Nas últimas semanas, diversas matérias têm saído em diferentes setores da imprensa do Brasil acerca do uso do medicamento semaglutida, para emagrecimento, inclusive com relatos de uso por celebridades
A ABESO e SBEM vem por meio deste esclarecer alguns pontos, que nem sempre ficam claros em matérias jornalísticas:
1) A obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento. O tratamento medicamentoso da obesidade, sempre em conjunto com estratégias de estilo de vida, é recomendando em diversas diretrizes de tratamento ao redor do mundo por aumentar a eficácia dessas estratégias. Como qualquer outra doença crônica, a manutenção da eficácia dependerá da manutenção do tratamento e é esperado que a recuperação de peso ocorra caso o tratamento medicamentoso seja abandonado. A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas sim em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta. Nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico.
2) Muitas matérias confundem e misturam o que é o tratamento sério da obesidade do que é o “desejo social de emagrecer”; o uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do que o tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida. Muitas matérias também questionam a necessidade de tratamento medicamentoso, com grande potencial de piorar o estigma da obesidade, ao tratar a doença como uma “escolha” e a medicação como uma “via fácil”. Tais matérias não se amparam no que melhor existe de evidências científicas sobre a doença.
3) A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg/semana. No Brasil, apesar de aprovada desde o dia 2 de janeiro, a dose de 2,4 mg ainda não está sendo comercializada. No momento, apenas a formulação aprovada para diabetes tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg está disponível no país. Assim, embora, a priori, o uso da dose de 1,0 mg seria considerado “off-label”, o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usado pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde. A grande procura e interesse 2 pela medicação que motivam essas matérias tem por razão a sua alta eficácia diante de outras medicações antiobesidade (embora existam poucos estudos de comparação direta) e bom perfil de segurança. Não obstante, como qualquer outra medicação, deve ser vendida sob prescrição médica. A venda sem prescrição deve ser desencorajada e vetada, e é função do profissional farmacêutico que atente à receita e siga os protocolos padrões da ANVISA.
Assim, diante da popularização do uso da semaglutida, por conta própria de forma espontânea sem indicação médica adequada, e do grande número de matérias produzidas na mídia a respeito do produto, a ABESO e SBEM vem a público de esclarecer que:
• Medicamentos para obesidade aprovados pela ANVISA tem sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas sim selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança.
• O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica.
Como adendo, lembramos que a ABESO e SBEM buscam melhorar o acesso a tratamentos da obesidade para a população geral, seja trabalhando para reduzir o preconceito com terapias para obesidade (medicamentosas ou não), como por buscar, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis a maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade.