Viver - Saúde

Nota conjunta da ABESO e SBEM à população sobre o uso da semaglutida no Brasil

30 de Março de 2023

Nas últimas semanas, diversas matérias têm saído em diferentes setores da imprensa do Brasil acerca do uso do medicamento semaglutida, para emagrecimento, inclusive com relatos de uso por celebridades

A ABESO e SBEM vem por meio deste esclarecer alguns pontos, que nem sempre ficam claros em matérias jornalísticas:

1) A obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento. O tratamento medicamentoso da obesidade, sempre em conjunto com estratégias de estilo de vida, é recomendando em diversas diretrizes de tratamento ao redor do mundo por aumentar a eficácia dessas estratégias. Como qualquer outra doença crônica, a manutenção da eficácia dependerá da manutenção do tratamento e é esperado que a recuperação de peso ocorra caso o tratamento medicamentoso seja abandonado. A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas sim em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta. Nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico.

2) Muitas matérias confundem e misturam o que é o tratamento sério da obesidade do que é o “desejo social de emagrecer”; o uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do que o tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida. Muitas matérias também questionam a necessidade de tratamento medicamentoso, com grande potencial de piorar o estigma da obesidade, ao tratar a doença como uma “escolha” e a medicação como uma “via fácil”. Tais matérias não se amparam no que melhor existe de evidências científicas sobre a doença.

3) A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg/semana. No Brasil, apesar de aprovada desde o dia 2 de janeiro, a dose de 2,4 mg ainda não está sendo comercializada. No momento, apenas a formulação aprovada para diabetes tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg está disponível no país. Assim, embora, a priori, o uso da dose de 1,0 mg seria considerado “off-label”, o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usado pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde. A grande procura e interesse 2 pela medicação que motivam essas matérias tem por razão a sua alta eficácia diante de outras medicações antiobesidade (embora existam poucos estudos de comparação direta) e bom perfil de segurança. Não obstante, como qualquer outra medicação, deve ser vendida sob prescrição médica. A venda sem prescrição deve ser desencorajada e vetada, e é função do profissional farmacêutico que atente à receita e siga os protocolos padrões da ANVISA.

Assim, diante da popularização do uso da semaglutida, por conta própria de forma espontânea sem indicação médica adequada, e do grande número de matérias produzidas na mídia a respeito do produto, a ABESO e SBEM vem a público de esclarecer que:

• Medicamentos para obesidade aprovados pela ANVISA tem sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas sim selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança.

• O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica.

Como adendo, lembramos que a ABESO e SBEM buscam melhorar o acesso a tratamentos da obesidade para a população geral, seja trabalhando para reduzir o preconceito com terapias para obesidade (medicamentosas ou não), como por buscar, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis a maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade.

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