O projeto une diferentes gêneros da música brasileira e traz Vanessa atuando como compositora, arranjadora, produtora e intérprete
Vem Doce” chega às plataformas de música nesta quarta, oito de março, dia internacional da mulher. O sétimo álbum de Vanessa da Mata é o encontro de grandes gêneros da música brasileira com elementos e ritmos modernos, somados à grande voz da artista. Forró, MPB, R&B, Pop e Trap são exemplos de sonoridades que a cantora explora em “Vem Doce”, mas sempre com a personalidade que composições de Vanessa carregam consigo. O resultado é um passeio musical guiado pelos vocais da artista, que levam o ouvinte confortavelmente por experiências diversificadas. As faixas “Vem Doce” e “Face e Avesso” ainda foram gravadas com afinação áurea, que usa a nota Lá em 432Hz como referência, ao invés da usual 440Hz. A frequência é conhecida por estar ligada a efeitos de paz, que desaceleram batimentos cardíacos e promovem harmonia.
Ouça o álbum: https://onerpm.link/vem_doce
Assista ao vídeo de Fique Aqui (feat. L7NNON): https://youtu.be/PLp-
“Em ‘Vem Doce’, eu queria o ponto de conversa e convergência entre duas naturezas. A mais pura, vista no extremo tropicalismo da manga, e a ampliada no sofisticado design brasileiro, representada no carrinho de Jorge Zalszupin, ambicionado no mundo todo, que está presente nas fotos do projeto. ”
- Vanessa da Mata
A Volta Da Filha Das Flores
Vinte anos após lançar o seu primeiro álbum, Vanessa da Mata ressurge mais segura, mais experiente, mais madura, mas com a mesma luz, a mesma leveza, o mesmo encantamento pelos pequenos milagres do cotidiano, e também pelas paixões, amores e pecados das pessoas comuns.
“Vem Doce” reúne treze canções. Há desde retratos de figuras do dia a dia, como a “amiga fofoqueira”, ou a “vizinha enjoada” (“Dona Maria / se é de dia ou de noite / Deus perdoe Nosso Senhor / se eu chego ou nem estou / ela reclama do passo que dou”), até histórias de vidas exemplares (ou nem tanto), como a dos dois irmãos gêmeos, criados por um pai sem amor. Há canções com vocação de intervenção social, como a excelente “Face e Avesso”, com uma letra aguçada, cortante e inteligentíssima, e há instantes de puro deslumbramento e poesia, como na belíssima “Menina”.
Para quem leu o romance de Vanessa, “A Filha das Flores” (e todos aqueles que apreciam a sua música deveriam ler), não surpreende encontrar nestas canções tipos humanos que são já figuras literárias. É Vanessa, a filha das flores, com o humor, a ironia debochada, a poesia e aquela alegria ancestral, tão profundamente brasileira, que tudo resgata e tudo salva.
São, afinal, as canções que o Brasil necessita neste momento: pequenos clarões sonoros, iluminando tempos ainda inseguros, mas de esperança e renascimento.
- José Eduardo Agualusa
“Vem Doce” é um banquete de sabores, tempos, sons e histórias. A experiente voz da artista flui com naturalidade por todos os gêneros explorados e funciona como elemento amalgamador da obra. Papatinho (Vem Doce), Jaques Morelenbaum (Foice), L7nnon (Fica Aqui) e João Gomes (Comentário a respeito de John) são algumas das participações especiais. O álbum também ganhará uma versão em Dolby Atmos para streaming na Apple Music e será lançado em vinil, ambas estarão disponíveis em breve. Confira a lista de faixas abaixo.
Faixa a Faixa por Vanessa da Mata
(Vanessa da Mata e Papatinho)
A música “Vem Doce” tem o tropical brasileiro inserido, imagens de um tema que sempre fomos. Somos doces, somos afetuosos, somos proveitosos do tempo que nos é dado. Tem no ritmo a riqueza do R&B abrasileirado, com guitarras oitavadas e swingadas de Maurício Pacheco, baixo bem marcado, preto, forte, de Magno Souza, teclados incisivos, de timbre complementar suave de Rodrigo Braga, respirando nos vocais, meus coros aproveitando memórias musicais de Hyldon, Cassiano, Tim, Djavan, Jorge Benjor. A música ‘Vem Doce’ surgiu a partir de um beat que o Papatinho fez e deixou no estúdio. A gente brincou um pouco e ele acabou deixando várias bases. Eu peguei essas faixas e fui fazendo música. No final, fiz 31 músicas em cima dos beats dele e “Vem Doce” é uma delas. Achei que poderia ser uma música importante para o disco, porque ela é diferente, mas tem minha assinatura. Tem leveza, mas, ao mesmo tempo, não. Tem a minha marca, meu estilo de composição e já diz ao que o disco pode influir. “Vem Doce” quer dizer: vem com tudo.
