O neurocientista Wellington Bruski explica como a participação em desafios e o excesso de jogos podem ser nocivos.
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Um assunto que tem causado preocupação e ganhado destaque, aparecendo no noticiário e até em novelas nos últimos meses, é o vício em jogos eletrônicos. Estudos recentes também vêm confirmando que a questão é, de fato, alarmante. De acordo com pesquisadores da Austrália e da Nova Zelândia, cerca de 2% da população mundial podem estar sofrendo com o vício em games. Diante disso, a OMS decidiu, em 2018, incluir o transtorno por uso de videogames em sua Classificação Internacional de Doenças (CID).
Em paralelo, outro problema são os “desafios” online que propõem atividades perigosas e têm levado, inclusive, a várias mortes. Na análise do neurocientista Wellington Bruski, essas questões são de fato graves e se inserem no contexto de uma “pandemia de doenças mentais”. “As famílias estão perdendo seus filhos”, exclama ele. Entenda a seguir.
Vício em jogos online: um risco para crianças e jovens
O especialista explica que o excesso de tempo dedicado aos jogos online pode trazer consequências graves para crianças e adolescentes, levando a comportamentos que geram isolamento social, discórdia familiar, depressão e até tendência ao suicídio, em casos mais extremos. O neurocientista considera, ainda, que um vício em jogos pode propiciar o surgimento de outras adicções ao longo da vida, se não tratado.
“Nos jogos, os jovens se sentem desafiados”, afirma Dr. Wellington. “O que acontece é que eles recebem uma descarga de dopamina que traz prazer. Então, eles acabam querendo aquele prazer cada vez mais, como se fosse uma droga. Isso acaba gerando picos de adrenalina e cortisol, que levam a um caso ansioso e depressivo”, explica.
Dr. Wellington Bruski também avalia que a pandemia de Covid-19 a consequente necessidade de distanciamento social teve um papel importante no surgimento desse vício em diversas pessoas. “Crianças e adolescentes não tinham o que fazer fora de casa”, lembra. “Quem não tinha um hábito de jogar porque os pais controlavam, passou a jogar mais porque esse era o único entretenimento possível. Aí pode surgir um vício, que permanece após a pandemia acabar”.
Desafios da internet podem levar a finais trágicos
Um perigo cada vez mais recorrente na internet, como lembra o Dr. Wellington Bruski, são os vídeos em que pessoas sugerem “desafios” perigosos, que podem, em muitos casos, levar até à morte. O neurocientista cita, por exemplo, um desafio recente em que jovens são incitados a inalar todo o conteúdo de um frasco de desodorante em aerosol. Dr. Wellington explica que, nesse caso, as substâncias presentes no desodorante chegam rapidamente ao cérebro e provocam graves danos, que já mataram diversas crianças. “Fica o alerta para os pais: cuidem muito do que os seus filhos estão fazendo na internet”, destaca.
O especialista explica, ainda, que o interesse por desafios perigosos está ligado a uma necessidade de autoafirmação, muito característica da adolescência. Também de acordo com ele, os desafios se tornam um problema ainda mais grave para crianças e adolescentes viciados em internet, pois estes passam muito tempo expostos aos conteúdos online e podem já ter a saúde mental comprometida.
Adultos também sofrem com o vício em jogos
Ao contrário do que muitos podem imaginar, o vício em jogos eletrônicos não é um problema específico de crianças e adolescentes, podendo afetar pessoas de todas as idades. O neurocientista Dr. Wellington Bruski pontua que, em adultos, a adicção pode se manifestar e maneira mais intensa e estar ainda associada a outros comportamentos nocivos, como o vício em apostas ou em redes sociais. “Isso é um problema muito grave porque os adultos não têm quem os regule. Se eles não buscarem auxílio, vão entrar num poço sem fundo”, afirma.
As consequências da dependência para adultos, como explica Dr. Wellington, são similares às observadas em crianças em jovens. No entanto, o agravamento de quadros de ansiedade e depressão pode deixar a pessoa incapacitada para trabalhar e cuidar da família, gerando danos ainda mais extensos. Quando associado às apostas, o vício em jogos pode levar, inclusive, à perda de patrimônio e grave descontrole financeiro.
Busca por tratamento é fundamental
Dr. Wellington Bruski destaca que é importante buscar o tratamento antes até de consequências negativas do vício aparecerem. “O viciado perde totalmente a noção de família, amigos, trabalho e compromissos. Ele começa a não cumprir com algumas obrigações devido ao vício. Pare para analisar e, se achar que há algum vício leve, já procure ajuda”, orienta. Ele também esclarece que os profissionais mais adequados para lidar com o processo são o psicólogo, o neuropsicólogo e o psiquiatra, que vão trabalhar questões que vão desde a dinâmica familiar até desequilíbrios químicos no cérebro.
O tratamento, segundo o neurocientista Wellington Bruski, depende principalmente da psicoterapia, que deve auxiliar numa mudança de hábitos. “Como superar este vício? Trocando fatores ambientais, ou seja: não se expondo a meios que me remetem a jogos”, explica. Em certos casos, medicação e internação psiquiátrica também podem ser necessários. “Busque sempre a ajuda de um profissional, pois ele vai conduzir a tua vida para onde ela tem que chegar”, ressalta o especialista.