limitações, alguém que falta, que tem dificuldade para olhar para diferenças, ambivalências. É a partir desse processo de contar e recontar partes de sua história que algo novo poderá surgir e ser ressignificado a partir daquilo que já se conhece”, conclui.

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