(Vanessa da Mata)
Essa música fala do sincretismo, dessa multiplicidade de religiões brasileiras, que é o psicólogo e sustentador dos aflitos. É sobre os mateiros, Pajés, pessoas que realmente conhecem as ervas, e uma tentativa intensa de se equilibrar no meio da zoeira, da falta de tantos tipos de perspectiva, do buraco existencial, do não combinado, do despreparado e do peso descompensado que pagamos nos impostos, sem termos quase nenhuma infraestrutura. Tudo isso sendo um fruto bizarro da incompetência política que vem se arrastando ao longo dos anos e que nos assola. Além disso, a educação cada vez mais desprezada, que gera todos os primitivismos, como racismo, homofobia, feminicídio, assassinatos e estupros dos indígenas, como se esses fossem sub-humanos, apenas por não viverem como nós, sem essa ambição desenfreada e louca. Tudo isso gera o não reconhecimento da nossa diversidade como riqueza e sim como se fossemos pulverizados, enfraquecidos por sermos plurais, sendo que, para mim e culturalmente, é o contrário. Essa música é um afrobeat e tem essa ideia de abordar os erros, angústias dos mais desejosos e, ao mesmo tempo, pedir forças para que esses erros não roubem mais tanto do nosso equilíbrio, harmonia e saúde cotidianos. O que é básico para muitos países, para nós, é ultraluxo.
(Belchior e José Luiz Penna)
Conheci recentemente o João Gomes, quando ele cantava minhas músicas e me chamou para cantar junto em seu DVD. Eu de cara percebi uma toada de aboio na voz dele. A tradição é muito forte em seu cantar. Quando ouvimos João Gomes, sem o ritmo do piseiro, ouvimos todas as influências tradicionais dos vaqueiros. Isso me agrada muito! Ele tem o timbre e a entonação de um senhor da tradição nordestina cantando, transparecendo suas influências nos aboios. Ele é fã de Belchior, eu também, tinha tudo para dar certo.
(Vanessa da Mata e Dom Lucas)
“Me Liga” é uma música minha e de Dom Lucas, de Brasília. É de uma temporada que eu passei em Brasília e me encontrei com esse compositor, originário do Reggae, que também é professor de música. A gente começou a fazer músicas e ele tem umas levadas maravilhosas. Fizemos juntos essa a canção, a parte da melodia é dele e acho que ela é muito gostosa. Tem a ver com o cotidiano brasileiro, com uma ideia de o que o telefone fez conosco, de já ser um apêndice, como se fosse um cordão umbilical que o ser humano depende completamente. Mas, principalmente, a música é sobre saudade, ela fala alegremente da necessidade de um reencontro.
(Vanessa da Mata e Ana Carolina)
Bom, quem nunca se arrependeu de dizer coisas no passado para alguém, né? Essa canção, “Eu Repetiria”, é uma parceria minha e de Ana Carolina. Nós somos bem amigas, então foi engraçado compormos, porque a gente quase não tem esse lado para trabalhar. A gente fica mais falando de bobagens e dando risada quando estamos juntas. Ela estava tocando uns ritmos no violão, me mostrou e eu fiz essa melodia e letra em cima, foi rápido e ótimo. Ela registrou, mas a música estava esquecida nas coisas dela. Um dia em que estava gravando, me lembrei dela e a Ana Carolina me mandou. A faixa estava praticamente pronta, não tinha mais nada a acrescentar. É uma música que reitera o que foi dito, que nesse caso é bom. Ela dá a receita de como voltar atrás, rejeitando a egotrip e conciliando, redizendo o que precisa ser dito.
(Vanessa da Mata)
Fogo é uma música que fala exatamente disso. É sobre os sinais que o desejo muitas vezes dá, que geralmente erramos, ou sinais que são certos e instintivamente a gente pega e continua uma história, uma sedução. Essa música é uma dúvida de que a pessoa pode estar ou não percebendo certo. É um Reggae gostoso.
(Vanessa da Mata e L7NNON)
“Fique Aqui” é uma música que eu já tinha feito e é bem forte. Uma vez encontrei o L7nnon no show do João Gomes e ele tem uma postura muito forte, uma voz personalizada, característica, identificável rapidamente. E eu tive a ideia de chamá-lo para acrescentar essa parte à música. Eu venho trabalhando com vários rappers há um tempo e acho que eles têm esse discurso muito próprio, rápido, não utilizando tanto melodia, que muitas vezes equilibra e contempla o meu jeito de cantar, minha maneira de fazer melodia. É outra faixa R&B, só que mais como canção brasileira.
(Vanessa da Mata)
Essa música é uma brincadeira com uma amiga que adora uma fofoquinha, mas uma fofoca saudável e que infelizmente partiu ano passado, minha amiga querida, Flávia. Acho que a síntese dela é essa coisa de brincar, de mandar um recado, de se divertir, que nós utilizamos de maneira leve, que é a fofoca. Ela vem bem com um arranjo que lembra Novos Baianos e tem um quê de Gil também, desse Brasil regado com ritmos nordestinos, que eu gosto tanto de usar.
(Vanessa da Mata e Ilan Adar)
Eu e o meu parceiro Ilan Adar estávamos de férias e ele tocava violão enquanto a filha dele dava um tempinho. Ele veio com esse mote principal da melodia, que é esse violão, essas notas que parecem uma coisa mais cubana. E a gente foi para esse lado com a música desde o começo. Ela fala de uma menina que é encantada pela rua e todas essas influências e é tolhida pela própria cultura de não ir para rua, de não ir para farra, de não fazer o que quer, de não ser livre. Vive encantada com a família, pede oração para madrinha. Mandei para Betânia e já tinha esse simbolismo, como ela era minha madrinha musical, de uma fala minha com ela, pedindo oração para sair da rua e ela me dando esses conselhos.
(Vanessa da Mata e Marcelo Camelo)
Um dia em casa estava ouvindo Marcelo Camelo, como eu gosto muito das coisas dele, comecei a ter uma ideia de melodia, enviei e ele fez a letra. É sobre uma menina que é completamente fascinada pela música e existe essa situação dessa pessoa olhar para ele e tentar chamar sua atenção.
(Vanessa da Mata)
“Gêmeos” é uma música que fala da constante condução e percepção do dia a dia. É sobre a luta contra padrões, ela questiona justamente essa situação cristã do livre arbítrio. Quando se nasce, essa frase é constantemente enfiada na sua cabeça, de que há um livre arbítrio. É uma luta constante sair do padrão do qual você nasceu. Então, é uma história contada a partir de dois gêmeos iguais, mas que, por percepções diferentes e por destruição ou não, tomaram decisões, iniciativas e foram levados por uma pulsão de vida e pulsão de morte. Isso vai até o fim da música, essa ideia cantada dessa maneira.
(Vanessa da Mata)
Bom, “Vizinha Enjoada”, quem não tem, né? Ainda mais, para quem mora em prédio, é uma coisa constante. A acessibilidade, a vida dura, a implicância do vizinho, todas as questões de relacionamento e educação que existem na vizinhança. Essas coisas que têm a ver com a gente, a vida social de uma sociedade como a nossa, que fala mesmo, que tem toda uma labuta, situações e festas. A gente é barulhento mesmo, faz churrasco, canta, alguns dormem tarde e essas pessoas todas reagem de maneira diferente. Essa vizinha existiu, não na minha vida, mas quando eu era criança. Hoje é minha amiga, mas era uma senhora muito difícil na época. Porque tudo que nós fazíamos, ela contava para minha avó, para os meus parentes. Ela era uma pessoa extremamente fiel à igreja, dogmas, mas não tão fiel assim com os meus filhos. É uma senhora que, como dizem os meus tios hoje, ensinou tudo a eles, quando eram jovens, sobre essa velha história da falsa moral, com a qual lidamos o tempo inteiro.
(Vanessa da Mata)
“Face e Avesso” é sobre o quanto ainda somos involuídos como sociedade, cidadãos, no quesito de educação, merecimento, estratégia, relacionamentos e respeito. Fala sobre a coisa do esconder situações, não admitir as feiuras, que também é uma maneira de passar por cima de tudo sem resolver. Acho três músicas desse disco têm esse outro patamar de seriedade, de denúncia dentro de um MPB. Eu já fazia críticas com força, mas não com esses ritmos, não com essa interpretação. Está bem mais madura e vai de encontro com todo o nosso desespero evolutivo, de querer um país de primeiro mundo, com qualidade em infraestrutura e possibilidade de felicidade.